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Resenha: Ultimate Marvel Magazine 1

Resenha: Ultimate Marvel Magazine 1

13.02.2001, às 00H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H40
Marvel Comics – série regular

80 páginas coloridas no formato 18,6 X 27,8 cm

Finalmente, ela chegou! A revista que, segundo o presidente da Marvel Bill Jemas e o editor-chefe Joe Quesada vai revolucionar o mercado de HQs norte-americano! Será verdade&qt;& Estarão os americanos entrando em uma nova era em que as HQs voltarão a ser compradas nas bancas pela população em geral, em vez de adquiridas em lojas especializadas por uma meia dúzia de fanáticos, como é atualmente&qt;& Ou Ultimate Marvel Magazine é um esforço condenado ao fracasso&qt;& Bem, isso só o futuro pode dizer.

A primeira coisa a ser notada na revista é o formato. Uma das justificativas da Marvel para ele é que os gibis normais ficariam “perdidas no meio das outras publicações nas bancas” (imagine se fossem em formatinho...). A justificativa soa meio estranha com a revista nas mãos, pois ela é apenas um pouco maior do que uma HQ americana comum, sendo menor do que a Time e muito menor do que o formato “magazine” clássico, usado na revista Veja ou em Espada Selvagem de Conan. Devo dizer que a revista ainda se perde no meio das outras publicações. Eu apenas a encontrei por um golpe de sorte, misturada com várias outras HQs americanas importadas, na prateleira uma grande livraria daqui do Rio de Janeiro. E devo dizer que ela não se destacava do resto...

Afora esse pequeno detalhe, os valores de produção da revista são bem razoáveis, com o papel igual ao das revistas Premium da Abril (que são superiores em todo o resto...). Custa US$ 3,99 para 70 páginas de histórias – o número de páginas, anunciado na capa com toda a pompa e circunstância, provocaria riso em qualquer leitor de HQs de fora dos EUA, acostumado a 80+ páginas de HQs por edição... –, preço que faz mesmo as Premium parecerem baratas (160 páginas pelo equivalente a 5 dólares)! Mas, para padrões dos EUA – míseras 22 páginas de história por US$ 2,50! –, é um ótimo preço...

E quanto ao conteúdo&qt;& Bem, a revista inclui as duas primeiras edições de Ultimate Spider-Man, que é uma versão “atualizada” do bom e velho Homem-Aranha. Como a primeira edição tinha o dobro de páginas do normal, isso equivale a três revistas americanas comuns, uma quantidade razoável para leitura. As histórias são assinadas por Bill Jemas (o presidente da Marvel. Ele pode escrever uma HQ&qt;&) e Brian Michael Bendis no roteiro e Mark Bagley (conhecido aqui por seu trabalho no Homem-Aranha “normal” e na série Thunderbolts) na arte, fazendo o que é, sem dúvida, o melhor trabalho de sua carreira. As capas das edições compiladas não estão incluídas, embora sua capa seja a mesma de Ultimate Spider-Man 1 (seria tão caro ter encomendado uma capa nova&qt;&).

A história em si é uma versão mais “aprofundada” da origem da personagem. Alguns coadjuvantes que só surgiriam posteriormente no Homem-Aranha “clássico” estão aqui desde o princípio, como Norman e Harry Osborn - com cabelo de gente! - e Mary Jane Watson, aqui uma colega de classe de Peter Parker com tendência a se tornar sua namorada no futuro.

A origem mudou bem pouco em relação à versão original. Peter ainda é picado por uma aranha (não uma radioativa, mas sim uma contaminada por uma droga experimental) durante uma excursão da escola. O que realmente mudou foi a forma da história ser contada, com a equipe alongando (até demasiadamente!) situações que originalmente foram bem mais curtas. Para se ter uma idéia, ao final da revista o Tio Ben ainda está vivo e Peter Parker sequer pensou em usar um uniforme de super-herói! Este é, na minha opinião, o principal pecado da história. O público pagou para ver o Homem-Aranha e a personagem – Homem-Aranha, não Peter Parker! – sequer aparece! Péssima idéia. Teria sido mais inteligente colocar o Aranha nas primeiras páginas e contar a história como flashback. Como está, a história é mais interessante para os leitores que conhecem bem a personagem e vão curtir as referências à cronologia “normal”.

