Um segundo disco pode ser melhor que o primeiro? Um "dinossauro" ainda pode fazer a terra tremer? Alguém ainda se lembra de bandas oitentistas de heavy metal? Bem-vindo a mais uma edição Novidades musicais, desta vez apresentando os novos trabalhos de Franz Ferdinand, Paul McCartney, Twisted Sister e Mötley Crue.
You could have it so much better - Franz Ferdinand
Por Danilo Corci
Na história da música pop é muito comum bandas explodirem com um primeiro álbum, ganhando corações, mentes e ouvidos do público e crítica. Quando chega a hora da segunda exposição, todos, em geral, torcem o nariz. Surgem os comentários que talvez aquela banda não seja tão boa quanto imaginado. Então, na terceira tentativa, a banda rebenta de vez, só que agora no sentido negativo. O limbo tem um lugar reservado para ela.
Com este pano de fundo, a expectativa com o Franz Ferdinand estava dividida. Alguns esperavam a confirmação do talento do grupo, outros apenas aguardavam a consumação desta maldição pop. Pois com You Could Have It So Much Better acertou o grupo otimista.
Na verdade, nem os mais entusiasmados dos fãs poderiam conceber que este novo disco dos escoceses poderia ser superior ao epônimo lançado em 2004. Com aquela inspiração vinda das novas bandas de Nova York, o FF rompeu a fronteira do universo independente e se jogou de cabeça no mainstream, mesmo com um trabalho um tanto quanto irregular, pontuado por canções clássicas. Não à toa, "Take me Out" foi considerada um dos hits daquele ano. Mas com You Could Have It So Much Better, o grupo alça vôos mais altos, com um trabalho mais consistente.
A grande vedete deste álbum é que, finalmente, o baixista Bob Hardy, o guitarrista Nick McCarthy, o baterista Paul Thomson e o vocalista/guitarrista Alex Kapranos aprenderam a tocar muito bem. Mais. As influências de Orange Juice (a banda que projetou Edwyn Collins), Beatles, um pouco de David Bowie e, em especial, de Kinks estão mais depuradas, formando um conjunto perfeito. É rock pop em sua essência mais pura.
O disco abre com "The Fallen", um rock de guitarras cadenciadas, refrão pegajoso e baixo ritmado para segurar uma canção no formato clássico - menos de quatro minutinhos, em que Kapranos pede para ninguém julgá-los (sintomáticos, não?). Na seqüência vem "Do You Want To", primeiro single do grupo, candidatíssima a maior hit de 2005. O ar Kinks/Orange Juice permeia toda a canção, dando a sensação de túnel do tempo para boas épocas do rock. Segue "This Boy", em que os três acordes, duas estrofes e refrão mostram como a banda evoluiu na maneira formuláica de fazer música.
"Walk Away", um pouco mais tranqüila, remete diretamente ao pós-punk em sua essência. Mesmo com o vocalista gritando para se afastar, o vírus Franz Ferdinand, nesta altura, já espalhou irreversivelmente. "Evil & a Heathen" mistura barulho e simplicidade. "Youre The Reason Im Leaving" é outra forte promessa do disco. Não há dúvidas que tocará em todas as rádios por um bom tempo. Segue a mesma linha de "Do You Want To".
Já "Eleanor Put Your Boots On" é Beatles descarada. Ouça e confirme. "Well That Was Easy, outro rock já típico dos escoceses, não deixa de ser um tanto irônica. Parece que o grupo confirma que tudo foi muito fácil. "What You Meant" faz sua linha de "Walk Away", ou seja, Blondie e Orange Juice na veia, com tempero da turma de John Lennon. "Im Your Villan" talvez seja a canção que melhor demonstre esta evolução do Franz Ferdinand. Bem tocada, bem estruturada (baixo, guitarra, bateria e voz afinadas), a música poderia ser considerada a melhor do álbum - se fosse possível fazer tal escolha.
Fechando vêm "You Could Have It So Much Better", "Fade Together" e "Outsiders". A primeira faz o desembarque lá em 1978, com pitadas de Sham 69. A segunda, uma baladinha Beatles. "Outsiders" dá o fecho ao disco com todo o estilo que já criaram. Fica aquele gosto de começar a ouvir tudo imediatamente logo em seguida.
