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Ninguém conseguiu eclipsar Taylor Hawkins: o legado do baterista do Foo Fighters

Músico criou um holofote em uma posição que poucos conseguiriam

26.03.2022, às 12H46.

Tentem imaginar um dos bateristas mais icônicos e importantes de uma geração. Após uma tragédia, ele decide criar uma banda, mas como guitarrista e vocalista. Quão difícil seria a pressão de quem fosse assumir a bateria dessa banda? Foi exatamente essa missão que caiu nos ombros de Taylor Hawkins. Mas ele  assumiu o cargo com primazia - e isso diz muito sobre o quão bom ele era.

Mas seu talento não acaba no quesito bateria. Não há como negar que o Foo Fighters é “a banda do Dave Grohl”. Mesmo assim, Taylor conseguiu um holofote próprio, tanto pela sua qualidade como músico quanto pelo seu carisma. Sim, o Foo Fighters também podia ser “a banda do Taylor Hawkins”.

(Parênteses para exaltar todos os músicos do Foo Fighters: Nate, Chris, Pat, Rami, vocês são incríveis.Infelizmente, é do Taylor que preciso falar agora.)

Depois de três parágrafos, está claro que vou fazer uma homenagem a um dos músicos mais interessantes do rock dos últimos tempos. Ainda dói (e vai doer por bastante tempo) falar que Taylor Hawkins morreu aos 50 anos, na Colômbia. 

Mas vamos tentar voltar para o lado bom dessa história. O legado que ele vai deixar.

Como falei no começo, não deveria ser fácil ser o baterista da banda do Dave Grohl, depois de tudo que ele tinha feito no Nirvana. Só para exemplificar isso e todo seu perfeccionismo (e chatice, claro): ele regravou sozinho a bateria de TODAS as músicas de um álbum. Claro que depois disso, William Goldsmith, baterista original, pediu demissão.

Foi nesse clima que Taylor precisou chegar no Foo Fighters. E ele não era qualquer um. Tinha gravado e feito turnê do Jagged Little Pill, álbum de Alanis Morissette e provavelmente um dos maiores álbuns da história do rock. Mas ele chegou humilde e rapidamente conquistou Dave com o que Dave mais gostava: PESO na hora de tocar bateria.

Uma das marcas de Grohl como baterista no Nirvana (e em outros grandes álbuns que ele também tocou bateria, como no Queens of the Stone Age) sempre foi o quão forte ele batia. E Taylor mostrou esse mesmo peso. Foi amor à primeira vista, como eles sempre fizeram questão de falar. Ali começou uma amizade. Mais que isso, eles se tornaram irmãos.

Superada a fase de “ser o baterista da banda de um grande baterista”, Hawkins foi vindo cada vez mais para frente do palco. O holofote estava cada vez maior para ele. Sim, Dave Grohl abriu espaço para seu irmão ser um dos rostos do Foo Fighters.

Ninguém deu muita bola para a penúltima música do álbum duplo In Your Honor, de 2005. Tinha algo diferente ali, mas só quem se desse ao trabalho de ler os créditos veria que Taylor Hawkins tinha assumido o vocal de “Cold Day In The Sun”, uma balada meio folk, mas sem nada de muito mais. O brilho veio no show/álbum acústico Echoes, Silence, Patience and Grace, quando eles aceleraram a música e todo mundo pôde ver ao vivo a potência e a entrega dele como vocalista.

Dali para frente, além da própria “Cold Day In The Sun”, Taylor cantando começou a ser um momento aguardado em gravações e, principalmente, em shows. Já tinha virado uma tradição a hora em que ele assumia o microfone nos palcos, com destaque para sua versão de “Under Pressure”, um clássico do Queen com David Bowie.

Sem esquecer que no penúltimo álbum de inéditas do Foo Fighters, Concrete and Gold, de 2017, ele cantou a faixa Sunday Rain com ninguém menos que Paul McCartney na bateria. Sim. Paul McCartney tocou bateria para Taylor Hawkins cantar.

Essa vai ser a marca deixada. O cara que com talento, força e carisma, conseguiu aparecer e ser destaque no mundo da música mesmo tendo ao lado um verdadeiro sol. Ninguém foi capaz de eclipsar Taylor Hawkins.