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Aleluia, irmãos! - eu vi Eric The God Clapton

Aleluia, irmãos! - eu vi Eric The God Clapton

MF
12.10.2001, às 00H00.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 05H04

Quinta-feira, 11 de outubro de 2001.

Andando em direção ao estádio Paulo Machado de Carvalho, o famoso Pacaembu, era possível ver homens e mulheres. Alguns de mãos dadas, outros, em grupos. As idades e sotaques também variavam. À véspera de um feriado religioso, enquanto as marginais paulistas estavam congestionadas, a multidão só queria uma coisa: ver deus!

O altar montado era grande. Nele, o objeto cultuado parecia não ter mais do que 2 cm. A energia emanada em forma de som, no entanto, era de uma potência inexplicável e chegava a ser onipresente e contagiante. Olhando com atenção era possível perceber que a barba por fazer pouco lembrava o rosto de outros tempos.

Trajando camisa azul marinho, uma calça igualmente escura, sapatos bege e um par de óculos ovalados, Ele começou seu ritual tocando Reptile numa versão bossa nova do jeito que a invenção brasileira pede: banquinho e violão e com direito a um trechinho desafinado de João Gilberto. Ao final desta introdução ouviu-se em alto e bom som o seu conhecido thank you seguido de um inesperado obrigado. Os fiéis foram ao delírio. O set acústico teve seqüência com I got you on my mind e Tears in Heaven, canção que lembra a passagem de sua vida em que perdeu seu filho e enxergou a alma mais pura do Blues, a melancolia e a tristeza. Na despedida do violão, entoou Change the World.

Com a sua cobiçada Stratocaster à tira colo veio Father´s Eyes e a lenda passou a se tornar verdade na frente de milhares de pessoas. A guitarra chorava em suas mãos. Não porque era maltratada, mas sim pelo carinho mútuo que existia ali. Em certas horas, Ele tentava fingir um desdém, largando o braço da sua companheira. Eles estavam só fazendo uma cena. Seus corpos não deixavam de se tocar um só instante.

A raiz blueseira de Hoochie Coochie gritada na voz rouca fez muito marmanjo arriscar movimentos de air guitar, a arte de tocar guitarra sem estar segurando uma. O ápice do culto foi o hino nada sacro Cocaine. O lado pecador de quem cobiçou a mulher alheia veio em seguida com Wonderful Tonight e Layla duas baladas feitas para a ex-senhora George Harrison.

No bis, um pouco do crème-de-la-cream: Sunshine of Your Love. O show acabou um pouco antes da meia noite e ficaram faltando After Midnight e I Feel Free, mas sinto-me livre para dizer que com a versão de Somewhere Over the Rainbow (o clássico de O Mágico de Oz), eu saí de lá caminhando por tijolos de ouro. A expressão deixar nas mãos de deus ganhou ali um novo significado.