É cedo ainda para projetar o futuro do Franz Ferdinand, mas com este lançamento de seu segundo álbum de maneira apoteótica, não deixa de ser razoável imaginá-los como a primeira grande banda forjada na década 00. Se terão gás para o futuro, isso fica para uma próxima questão, mas é inegável que finalmente eles conseguiram entregar um disco rock/pop como há muitos anos não se ouvia em parte alguma. Até mesmo os mais ferozes críticos da banda se renderam numa primeira audição. A verdade é bem simples: é um discaço, que facilmente figurará na lista de melhores de 2005. Mas nem seria necessário. Basta ouvi-lo várias vezes para se pegar cantarolando todas as canções. E isto é raro, muito raro...
Chaos and creation in the backyard - Paul McCartney
Por Alexandre Nagado
O ex-beatle Paul McCartney é um homem apaixonado pelo trabalho. Está sempre compondo, gravando, fazendo shows e participando de projetos de caridade, como o Concert For George, o Band Aid e o Live 8, entre outros. Mesmo apoiado nos clássicos de sua banda mais famosa, está sempre com trabalhos novos para mostrar. Alguns podem achar que seu som é datado. Talvez seja um pouco (o que não é problema para quem se importa com qualidade), mas o trabalho de Macca é coerente aos seus princípios e a um estilo que ele próprio ajudou a definir.
Neste novo álbum, o cantor e multiinstrumentista foi dirigido pelo produtor Nigel Godrich, que já trabalhou com o Radiohead. Violões suaves e sutis efeitos eletrônicos dão ao álbum um clima hipnótico, inovador e ao mesmo tempo fiel às letras e melodias de um grande representante do rock clássico.
"This never happened before" é tocante e erudita, com Paul tocando piano como nunca. "Too much rain" tem uma letra que é uma ode ao otimismo, repleta de sabedoria. O refrão é cantado com muita emoção e tem-se a impressão de que a faixa poderia ter feito parte de qualquer álbum dos Beatles. "Anyway" tem ousadas mudanças estruturais, parecendo mais uma colagem de músicas diferentes. "Fine line" e "Jenny Wren", os singles que puxam o trabalho, talvez sejam mesmo as que têm maior potencial comercial, mas todo o tracklist vale uma conferida, pois não há músicas criadas apenas para se preencher o espaço de um álbum.
A voz de Macca, mesmo tendo ele passando dos 60 e fumado milhares de cigarros em uma vida que conheceu os excessos da década de 1960, continua incrivelmente suave. Ora cantando macio, ora mais forte ou usando seus famosos falsetes, ele mostra que está em grande forma. Talvez não em seu auge, mas ainda é capaz de superar a maioria dos nomes do atual cenário pop.
Still hungry -Twisted Sister
Por Rodrigo Piolho Monteiro
Se você curte rock e não esteve em Marte nos últimos vinte e poucos anos, já deve ter ouvido falar do Twisted Sister. A banda foi uma das precursoras do gênero conhecido como Glam Rock, que dominou o rock a partir da primeira metade da década de 1980. O estilo era caracterizado não só pelo rock descolado e cheio de letras que se focavam no tripé "sexo, drogas e rock and roll" (com um grande destaque para o primeiro), como também pela preocupação exagerada das bandas com seu visual. Na grande maioria delas, os membros vestiam-se quase como mulheres em um visual um tanto quanto andróginos. No caso do Twisted Sister, eles pareciam eram drag queens piradas mesmo, basta ver as roupas que usavam e o tanto que carregavam nas maquiagens.
Visual à parte, o Twisted Sister também se preocupava bastante com seu som, tanto que teve uma carreira relativamente bem sucedida naquela década. Seu maior sucesso se deu com o lançamento do álbum Stay hungry, de 1984, que trouxe algumas músicas que viraram clássicos instantâneos do rock, tais quais "Were not gonna take it" e "I wanna rock" e tornou a banda bastante conhecida mundialmente.
