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Bastard!! (Netflix/Divulgação)

Mangás e Animes

Crítica

Bastard!! aposta no pastiche em nome de sexo, magia e rock n’ roll

Anime tira sarro de si mesmo enquanto exalta o machismo e a galhofa

03.10.2022, às 20H11.

Quando a nova versão de Bastard!! foi anunciada, muitos fãs que já conheciam o teor de machismo galhofeiro do mangá e do anime noventista se perguntaram como a Netflix adaptaria a história para a correção política de hoje. A resposta vem com um anime que não se preocupa com essas convenções e segue o que ditou o original. Baseado na obra de Kazushi Hagiwara, o novo anime não se esforça muito para alcançar a qualidade dos principais títulos lançados nesse nicho pela própria Netflix em 2022. Bastard!! confia no seu público de sempre, com muitas cenas de ecchi (a nomenclatura do anime “obsceno”) e magias com referências de metal.

Na primeira temporada, vemos que o cenário medieval do anime vem após o declínio da sociedade contemporânea. Os humanos sucumbiram à ganância e ao ódio e esses sentimentos acumulados deram vida à deusa da destruição Anthrasax, posteriormente derrotada por um ser divino. No futuro distópico em que o anime se passa, o Exército Rebelde das Trevas quer ressuscitar essa deusa para dominar o mundo.

Para realizar esse plano, eles precisam recuperar as chaves dos lacres que selam a entidade maligna, então atacam o Reino de Meta-llicana, na Área central do Continente Metallion. Para salvar o reino, Yoko, filha do Sumo Sacerdote, ressuscita o lendário mago das trevas Dark Schneider, que também já tentou dominar o mundo, mas agora está selado no corpo de uma criança. A partir daí, a história começa a se centrar unicamente no protagonista.

Antes de focar em magias e rock n’ roll, o anime se joga no ecchi e dá destaque para as investidas misóginas do mago, que tem sempre algo extremamente imoral para dizer para as mulheres — que facilmente se dobram às vontades de Dark Schneider após alguma resistência. O anime alimenta um clima de falsa tensão antes das cenas mais picantes, o que pode afastar a audiência feminina, ainda que a narrativa seja desenhada para os homens, ou pelo menos o público masculino estereotipado que a paródia de Bastard!! abarca.

Ainda assim, talvez não seja o excesso de ecchi que faz a classificação de Bastard!! ser para maiores. Com suas magias poderosas, Dark oblitera seus inimigos, deixando seus cadáveres com aparências que justificam a censura etária. Mas o chamariz das habilidades de Dark não é a força, e sim as várias referências ao universo do rock. Feitiços como “Helloween”, “Black Sabbath”, “Judas Priest” e outros estão em seu grimório, e a essência de pastiche do metal dos anos 1980 - década em que o mangá foi publicado originalmente — e o jeito punk do protagonista dão uma energia mais animada à nova versão do anime.

O ponto forte da trama é que ela constrói bem o clima de galhofa, sem se preocupar em assumir qualquer compromisso com uma história coesa e épica. A premissa é simples e os acontecimentos também. A todo momento Dark Schneider deixa claro para o espectador o que ele está consumindo: uma história derivada de um mangá shonen. Repetidas vezes ele caçoa dos inimigos dizendo que “protagonistas bonitões não morrem” e que personagens secundários são facilmente descartados.

Errando conscientemente, Bastard!! ignora qualquer demanda social por correção política. O anime não se preocupa em apresentar um universo bem formulado nem mesmo em contar uma história coesa. Foca suas energias em sexo, magias poderosas e referências ao metal, na crença de que esses lugares-comuns da masculinidade se sustentam só pelo pastiche, mas a animação não inova nem proporciona o tal gosto nostálgico dos animes noventistas que poderia emular.

Nota do Crítico
Ruim