Do início ao fim, Sam Smith tinha estampada na cara uma expressão de surpresa. Parecia difícil de acreditar no volume dos gritos e como o público brasileiro conhecia tão bem suas músicas. “Realmente acredito nisso: o Brasil é o melhor público do mundo. Muito obrigado por me trazer de volta. Amo vocês e volto quantas vezes quiserem”, disse na abertura, quando já caíra a noite no Autódromo de Interlagos.
Antes de subir ao palco Onix, Smith começou o show com uma mensagem no telão: “vamos desligar nossos telefones hoje. Estamos tão perdidos ultimamente, nós esquecemos quem somos”. O apelo foi em vão, mas por um bom motivo. Enquanto a multidão de fato erguia seus smartphones para fazer incansáveis stories, também usavam suas lanternas para compor com a apresentação incrível que estava em curso.
Neste Lollapalooza, o britânico confiou no público com se fosse um membro da sua banda - que, por sinal, é talentosa por si só. Ora com palmas, ora cantando as letras até dos covers, os presentes garantiram a satisfação do headliner, que claramente se divertiu tanto quanto os presentes. A estratégia, obviamente, foi acertada: ninguém conseguiu ficar parado.
Logo, para quem temia uma performance melancólica, com base nas músicas que se costuma ouvir dele nos rádios, teve a grata surpresa de um setlist bastante equilibrado. Smith chamou o público para curtir com “Dancing With a Stranger”, que originalmente é acompanhada pela Normani, mas também sofrer por um coração partido e cantar a plenos pulmões com “Lay Me Down” e “Too Good at Goodbyes”. É interessante também como ele conciliou faixas de diferentes trabalhos, incluindo “Nirvana”, canção de um dos seus EPs, e covers do Disclosure.
Em um dia com manifestações políticas do público, Sam Smith foi breve no seu discurso sobre diversidade. “Amor é amor. Sou um homem gay com orgulho. Se vocês têm orgulho de quem são levantem as mãos”, disse durante “HIM”, que teve uma performance com clima gospel. Recado dado, o show seguiu sem mais delongas.
Sem deslizes, o cantor mostrou a força da sua voz e soube ressalta-la muito bem nas faixas mais emocionantes. Mas a imagem que fica mesmo de Sam Smith ao final do show é a de sua descontração e o clima dançante que criou desde o princípio. Distante do Brasil desde o Rock in Rio 2015, o retorno ao país se provou benéfico tanto para Smith, quanto para o público. Quem sabe ele não volta mais rápido?