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Aqui Dentro

Edição da coluna destaca apenas álbuns nota 5 Ovos!

15.08.2007, às 00H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H39

Por Érico Borgo

Alguns anos atrás, eu aproveitava qualquer viagem para o exterior para voltar carregado de quadrinhos. Afinal, ninguém sabia ao certo o que sairia aqui - e como seria publicado. Há três semanas estive na Meca nerd, a Comic-Con 2007, e comprei pouquíssimos quadrinhos. Quase nada... só algumas poucas edições pra completar coleção. Será que passei de fanático consumista de quadrinhos a mão-de-vaca? Nada disso. É que simplesmente parou de compensar comprar HQs lá fora (e arrastá-las na mala pesada), já que caminhões de bons títulos estão chegando às nossas bancas e livrarias - com qualidade no nível, ou até melhor, que os originais!

Prova disso são as edições que analisaremos neste Aqui Dentro especial, dedicada a verdadeiros objetos de desejo da Nona Arte que acabam de chegar ao Brasil - todas nota CINCO OVOS! Confira:

Biblioteca Histórica Marvel

A Panini Comics demorou, anunciou esses títulos faz tempo, mas só agora eles começam a chegar. E a espera compensou. A série Biblioteca Histórica Marvel reúne as primeiras aventuras de algum personagem ou equipe, recolorizadas (sem as retículas típicas da década de 1960), com acabamento impecável: papel LWC, lombada quadrada costurada e capa dura (mesmo, nada daquele cartão que costumam empurrar como "capa dura" por aí)

A edição do Homem-Aranha reúne em 252 páginas a primeira história do aracnídeo de todos os tempos, em Amazing Fantasy 15, e a série que se seguiu ao sucesso daquela aventura de origem, Amazing Spider-Man (edições 1-10). Já Quarteto Fantástico tem uma história a menos (o grupo já começou em sua própria revista), mas algumas páginas a mais. A publicação, com 260 páginas, reúne as edições 1 a 10 da clássica Fantastic Four, de 1961.

Essa é uma coleção que merece seu espaço na estante, não só pela qualidade, mas por tratar-se de um registro histórico maravilhoso. É sensacional ler as primeiras aventuras de Stan Lee (que assina todas as introduções) e notar como ele, apesar de sua notória verborragia, aliado aos talentos gráficos dos lendários Jack Kirby e Steve Ditko, tinha um poder de síntese narrativa invejável. Bastam cinco páginas para a origem do Quarteto ser detalhada e apenas onze para o Aracnídeo ser criado - mas essas duas histórias seguem perfeitas até hoje, 40 e tantos anos depois.

O preço pode assustar numa análise superficial (as duas custam, em média, 60 reais), mas se considerarmos que qualquer romance em preto e branco, com papel comum e capa cartonada, está na faixa dos 40, 50 reais, acredito que a indústria gráfica devia é aprender com as editoras de quadrinhos e cobrar preços condizentes com o que estão comercializando.

(Fantastic Four 1-10) Panini Comics. Volume 1, formato americano, 260 páginas, papel couchê, colorido, capa dura, R$ 65,00. Compre aqui.

(Amazing Fantasy 15, Amazing Spider-Man 1-10) Panini Comics. Volume 1, formato americano, colorido, capa dura, 252 páginas, R$ 57,00, papel LWC. Compre aqui.

A Saga do Monstro do Pântano

Igualmente perfeita é a edição da Pixel Media para A Saga do Monstro do Pântano, a antológica entrada de Alan Moore na série do personagem. O trabalho do inglês à frente do elemental super-heróico não apenas mudou os rumos da DC Comics (a série tornou-se uma espécie de embrião do selo Vertigo), mas também as próprias histórias em quadrinhos, injetando nelas uma bem-vinda dose de realismo.

Aliás, esse rompimento com os colantes coloridos é especialmente notável na primeira história dele, publicada aqui pela primeira vez na edição. Na página 10 o Monstro do Pântano faz algo raríssimo nas HQs: procura o corpo de seu inimigo tombado - e o encontra. "E agora... você está morto. Morto de verdade". Em uma página, o roteirista já deixa claro que não está ali para seguir tendências, vícios da indústria, mas para chacoalhar um universo.

A edição tem duas introduções, uma pelos editores da Pixel - como já é costume nas revistas da editora - e outra por Alan Moore, que explica toda a história até ali e situa os leitores dentro daquele universo. O álbum reúne as edições 20 a 27 de Swamp Thing, com capa dura, papel couché e 196 páginas. Proporcionalmente, o preço de capa (R$ 54,90) é ligeiramente superior ao dos álbuns da Panini, mas a tiragem provavelmente é inferior, pela menor abrangência da obra, o que encarece as edições. Uma pena, pois o Monstro do Pântano de Moore devia ser conhecido por todos os apreciadores de arte. Qualquer arte.

