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Korea
Crítica

Filme de G-Dragon é retrato espetacular de um anti-popstar

“Rei do k-pop” tem pouco do que costuma consagrar artistas no gênero

3 min de leitura
30.10.2025, às 06H30.

Créditos da imagem: Cena de G-Dragon in Cinema [Übermensch] (Reprodução)

Byun Jin-ho já está acostumado a trabalhar com G-Dragon. O cineasta, responsável pelo novo G-Dragon in Cinema [Übermensch], assinou também BigBang Made: The Movie (2016), filme-show do grupo de k-pop que revelou o artista, e Kwon Ji-yong Act III: Motte (2018), investida anterior de G-D no cinema. E essa cumplicidade entre performer e diretor está à plena vista em Übermensch, especialmente nos únicos momentos – perto do final da metragem – em que G-Dragon tira alguns segundos para conversar com o público.

Essa sequência, em especial, é recortada furiosamente por Byun, alternando entre os discursos que G-D fez nos dois shows iniciais da Übermensch World Tour, realizados em dias seguidos do mês de março deste ano no estádio de Goyang (Coreia do Sul). O filme não faz questão de esconder a manipulação, e nem conseguiria: em uma das falas, G-Dragon está de pé atrás do microfone, e em outra está sentado diante dele. A alternância entre os dois monólogos é um pouco desorientadora, mas Byun opta por ela para colorir corretamente a articulação única de seu sujeito.

G-Dragon, veja bem, é um artista (e um indivíduo) único – não à toa, um de seus principais hits solo é “One of a Kind”, cujo título reflete o ethos que o coroou como “rei do k-pop”. Até por isso, talvez os seus discursos façam mais sentido “remixados” do que tocados da forma convencional. Não há ninguém como G-D. Essa é, de fato, toda a graça de G-D.

Übermensch triunfa como filme porque é um retrato preciso de uma singularidade artística. Quando G-Dragon surge, ao som de “Power”, é em um tom de soberba controlada – e Byun reflete isso dando rasantes pelo palco megalomaníaco montado no estádio de Goyang, com uma passarela larga o bastante para um desfile de escola de samba se estendendo até a metade da plateia no chão. Cercado por um time de 20 e poucos (ou mais, não parei para contar) dançarinos, G-D quer fazer um show de estádio que mereça o nome, um espetáculo populista para celebrar quase duas décadas de #1 nas paradas.

O clima de comício continua por um tempo, com uma bagatela de participações especiais e uma mistura habilidosa de hits antigos e faixas do (excelente) álbum mais recente do cantor, mas aos poucos fica claro que a postura de G-D não é a de um popstar comum, muito menos na indústria sul-coreana. Inclassificável, ele toca em muito do que faz um idol – certa androginia, certa pose emprestada do hip hop estadunidense, certa dedicação à sincronia coreografada –, mas em doses homeopáticas, temperadas com um charme retraído que é todo seu. O andar curvado, os gestos nervosos, a voz rasgada que parece sair com muito esforço, enfim: tudo que é de se esperar dele.

Ademais, há algo de mistério no G-D que vemos em Übermensch, de um artista que aprendeu o que e como compartilhar com o público. Quase 20 anos depois de sua estreia com o BIGBANG, e um período quase igual como o artista solo mais emblemático da sua indústria, é de se esperar que G-Dragon tenha construído salvaguardas entre as identidades que maneja em cima do palco e fora dele. Übermensch, no fundo, é um testemunho de um artista em paz consigo mesmo, e plenamente consciente de que ninguém está lhe assistindo por algo que não seja ele mesmo.

É uma visão rara no mundo pop, e bastante prazerosa também.

Nota do Crítico

Excelente!

G-Dragon in Cinema [Übermensch]

2025
106 min
País: Coreia do Sul
Direção: Byun Jin-ho
Elenco: G-Dragon