Ms. Marvel/Marvel Studios/Reprodução

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Ms. Marvel encontra novo aliado e mais respostas em quarto episódio acelerado

Conforme Kamala Khan revisita sua história, MCU fala também da formação do Paquistão

29.06.2022, às 11H31.

“O que você procura procura você”. Somente no episódio dessa semana de Ms. Marvel, intitulado “Visão Vermelha”, Kamala Khan (Iman Vellani) descobriu o que diz a inscrição no seu bracelete. Porém, verdade seja dita: talvez esse seja seu mote já há muito tempo. Desde que adquiriu seus poderes, a adolescente vive em meio a interrogações, e sua vocação para heroína é apenas uma delas. Há, sim, dúvidas sobre se um dia estará à altura de lutar lado a lado dos Vingadores, mas é evidente que a busca da adolescente é mais profunda. É sobre suas raízes e como elas definem quem ela é. A inscrição, portanto, explica a visão que encerrou o episódio anterior, isto é, o emblemático trem onde sua avó Sana (Samina Ahmed) milagrosamente encontrou o pai no meio de todo o caos da Partição. Trata-se da materialização tanto da sua busca por respostas a respeito do passado da sua família, quanto um chamado para conhecer suas origens. Não por acaso, o bracelete a conduz de volta ao passado no final de “Visão Vermelha” — um gancho surpreendente em vários níveis, diga-se de passagem. Mas não sem antes dar chance para Kamala ter importantes reencontros familiares, descobrir nuances sobre o conflito contra os Clandestinos e, é claro, acelerar sua trama colocando seus poderes em uso.

Depois de receber o convite para visitar Sana no Paquistão, Kamala e Muneeba (Zenobia Shroff) partem para Karachi, onde as duas se sentem como peixes fora d’água. Enquanto a adolescente experimenta um choque cultural diferente do que está acostumada — ali, ela é a americana, e por isso é zoada com frequência pelos primos e outros personagens —, Muneeba revive os conflitos com a mãe que a impulsionaram a se mudar para os Estados Unidos. Isso porque, enquanto Kamala leva a sério a história fantástica da sua família, a ponto de ter dificuldade de aceitar que é uma criatura (supostamente) assustadora como os Djinn, sua mãe vê tudo isso com descrença. Para Muneeba, Sana é louca, e essa sua disposição para teorias mirabolantes foi a razão para seu pai ter deixado a casa.

Mesmo entre passeios turísticos e conversas francas em família, a aspirante a heroína consegue encontrar tempo para buscar respostas na cidade. Sua primeira parada não poderia ser outra senão a estação de trem das histórias da sua avó. Ultrapassando os limites do que está disponível ao público, Kamala encontra não apenas um graffitti do Homem-Formiga — aparentemente, o podcast do Scott Lang (Paul Rudd) é muito popular no mundo pós-Blip —, como também um novo aliado: o Adaga Vermelha (Aramis Knight).

O título, apesar de retirado nos quadrinhos, foi repaginado para o MCU, como aconteceu também com os Clandestinos. Aqui, em vez de identificar um indivíduo apenas, ele designa um grupo que rivaliza com Najma (Nimra Bucha) e companhia — e há muito tempo. Sua missão é impedir que os Clandestinos rompam o Véu Noor que divide a nossa dimensão da deles, e permite que ambas coexistam sem interferir uma na outra. Sem essa proteção, a dimensão Noor simplesmente destruiria a outra por completo.

É verdade que Kamala e o Adaga Vermelha não começaram sua aliança do modo mais amigável possível, mas bastou que ele descobrisse que a jovem é descendente de Aisha — mãe de Sana que, como vocês lembram, teria traído os Clandestinos e escondido o bracelete deles — para que ele passasse a confiar nela. “Visão Vermelha” não deixa claro o que a bisavó da Ms. Marvel tem a ver com os Adagas Vermelhas, mas fica subentendido que, no mínimo, ela trabalhava com eles para impedir os planos de Namja.

Paralelamente a todas essas descobertas, os Clandestinos, até então sob custódia do Departamento de Controle de Danos depois do caos no casamento de Aamir (Saagar Shaikh) e Tyesha (Travina Springer), conseguem escapar. Namja os lidera para uma nova investida contra Kamala, mas deixa Kamran (Rish Shah) para trás e ferido. “Ele fez sua escolha. Agora tem que viver com ela”, justifica a matriarca, se referindo à decisão dele de alertar a colega de escola sobre o ataque. É perceptível como dói no adolescente ouvir essas frases, mas certamente ele saiu ganhando. Isso porque o grupo praticamente todo mundo morre no novo embate contra Ms. Marvel e seu aliado — embora os dois também vejam a baixa do líder dos Adagas, Waleed (Farhan Akhtar). A luta, porém, é interrompida quando Namja acerta sua lâmina no bracelete de Kamala e a adolescente é levada para o trem que trouxe sua avó para Karachi.

Se ela efetivamente viajou no tempo ou se teve uma visão muito verossímil do passado, somente o episódio da próxima semana de Ms. Marvel poderá dizer. Contudo, o momento termina por sedimentar uma constante em “Visão Vermelha”: os comentários sobre a colonização. A história de Kamala e a Partição — isto é, a divisão que deu origem aos Estados hoje conhecidos como Índia e Paquistão, em meados da década de 1940 — estão conectados de modo muito significativo, e a escolha de fazê-lo não é nada banal.

Ora com muito coração, ora com bom humor, a série do Disney+ tem usado a jornada de Kamala não apenas para representar com respeito e precisão a cultura paquistanesa, como tecer críticas a preconceitos e fatos históricos problemáticos. Dessa vez, porém, Ms. Marvel foi mais dura — e com razão. Em uma conversa com a avó, Kamala ouve, por exemplo, como a busca dos paquistaneses por sua identidade está atrelada à uma ideia que “um velho inglês teve fugindo do país”. Já na companhia do Adaga Vermelha, quando a jovem questiona a cor da comida chinesa que estão comendo, ela ouve à contragosto se os americanos fizeram whitewashing até nisso — um comentário irônico, mas longe de injusto. Em outras palavras, conforme a heroína entende tudo o que compõe a sua ancestralidade, o espectador também é posto para questionar as representações mainstream da cultura muçulmana e, por que não, as aulas de História que tiveram na escola.

Essa postura da Marvel é um tanto surpreendente, porque, por mais que esteja agora se propondo a incluir mais diversidade no seu universo, até aqui poucas produções foram tão diretas como Ms. Marvel. Até por isso que a série se destaca tanto das demais: o MCU e seu futuro são muito pequenos perto do que ela representa de fato.

Ms. Marvel é exibida às quartas, no Disney+.