Música

Entrevista

Inspector Cluzo: antes do Lollapalooza, duo francês explica relação com a música

Músicos são adeptos da filosofia "faça você mesmo"

04.04.2019, às 12H40.
Atualizada em 04.04.2019, ÀS 14H37

"Nós, o povo do solo, temos que sentir o tempo todo". A frase do Inspector Cluzo, que compõe a faixa-título do seu último álbum, We The People Of The Soil, define muito bem o que define o duo francês. Formado por Laurent Lacrouts e Mathieu Jordain, o Inspector Cluzo é adepto da filosofia "faça você mesmo", e divide suas atividades entre música e agricultura durante o ano todo. 

Eles são fazendeiros, compositores e produtores além de serem seus próprios agentes e representantes, atividade que já os levou para mais de 52 países e mil shows em 10 anos de de carreira. Agora, antes de tocar no domingo do Lollapalooza, os músicos conversaram com o Omelete sobre o gerenciamento da sua carreira e o seu relacionamento com a música. Confira abaixo. 

Vocês podem contar um pouco sobre o começo da carreira de vocês? O que veio primeiro, a música ou agricultura?

Antes de mais nada queremos elogiar vocês pelo fantástico nome Omelete! Nos lembra dos nossos ótimos omeletes com ovos orgânicos.

Na verdade, nós dois crescemos em famílias de agricultores. Nós costumávamos ver nossos avôs trabalharem, vivendo felizes em um mundo no campo. Então começamos a estudar, fizemos faculdade em Bordeaux, e nos conhecemos estudando física. Nós começamos a fazer música juntos. Então a internet veio ao campo e nós decidimos morar em Gascony, porque não gostamos de cidades. Nos sentimos oprimidos. Nós precisamos ver o horizonte. Ser parte da natureza.

Então o Cluzo começou a ir bem e começamos a viajar por outros países. Vimos os desastres ecológicos causados pela globalização da economia e decidimos aprender, como nossos avôs, a nos alimentar da nossa própria terra. Nós crescemos, compramos uma fazenda chamada Lou Casse e restauramos e trabalhamos nela por seis anos de trabalho. Então decidimos nos tornar fazendeiros profissionais. Nós sempre fizemos parte deste mundo, mas a emergência criada pelo aquecimento global e desastres ecológicos nos fizeram agir pelo futuro. E não apenas falar sobre isso.  

Vocês passam seis meses na fazenda e seis meses na estrada. Como aguentam tudo? Nunca tiram férias?

Olha, no fim das contas é o que deveria ser seis e seis meses. Mas é mais 3 semanas de turnê e daí 2 de cultivo. 1 mês de turnê e depois 1 mês na fazenda. Nossa programação segue as estações. Existem períodos do ano que não podemos fazer turnê e chegamos a recusar oportunidades. Por exemplo, depois do Brasil, temos que voltar em abril para plantar milho e todas as nossas sementes orgânicas. Nós não descansamos e não precisamos, na verdade. Porque é um equilíbrio de vida perfeito.

O cultivo é sua maior inspiração para letras e temas de música? O que mais inspira vocês?

Sim, além de viver no meio da natureza, animais, vegetais, ver como eles se comportam, ouvir os pássaros. Tudo isso é muito inspirador. Este ritmo real da natureza é mais lento que nossa vida moderna (com mensagens e tweets a cada segundo), mas quando você segue o ritmo da vida, você se sente bem. Então você escreve músicas e se distancia de tudo... Mas precisa caminhar lentamente para seguir o tempo natural da vida.

E em termos de outros artistas, quem influencia vocês? O que vocês ouvem hoje em dia?

Nós amamos qualquer músico REAL. Música orgânica, do tradicional ao country e o blues, funk americano, folk, rock... Mas precisa ser autêntico e sem falsidade. Sem faixas eletrônicas e computadores. Só música ao vivo tocada com coração e talento.

Vocês são seus próprios agentes, gerentes e representantes. Podem nos contar como vocês chegaram ao Lollapalooza? Como se sentem quando chegam a um festival assim?

Nada mudou na verdade, tudo só ficou maior, com mais entrevistas e mais trabalho para se preparar. Muito mais gente pedindo coisas. Mas é tudo a mesma coisa.

O Lollapalooza 2019 acontece no Autódromo de Interlagos em São Paulo em 5, 6 e 7 de abril.