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Esquadrão Suicida e problema do universo cinematográfico da DC

Cronograma da Warner Bros. virou uma bola de neve; seria Geoff Johns a solução?

04.08.2016, às 16H48.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H42

Em 2012, enquanto a Marvel concretizava o seu plano de um universo cinematográfico com Vingadores, Christopher Nolan encerrava a sua trilogia sobre o Homem-Morcego e a Warner Bros. ganhava um problema: sua próxima adaptação da DC deveria iniciar uma nova franquia dentro da nova tendência, com uma realidade compartilhada entre filmes.

Homem de Aço (2013) nasceu com essa missão, mas ficou aquém da expectativa do estúdio. A visão sombria de Zack Snyder para Superman faturou US$ 668 milhões mundialmente, uma cifra positiva, mas abaixo do valor da marca de um dos heróis mais conhecidos da cultura pop. No mesmo ano, Homem de Ferro 3 faturara US$ 1,2 bilhão mundialmente e Thor: O Mundo Sombrio chegava a um total arrecadado de US$ 644 milhões. Ainda assim, Homem de Aço fez quase o dobro que Batman Begins (US$ 374 milhões arrecadados mundialmente em 2005), o que indicava um começo promissor para a nova fase da DC no estúdio. 

Seu sucessor, Batman Vs Superman: A Origem da Justiça (2016), pretendia concretizar esse universo cinematográfico. A ideia, nascida dias antes do seu anúncio na San Diego Comic-Con 2013 (saiba mais), tinha como objetivo reunir os heróis mais conhecidos da DC e criar a base para a Liga da Justiça, levando ao filme do grupo e aos filmes solos dos seus integrantes. Apesar da arrecadação aparentemente positiva, US$ 872 mundialmente, o longa ficou mais uma vez aquém da expectativa do estúdio, que esperava receber boas críticas e faturar facilmente US$ 1 bilhão (como fizera O Cavaleiro das Trevas em 2008).  

As atenções se voltaram para Esquadrão Suicida. A produção assinada por David Ayer, também arranjada rapidamente (entenda aqui), parecia ser a peça que faltava à DC para conquistar o grande público nos cinemas. Os trailers prometiam subverter o gênero dos super-heróis, a trilha sonora era cativante e as frases de efeito indicavam humor. O verdadeiro filme de Ayer, porém, não carregava o otimismo das prévias. Segundo o Hollywood Reporter, em uma atitude um tanto desesperada, a Warner procurou a Trailer Park, empresa responsável pelo segundo teaser, para ajudar na criação de uma versão mais “solar” do longa (saiba mais).

A crítica não comprou a estratégia, destruindo mais uma vez um título da DC/Warner por sua falta de coesão. Com uma lista de cenas que estão nos trailers e não estão no filme (veja aqui), Esquadrão Suicida escancara a falta de planejamento e controle do estúdio. Como um roteiro, cujo tom havia sido aprovado pelo presidente da Warner Bros. Greg Silverman e pelo CEO do estúdio Kevin Tsujihara, precisa depois passar por tantas mudanças, incluindo custosas refilmagens? Como o Coringa de Jared Leto, que tanto causou durante as gravações (saiba mais), teve tantas cenas cortadas? Tudo indica que, com a decepção por Batman Vs Superman, o estúdio perdeu a confiança no material que tinha em mãos. Acabou com um filme picotado, com vislumbres do seu potencial e um sentimento geral de desperdício.

Fiz o filme para pessoas reais no mundo real. Fiz o filme para pessoas que realmente amam filmes e vão ao cinema. O filme é muito divertido e os fãs vão gostar disso”, rebateu Ayer sobre as críticas. Ou seja, a expectativa está na resposta do público. Afinal, a montagem do longa que está nos cinemas foi a vencedora nas sessões-teste. Há cor, músicas pop e frases de efeito suficientes para conquistar a audiência necessária para fechar ou superar os US$ 750 milhões que tornariam a produção lucrativa.

Se a bilheteria responder como esperado, a DC, mesmo a contragosto da crítica, terá finalmente encontrado a sua resposta. Do contrário, Esquadrão Suicida apenas repassará a missão de atender o potencial desse universo cinematográfico para Mulher-Maravilha, o próximo lançamento do selo, previsto para junho de 2017. Se falhar novamente, a responsabilidade passa para Liga da Justiça, previsto para novembro do mesmo ano. A necessidade de recriar rapidamente o "modelo Marvel" e um excesso de confiança inicial gerou esse efeito bola de neve. Na Sony, o fracasso do segundo Espetacular Homem-Aranha levou ao caos, com estúdio cancelando seu terceiro longa e passando meses de incerteza, jogando para todos os lados (entenda), até encontrar um norte na parceria com o Marvel Studios. Já a Warner não tem mais como reiniciar a sua franquia, mesmo que seus produtos não cheguem ao resultado esperado.

Além de Mulher-Maravilha e Liga da Justiça, o estúdio já trabalha nos filmes solo de Batman (com Ben Affleck na direção), Aquaman (de James Wan) e The Flash (de Rick Famuyiwa), em um cronograma oficializado na última San Diego Comic-Con. Esse universo precisa funcionar. A versão “leve” de Esquadrão Suicida foi um tapa-buraco motivado por expectativas de mercado. A derradeira solução passando pela reestruturação da DC Films. Geoff Johns, chefe criativo da editora, e Jon Berg, o vice-presidente executivo da Warner, assumiram os filmes de super-heróis da casa depois que Charles Roven, produtor intimamente ligado a Batman Vs Superman e Esquadrão, foi afastado. O efeito esperado é o mesmo causado por Kevin Feige no Marvel Studios ou John Lasseter na Disney Animation: uma renascença criativa - leia mais.

Essa centralização em Berg e Johns, que agora é também presidente e chefe criativo da DC Entertainment, é fundamental para um planejamento consciente da franquia. Isso não significa ter o controle absoluto da visão de seus cineastas, mas preparação. A Warner precisa saber o que quer desde o início e acreditar nas suas ideias. Sem versões estendidas, sem montagens alternativas, sem soluções de último minuto, sem querer ser o que não é. Os heróis da DC merecem chegar ao seu verdadeiro potencial nas telas.