The Good Doctor/Divulgação

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The Good Doctor | 2º ano retorna de hiato com episódio preso na zona de conforto

Seriado volta com tensão acumulada mas soluções pouco inventivas

16.01.2019, às 18H45.

A primeira temporada de The Good Doctor estreou cheia de boas expectativas, com ideia interessante que trazia à tona uma perspectiva nova sobre séries médicas: ter um autista trabalhando diretamente na residência de um hospital. Além disso, Freddie Highmore havia sido escolhido para protagonizar a produção e, depois do trabalho do rapaz em Bates Motel, todos já sabiam que ele era capaz de dar conta de mais um personagem de características incomuns. Em meio a uma quantidade absurda de dramas médicos – e com a soberania incontestável de Grey’s Anatomy – o que todos esses novos trabalhos precisavam ter era o mínimo de diferencial, um ponto de vista que fosse na contramão do óbvio.

Em seus primeiros episódios a série realmente tentou mostrar a que veio. Shaun (Highmore), o residente autista, enfrentou uma série de problemas reais dentro do novo ambiente, como colegas hesitantes, agressivos, bullying e descrença dos pacientes. Havia um prenúncio de problemas na forma frouxa com a qual as tramas paralelas eram abordadas, na maneira como os outros médicos e residentes do hospital pareciam vagar pela dramaturgia sem uma posição clara. Sabíamos que muitos episódios viriam pela frente (um problema ainda nas redes de TV aberta) e que em algum momento os roteiristas iam precisar abandonar o tema “o autista chegou e não o aceitamos” para “o autista faz parte da nossa rotina e deixa de ser só um autista”. Uma transição necessária e que precisa ser feita com inteligência. Contudo, quando a série chegou em sua segunda temporada o nome de seu criador começou a ser sua maior dificuldade. 

David Shore ganhou fortuna e prestígio com House, que em perspectiva, tinha quase a mesma premissa de Good Doctor - mas, tudo bem, séries médicas todas tem quase a mesma premissa. O problema é que, sobretudo nessa primeira metade da segunda temporada, tudo que The Good Doctor consegue é ser um procedural parasitando o legado de House, quando a responsabilidade de explorar o desajuste de Shaun passa a ser a responsabilidade de contar sua rotina de um jeito minimamente interessante.

The Boring Doctors

Antes do hiato a série tinha um arco central focado em dois seguimentos específicos, a doença de Glassman (Richard Schiff) e o retorno de Lea (Paige Spara) - as duas tramas, inclusive, se esforçando muito para fazerem diferença no produto final. No caso da doença de Glassman, o recurso dramático é simplesmente uma forma de manter o ator relevante na série, sem que ele seja só um interlocutor para Shaun. O câncer é o coringa preferido dos roteiristas para agradar atores antes que eles percebam que não tem mais função numa história. Ainda que Glassman não sobreviva a ele, a trama é tão absolutamente paralela que não interferirá em nada no andamento da série.

Já a presença de Lea continua sendo controversa. Antes, ela era só a vizinha do protagonista, mas foi embora repentinamente e retornou da mesma maneira súbita. Então, parecia que seria um interesse amoroso de Shaun, passando logo depois a ser só a sua colega de quarto. Essa posição amigável torna Glassman ainda mais irrelevante para Shaun, já que ela pode oferecer uma perspectiva social mais condizente com a atual realidade do amigo. Entretanto, os roteiros tem tanta dificuldade de ajustarem esses elementos de forma coesa, que a sensação é que The Good Doctor está sendo escrita enquanto está sendo exibida.

Em "Quarentine Part Two", o episódio de retorno do hiato, uma grande tensão está estabelecida por conta dos eventos da parte 1. A dificuldade de contar histórias frescas é tanta que os envolvidos não se acovardam em escrever o tão famigerado episódio clássico da doença mortal que ameaça o hospital. A cartilha é seguida à risca, com médicos se infectando por contato com pacientes, quarentena de elenco de apoio e drama excessivo através de riscos de morte que não se concretizarão.

É bacana ver como os colegas de Shaun já entendem como ele deve ser tratado, mas tudo isso fica em terceiro plano, em meio a tantas coisas com as quais é difícil se importar. Falta carisma em todo o elenco e nessa segunda temporada, a série está mais procedural que nunca. 

Mesmo assim, ainda é um sucesso. Como com todo procedural que consegue captar a atenção do público, em dado momento tudo entra no automático e vira um lugar confortável, em que o entretenimento não tem a função de provocar e sim de relaxar. Não há nenhum problema nisso, o que significa que The Good Doctor pode ter muitos e muitos anos pela frente sem nunca ser ameaçada por sua falta de inventividade. É uma série mediana, de eventos medianos, personagens medianos, ações medianas e que mesmo naquele abraço final trocado entre Shaun e Glassman, não arranca emoções que possam ir além do simples mediano.