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Korea
Artigo

Bon Appétit, Vossa Majestade é a excelência em k-drama

Hit da Netflix é bem atuado, entende seus temas e tem altíssimos valores de produção

4 min de leitura
25.08.2025, às 14H34.
Atualizada em 28.08.2025, ÀS 10H35

Créditos da imagem: Cena de Bon Appétit, Vossa Majestade (Reprodução)

Que revelação é Lee Chae-min. Em Bon Appétit, Vossa Majestade, o novo k-drama da Netflix, o jovem ator - que está somente em seu segundo protagonista na TV após Hierarchy, também da plataforma, em 2024 - interpreta Lee Yi-heon, um rei que governa a Coreia do Sul (na época, ainda chamada de Joseon) com punho de ferro. O monarca só encontra alegria na caça e vê a produção de um herdeiro como um dever que ultrapassa até a dignidade de seus súditos; por isso, expulsa camponeses de suas casas numa enorme região ao redor do palácio para que ela sirva como sua floresta de caça particular, e obriga todas as mulheres do reino a se apresentarem para ele como potenciais concubinas.

O personagem, enfim, não é o mais simpático de todos. E não se engane: Bon Appétit, Vossa Majestade não está disposta a pegar leve com ele só porque quer retratá-lo como protagonista romântico. No roteiro, assinado sob o pseudônimo fGRD e inspirado na web novel de Park Kook-jae, o reino de Joseon está em frangalhos por conta das políticas cruéis do seu governante, um grupo de intelectuais planeja cuidadosamente a sua deposição, e ele não parece se importar muito com nada isso. Lee Chae-min encarna este homem desconectado de sua humanidade com poucos rodeios, recorrendo a um meio-sorriso de escárnio frio e sem humor que nem os piores vilões do mundo do k-drama poderiam emular.

Mas nessa altivez existem rachaduras, é claro. A câmera do diretor Jang Tae-yoo (Meu Amor das Estrelas, Céu Vermelho) o observa com bastante interesse para encontrar essas quebras, quando elas surgem, e Lee aproveita bem cada oportunidade - até mais do que os pontuais flashbacks da série ou a narração em off que traz para a série o monólogo interno de seus personagens, é o rosto do ator que nos deixa ver a verdade deste homem machucado, suas prioridades invertidas e seu medo de “descer do salto”. Não que a gente o perdoe por tudo (pelo menos, não por enquanto), mas Lee garante que nós o vejamos, e comecemos a intuir como é possível virá-lo do avesso para que se construa um romance.

A saber, o par do rei déspota em Bon Appétit, Vossa Majestade é Yeon Ji-yeong (Im Yoo-nah, integrante do Girls’ Generation e estrela de Sorriso Real), uma chef talentosa do século XXI que, às portas de conseguir o emprego dos seus sonhos em um restaurante premiado, se vê transportada no tempo para a dinastia Joseon. Acontece, é claro, que o rei gelado Yi-heon tem um único ponto fraco: o estômago. Gourmet incorrigível, herança de sua mãe deposta quando ele ainda era criança, o monarca entra em conflito imediato com a recém-chegada, mas também se vê intrigado pelo seu talento culinário. Já dá para pegar a ideia - eis aqui um romance em que duas almas perdidas (uma literalmente, outra figurativamente) encontram o caminho um para o outro. E o caminho passa pela cozinha.

Também é fundamental que Bon Appétit, Vossa Majestade entenda os temas que se ramificam a partir dessa premissa. Seu retrato das dificuldades enfrentadas pelas personagens femininas, dentro e fora da corte, é afiado e evita julgamentos fáceis - essas mulheres, independente de suas posições sociais, parecem sempre estar em busca de caminhos para subverter a ordem, e a série não condena nenhum deles. Adicione aí o tempero leve de um humor de peixe-fora-d’água fácil, executado com carisma pela protagonista Im Yoo-nah, e você tem uma receita que pode não revolucionar a roda, mas alimenta bem quem está a procura de boa dramaturgia.

Excepcionais, mesmo, são os valores de produção que o Studio Dragon e o diretor injetam no título. Quando se aproxima de seus voos de fantasia,  do dinamismo necessário para uma cena de ação, ou da necessidade de evocar texturas, cores e cheiros em suas sequências culinárias, Bon Appétit brilha tanto pela qualidade dos efeitos, fotografia e montagem, quanto pela sabedoria na hora de usá-los. Há um charme folhetinesco específico que todo k-drama romântico, não importa quão prestigiosamente produzido, precisa encontrar, e Jang Tae-yoo sabe exatamente como encontrá-lo. Dá-lhe transições em crossfade, sequências em tela verde imbuídas com uma qualidade levemente irreal, e até um uso de miniatura descarado no primeiro episódio.

Esta é uma superprodução, enfim, mas nem por isso precisa perder aquele ar de caos criativo que faz dos k-dramas uma obsessão tão compulsiva para os fãs. A excelência do “gênero” na atualidade está aí, no equilíbrio entre colher os frutos de se infiltrar no mainstream e continuar sendo pura subversão.

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