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Crítica

Silent Hill f conta história simples de forma inteligente e aterrorizante

Game usa violência e agonia como recurso narrativo enquanto foca em dramas comuns

5 min de leitura
22.09.2025, às 04H01.

No cinema, não é incomum que o horror seja usado como ferramenta para histórias variadas, sem se ater apenas à brutalidade ou sustos. Nos games, o gênero tem se popularizado, e ainda que haja algumas dores de crescimento, eventualmente somos recompensados com narrativas verdadeiramente criativas. Faz todo sentido que uma dessas esteja nas mãos da Konami, que reforça sua boa fase com Silent Hill f.

O jogo segurou muitas cartas em sua mão durante o ciclo de lançamento, com trailers cada vez mais enigmáticos, mas ainda conquistando com uma atmosfera hostil e estética impecável. Esses pontos fortes são mantidos na versão final, que mesmo ao subir seus créditos ainda deixa vários mistérios nas mãos do jogador.

Divulgação/Konami

Controlamos Hinako, uma jovem colegial japonesa que, depois de mais uma briga com seus pais, sai de casa para respirar um pouco de ar fresco. Ela encontra alguns de seus amigos pela rua, como o galã Shu e a simpática Sakuko, mas não demora até que tudo se desgrace completamente.

Uma névoa espessa, que traz consigo um mar de flores vermelhas, começa a se espalhar pelas ruas e Hinako precisa fugir. Sem olhar para trás, ela se separa dos amigos e o jogo começa o seu loop central.

Silent Hill f segue a tônica do que passamos a esperar de grandes jogos da franquia, equilibrando o terror de sobrevivência com uma forte presença de puzzles e ainda algumas pitadas de ação. Os dois pilares principais, inclusive, são marcantes o suficiente para terem configurações separadas de dificuldade: é possível enfrentar inimigos extremamente poderosos e resolver quebra-cabeças simples na mesma campanha.

Divulgação/Konami

Por aqui, fomos com a opção narrativa para o combate — sugerida pelos desenvolvedores — e o difícil para desafios lógicos. Essa blocagem se traduz para a gameplay em si: é raro que combate e puzzles se misturem de forma muito profunda. Normalmente, há seções mais focadas em lutar contra os monstros feiosos da vez, e outras focadas na resolução de problemas.

No primeiro caso, é engraçado como o game brinca com o jogador: inicialmente, somos bem abastecidos de itens. Curar vida e estamina passa longe de ser um problema na primeira hora de campanha, criando uma falsa sensação de segurança. Pouco depois, qualquer item espalhado pelo cenário é algo a ser celebrado.

Essa dinâmica faz com que o combate se torne algo mais pragmático. Se esquivar é mais importante do que atacar, e ficar de olho na barra de estamina pode até ficar acima dos dois na lista de prioridades. Há ainda outros recursos nas mãos do jogador, como a barra de sanidade, que pode ser gasta com ataques mais poderosos — mas também aumenta o dano sofrido conforme se esvai — e a possibilidade dos contra-ataques, sinalizados muito rapidamente por um glitch visual.

Divulgação/Konami

Upgrades em todos esses recursos podem ser feitos em pontos de save, que também oferecem Omamoris, amuletos com habilidades passivas. Para adquirir essas melhorias, a grande moeda é a Fé, que pode ser obtida ao oferecer seus itens para um santuário. Claro, mesmo que Hinako fique mais forte, fugir é uma opção que deve ser considerada em várias lutas.

Durante boa parte do jogo, o combate é competente para transmitir a sensação de fragilidade da protagonista, mas sem parecer travado ou lento demais. Após determinadas viradas de enredo, entretanto, o game flerta um pouco mais com a ação clássica, introduzindo sequências de porradaria que parecem deslocadas tematicamente, mas têm como maior problema as próprias limitações de Silent Hill.

O jogo não é, nem de longe, um primor em movimentação e fluidez — e não há problema nisso, afinal, o gênero requer alguns esbarrões pelo cenário. Quando ele se propõe a ser quase um hack 'n’ slash, esses mesmos entraves seguem acontecendo, deixando o game num meio-termo desagradável.

Divulgação/Konami

A variedade de inimigos enfrentados também passa longe de encher os olhos. Na demo de quatro horas que o Omelete testou antecipadamente, já era possível ver praticamente todos os monstrengos que são enfrentados ao longo da campanha. Essa falta de repertório também está nos chefes, com uma luta que ousa colocar um demônio que já foi visto inúmeras vezes para representar uma figura importantíssima para o enredo.

A história, por sinal, é apenas pincelada pela cutscenes, e só se abre de verdade ao explorar o cenário. Anotações, cartas e diários revelam o que está acontecendo ao redor de Hinako, e ainda dão dicas essenciais para superar os quebra-cabeças do jogo.

Com a opção Difícil ligada, a grande maioria dos puzzles foi uma coceira agradável no cérebro. Um ou outro desafio soou um pouco mais arbitrário, mas o processo geral era: ficar completamente perdido; pensar em uma potencial resposta; falhar miseravelmente; encontrar a resposta certa; se sentir burro.

Divulgação/Konami

Os puzzles andam lado a lado com o enredo, obrigando o jogador a prestar o mínimo de atenção aos cenários e aos itens que encontra no chão. Assim se esclarece uma história que, seguindo as tendências do horror moderno, é sobre muito mais do que sanguinolência e inimigos asquerosos.Esse, aliás, é o grande mérito de Silent Hill f. Ainda que a vida de Hinako esteja por um fio, o game faz questão de deixar claro que há muitas ações — dela e das pessoas ao redor — que a levaram para esse ponto.

A seriedade com que o jogo aborda questões comuns para qualquer adolescente, como a disputa por um garoto da escola ou os inevitáveis confrontos com os pais, é louvável. Esse período esquisito da vida de todos nós, em que tudo parece ameaçador e até nossa própria identidade se torna abstrata é a grande força motriz do game, que refrata esses temas com prismas de terror.

Para conhecer a versão definitiva dessa jornada de crescimento, é necessário colocar algum esforço no game, que deixa claro em seu menu principal que há mais de um final disponível, e ainda conta para o jogador o que é necessário fazer para obter cada um deles.

Silent Hill f pode ter conquistado muita gente com sua estética vibrante, onde cores ameaçadoras preenchem cenários acinzentados, mas não demora a mostrar que é um jogo muito competente em outros âmbitos. Ainda que haja alguns soluços — inclusive literais, quando o game está no modo performance do PS5 —, o saldo final é aterrorizante, no bom sentido.

Nota do Crítico

Silent Hill f

Silent Hill f

25.09.2025
Survival Horror
Desenvolvedora: NeoBards Entertainment
Publicadora: Konami
Testado em: PlayStation 5