(Swamp Thing 20-27) Pixel Media. Volume 1, formato americano, capa dura, colorido, 196 páginas, R$ 54,90, papel couchê.

Os Supremos - Edição Definitiva - Série Limitada

Se Os Supremos é o filme de super-heróis que Hollywood ainda não conseguiu fazer, Os Supremos - Edição Definitiva é a chance de vê-lo no cinema. E sem gente te chutando a cadeira.

O formatão maior que o convencional (18,5 x 27,5 cm) amplia a arte embasbacante de Bryan Hitch e o arco completo de histórias elimina todos aqueles inconvenientes atrasos de publicação. Mark Millar fez simplesmente uma das melhores aventuras de todos os tempos em Os Supremos e ler o primeiro volume num só fôlego é sensacional.

Esqueça aquele lamentável desenho animado que a Marvel lançou baseado nesta edição. Millar fez história aqui e aquele DVD safado não tem nada a ver com a bem amarrada e adulta trama. E tem a surra do Capitão América no... bom, não vou estragar surpresas pra quem não leu, mas o Capítulo Nove sozinho já merece toda a pompa da edição, com capa dura, papel LWC e lombada quadrada costurada.

Uma edição com capa cartonada - e o mesmo conteúdo - também está disponível, por R$ 54,90.

(The Ultimates 1-13 + extras) Panini Comics. Edição especial, formato 18,5 x 27,5, 374 páginas, papel LWC, colorido, capa dura, R$ 79,00 (compre aqui em promoção por R$ 57,90).

Epiléptico 1

Ok, a edição nacional de Epiléptico (LAscension du Haut Mal) não tem todo o apreço gráfico das citadas acima, mas nem precisa. Trata-se de uma das melhores e mais poderosas autobiografias em quadrinhos já escritas.

David B. relata como foi crescer numa França interiorana numa família vítima do preconceito e ignorância. Seu irmão mais velho, Jean-Christophe, sofre de epilepsia, o que faz com que eles sejam mal-vistos no local e partam para uma verdadeira peregrinação em busca de uma cura. Em seu caminho, charlatães, fanáticos, médicos, mestres e muito sofrimento.

O autor transforma as memórias da infância numa espécie de realismo fantástico metafórico, com as criaturas de sua imaginação, seu apreço por batalhas medievais e talento para a arte servindo como ponto de equilíbrio em meio a tudo aquilo. Os traços dele e a narrativa simples e direta são cativantes e, em certos momentos, muito emocionantes.

O diferencial da edição nacional - que segue o já conhecido e apreciado padrão de qualidade da Editora Conrad - fica por conta da opção editorial de reunir toda a série (originalmente lançada na França em 6 volumes), em apenas dois livros. Acertadíssimo... seria doloroso demais ter que aguardar tantos capítulos do drama pessoal do autor e sua família.

(LAscension du Haut Mal) Conrad Editora. Formato: 21 x 27 cm. 176 páginas. Preto e Branco. R$ 44,90. Compre aqui.

Red Rocket 7 - A Saga do Rock

Mike Allred, o criador de Madman e escritor famoso pelas séries X-Force e X-Statix, faz uma viagem pela história da música em Red Rock 7. Quer dizer, da música não... do bom e velho rock´n´roll.

Com seu estilo totalmente pop art (algo que as cores de Laura Allred, sua esposa, evidenciam), o desenhista e escritor não poupa referências ao mundo do rock: São personagens, imagens, símbolos, letras de música... sacar todas é quase impossível, tarefa para historiador... talvez por isso o editor da Devir - sempre tão dado a colocar suas explicações especializadas de referências junto à arte - tenha ficado quietinho no seu canto dessa vez. Fez bem.

A edição é quadradona, evocando uma capa de LP (é jovens leitores... long play, seu pai deve ter alguns por aí...), aliás, evocando A capa de LP: Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, verdadeira obra-de-arte no formato, cada vez mais valorizada, nesses tempos de música digital, sem embalagem, sem personalidade.

Na trama, um alienígena fugitivo chamado Red Rocket faz uma aterrissagem forçada na Terra. Antes de morrer, recebe de seu guarda-robô sete clones, para garantir que sua linhagem continuasse a existir. Cada um deles recebeu uma característica especial da sua personalidade, e Red Rocket 7 desenvolveu sua criatividade - e a paixão pela música, algo que ele persegue desde a década de 1950 até o final do século 20.

A edição caprichada tem como extras galerias de capas e pin-ups, além de uma "galeria de coisas legais" (fotos e ilustrações com breves textos explicativos), biografias, uma introdução camarada do cineasta Robert Rodriguez, textos sobre alguns dos personagens retratados no álbum e uma "legenda" da capa, com os 80 nomes que ali aparecem.

(Red Rocket 7) Editora Devir. Formato: 25,5 x 25,5 cm. 216 páginas. Colorido. R$ 60,00.