E existem muitas. Norman Osborn, o Duende Verde na continuidade normal, tem suas tendências maléficas mostradas logo no início e é responsável indireto pelo surgimento do Homem-Aranha. A personagem está muito bem caracterizada, mas fica difícil imaginar esta versão de Osborn colocando uma roupa ridícula de duende e saindo por aí voando em cima de um morcego mecânico para jogar abóboras explosivas no Homem-Aranha... O Dr. Octopus faz uma pequena ponta, ainda sem seus tentáculos, como um dos cientistas que trabalham para Osborn. O indispensável Flash Thompson também aparece, como sempre hostilizando Peter Parker.

O mais interessante nesta versão é, quem diria, o Tio Ben, que aqui tem uma caracterização muito mais completa do que jamais tivera, certamente para aumentar o efeito dramático de sua morte inevitável! Chamam a atenção por sua ausência Liz Allen – única outra colega de escola de Peter na continuidade normal, onde era namorada bissexta de Flash Thompson e atraída por Peter – e todo o elenco de apoio do Clarim Diário – J. Jonah Jameson, Betty Brant, Joe Robertson, etc.

No geral, é uma versão interessante (embora extremamente lenta) da origem do Homem-Aranha. Embora seja mais diferente da versão original de Stan Lee e Steve Ditko do que a versão mais recente (Gênese, de John Byrne) - até por não procurar seguir a cronologia do personagem ao pé da letra - ela tira vantagem disso para criar situações novas e interessantes e assim reduzir um pouco a previsibilidade da história. A trama compartilha alguns defeitos da versão original – o acidente que provoca o surgimento dos poderes do personagem continua sendo muito forçado – e mesmo da versão de Byrne – um vilão é o causador do aparecimento do Aranha...; fora estes, possui alguns problemas próprios – a lentidão no desenrolar e a relativa inacessibilidade para leitores ocasionais. Por outro lado, as personagens são bem mais desenvolvidas do que em qualquer versão anterior (o ponto positivo da narrativa mais lenta) e a arte de Bagley, em excelente forma, é vastamente superior à da versão original de Steve Ditko e mesmo comparável à da versão mais recente de John Byrne! Ela também tem a melhor explicação de como um estudante colegial desenvolveu o fluido de teia que o Homem-Aranha usa. Ele teria sido criado pelo pai de Peter, que nesta versão é um cientista morto em um acidente de avião antes de terminar suas experiências.

Fora a HQ, a revista contém algumas matérias sobre os filmes da Marvel em desenvolvimento (curtas e dispensáveis), muitos anúncios de produtos da empresa (inclusive um mal planejado anúncio de uma cópia da espada do Blade, que é uma arma real e pouco recomendável para ser anunciada em uma revista para crianças...) e uma pequena (e inútil) matéria sobre HQs. Conteúdo muito pobre, ainda mais se comparado às matérias que aparecem, por exemplo, nas revistas européias de HQ. Mas como é a primeira edição, esse tipo de coisa é perdoável, no futuro o nível das matérias deve melhorar (Tomara!).

Nota Omelete
Três ovos

No geral, uma edição apenas razoável contendo uma boa história (criada por uma equipe tremendamente talentosa!), mas que é prejudicada pelo fato de ser direcionada para um público totalmente diferente daquele que realmente deveria comprar a revista. Pode até emplacar, mas dificilmente chegará aos milhões de exemplares vendidos que povoam os sonhos de Quesada e Jemas.

Para ler as primeiras edições de Ultimate Spider-Man e tirar seu próprio julgamento, siga este link.