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Mangás e Animes

Crítica

Demon Slayer chega a seu momento mais extravagante no Distrito do Entretenimento

Apostando em um visual incrível e lutas épicas, anime se torna a maior atração da temporada de inverno

15.02.2022, às 19H05.
Atualizada em 17.02.2022, ÀS 17H58

Após o sucesso estrondoso da primeira temporada, os fãs de Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba ficaram impacientes por uma nova leva de episódios, até a chegada de uma temporada em formato de filme em 2020: Demon Slayer: Mugen Train Movie. No ano seguinte, saíram o Arco do Trem Infinito, com lançamento seriado, e o então inédito Arco do Distrito do Entretenimento, que agora se encerra como o ponto alto da temporada de inverno de 2022. Como a maioria das obras shonen, a trama de Koyoharu Gotoge aposta em histórias genéricas bem escritas, com batalhas épicas como atração principal.

No Arco do Distrito do Entretenimento, para salvar as assistentes de Shinobu Kocho, a Pilar dos Insetos, o protagonista Tanjiro Kamado e seus amigos Inosuke Hashibira e Zenitsu Agatsuma se voluntariam para uma missão secreta ao lado do Pilar do Som, Tengen Uzui. Juntos, o trio precisa se infiltrar no distrito de Yoshiwara, uma cidade noturna que gira em torno da prostituição. Lá, eles descobrem que a cidade é controlada por uma dupla de irmãos onis, Daki e Gyutaro, que juntos representam a Lua Superior Seis, ou seja, o sexto capanga mais poderoso do grande vilão Muzan Kibutsuji. Os jovens caçadores, Nezuko Kamado e as três esposas do Pilar do Som precisam lutar juntos para salvar a cidade.

Do mesmo modo que Gotoge trabalha em um universo onde sexo não é uma pauta cotidiana entre os personagens, nesse arco ela cria uma temporada inteira situada em uma cidade que vive da reputação de suas cortesãs e centrada em um herói que mantém um relacionamento saudável com três mulheres. É interessante ver como uma construção não impede a outra — pelo contrário, se encaixa muito bem. Esse é o ponto mais extravagante de Demon Slayer até aqui, porque após dois anos apostando no básico o anime entrega pela primeira vez algo verdadeiramente excepcional.

Como sempre, os vilões importantes têm suas histórias contadas antes de morrer, e a das Luas Superiores Seis se mostra a mais profunda até aqui. Criados na parte mais pobre de Yoshiwara, o irmão mais velho se tornou um assassino que cobrava clientes caloteiros, enquanto a irmã entrou para a prostituição ainda na adolescência. É com essas histórias que a autora humaniza seus personagens e tenta mostrar que sua história não é apenas um shonen com boas lutas, mas em muitos momentos a sensação que fica é a de que poderíamos mergulhar mais fundo.

A história modula tons distintos para evitar manter o ritmo por muito tempo; cenas tristes são rapidamente sobrepujadas por momentos cômicos e as lutas passam por momentos alegres, tensos e até flashbacks melancólicos. Essa receita é o que entrega ao anime um tom hilário característico que o vem diferenciando dos demais — apesar de acabar utilizada também para justificar soluções rápidas. Assim, a história se torna desobrigada a firmar um compromisso com grandes explicações.

Com três arcos de sucesso, Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba tornou-se rapidamente um dos animes mais populares dos últimos anos e cativa até mesmo quem não tem contato com o universo das animações japonesas. No Arco do Distrito do Entretenimento, o anime se prova popular e carismático acima de tudo, e mostra que, mesmo crescendo na segurança do básico, consegue atingir níveis mais complexos em sua trama. O pouco desenvolvimento individual dos personagens, que muitos consideram uma falha, é compensado por confrontos eletrizantes entre vilões e mocinhos — o que boa parte do público espera ver. Com humor, drama, e um tempero diferente, a temporada consegue entreter do início ao fim.

Nota do Crítico
Ótimo