Três anos e dois álbuns depois, o grupo se desfez. Desde então, ensaiou-se um retorno que nunca acontecia. Felizmente, em 2004, talvez aproveitando a onda nostálgica relativa aos anos 1980 que tomou o globo e nem sempre produz bons resultados, o Twisted Sister resolveu voltar às atividades. Para esse retorno, o quinteto formado por Dee Snider (vocal), Jay Jay French e Eddie Ojeda (guitarras), Mark Mendoza (baixo) e A. J. Pero (bateria) optou por regravar seu maior sucesso antes de partir para novas músicas. O resultado é esse Still hungry, lançado recentemente por aqui.
Pelo fato de ser uma regravação, o álbum como um todo traz pequenas alterações em todas as músicas, especialmente nas baterias e nos solos de guitarra. A produção, dessa vez a cargo do baixista Mendonza, está mais limpa e a sonoridade mais direta e agressiva, o que contribuiu para melhorar ainda mais a qualidade do trabalho da banda. Além disso, o álbum traz ainda nada menos do que sete músicas bônus. "Never say never" e "Blastin´fast & loud" são sobras de estúdio das gravações de 1984 e foram regravadas especialmente para Still hungry; "Come back", "Plastic money", "You know I cry" e "Rock´n´Roll saviors" já são conhecidos dos fãs mais ardorosos, já que eram executadas pela banda ao vivo e podem ser encontrados em diversos bootlegs; finalmente, "Heroes are hard to find", música gravada em 2000 e que faz parte da trilha sonora de um filme chamado Strangeland, estrelado por Dee Snider, fecha o álbum.
Still hungry cumpre com louvor a tarefa não só de apresentar o Twisted Sister para uma nova geração, quanto de anunciar aos antigos fãs que a banda está de volta chutando traseiros.
Red, White & Crue - Mötley Crue
Por Rodrigo Piolho Monteiro
Se tem uma banda que consegue ser tão famosa pelos escândalos em que seus membros se envolvem quanto por suas músicas é o Mötley Crue. Overdoses, acidentes de carro, confusões domésticas e períodos na prisão são coisas comuns na carreira da banda. Teve até um de seus integrantes que estrelou involuntariamente um filme pornô que ficou bem famoso na internet. Não é à toa que seus membros foram apelidados de "os bad boys do rock and roll" antes mesmo da expressão "bad boy" se popularizar e perder seu significado original.
Com um bom tempo de carreira em seus ombros, a banda surgiu em 1981, quando o baterista Tommy Lee e o baixista Nikki Sixx se reuniram para iniciar um novo grupo de rock. A eles se juntariam o vocalista Vince Neil e o guitarrista Mick Mars. O primeiro álbum do quarteto, Too fast for love foi lançado de forma independente e chamou a atenção da Elektra Records. Acabaria sendo relançado, com uma produção mais limpa e uma grande divulgação.
Em 1983, com o álbum Shout at the devil, o Mötley Crue começa a conhecer o sucesso. O álbum emplaca vários hits, dentre os quais se destacam "Looks that kill", "Too young to fall in love" e "Ten seconds to love", que fazem com que o álbum alcance o disco de platina. O sucesso continuaria ao longo dos anos 80, nos álbuns Theatre of pain, Girls, girls, girls e no aclamado Dr. Feelgood.
A década de 1990 seria tumultuada. Integrantes sairiam, voltariam, seria presos e, no total, apenas três álbuns inéditos, todos detonados pela crítica, seriam lançados. Uma série de coletâneas também chegaria ao mercado.
Recentemente a formação original do Motley Crue se reuniu e, para celebrar o fato, lançaram mais uma coletânea, intitulada Red, White and crue, que acaba de chegar ao Brasil. O estranho é que a versão tupiniquim é meio que uma coletânea da coletânea, já que lá fora Red, White and crue é um álbum duplo e aqui saiu como um único CD.
Red, White and crue não traz muitas novidades. Tem duas músicas inéditas, "Sick love song" e "If I die tomorrow", algumas raridades e remixes para as clássicas "Home sweet home" e "Too young to fall in love". No mais, o restante da coletânea traz algumas das músicas que fizeram a carreira da banda, abrangendo faixas de todos os seus álbuns de estúdio. São músicas cheias de energia, algumas com refrões grudentos e outras empolgantes.
Apesar dos pesares, Red, White and crue é um álbum interessante para aqueles que não conhecem o Mötley Crue e gostam de um hard rock vibrante e cheio de energia. Os fãs antigos, no entanto, podem se decepcionar pela escassez de novidades do álbum.