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XXY

Filme argentino premiado em Cannes até começa bem...

28.02.2008, às 18H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H33

Não precisa ser um PhD em biologia para entender que o misterioso título do filme XXY faz referência aos cromossomos masculinos e femininos. Uma busca rápida na Internet dá que a Síndrome de XXY, também conhecida como Síndrome de Klinefelter, atinge homens que têm um cromossomo X a mais - e por isso desenvolvem testículos menores e produzem menos testosterona na juventude, o que pode lhes dar aspecto feminino.

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Como fica claro desde o título, portanto, o filme da argentina Lucía Puenzo trata de um fenômeno sexual, algo que se pode confundir com hermafrodismo. Mas até que isso se explique no filme vão aí uns bons 30 minutos de mistério.

Começamos acompanhando a chegada, no balneário de Maldonado, no Uruguai, de um casal adulto com seu filho. O adolescente, frágil, está imerso na paisagem litorânea, mas consegue perceber que o pai analisa uma ficha médica. Quando os três chegam na casa de um biólogo marinho onde se hospedarão, o filho adolescente (e nós, espectadores) percebe que mora nessa casa uma garota estranha. Curiosamente estranha.

Detalhar mais seria desvendar esses mistérios que o filme se dedica a montar.

Vencedor do Prêmio da Semana da Crítica em Cannes 2007, XXY agrada o espectador de olhar atento e crítico neste começo de projeção por conta dos simbolismos que revestem os seus mistérios. Alguns desses simbolismos são verdadeiras charadas (em um momento vemos um aquário de peixes-palhaço, espécie hermafrodita), outros têm impacto visual (a tartaruga marinha que teve a pata cortada) e outros estão mais para gracejos (o personagem do biólogo se chama Kraken, mesmo nome do polvo gigante que naufragava barcos das mitologias antigas).

Construir um painel de significados a partir dessas pequenas dicas, tentar com elas entender quem é quem em XXY, seria a grande sacada de Lucía Puenzo se o próprio filme não começasse de repente a responder todas as perguntas. E aí é ladeira abaixo. Tudo aquilo que não era dito no começo passa a ser entregue na mão do espectador com um didatismo constrangedor.

Há, como a premissa já adianta, um personagem de sexo ambíguo. Depois de revelá-lo, XXY passa a colocar esse personagem em todas as situações possíveis para que o espectador possa "compreender" o drama: coloca ao lado de um garoto normal, de uma garota normal, em situação de conforto, de perigo, coloca uma família em contraponto com outra família... Tudo aquilo que era só sugerido, interiorizado, passa a ser ilustrado - o que há de constrangedor nisso é que o personagem, de mistério, vira caso de estudo, vira tubo de ensaio.

E então não há remendo que salve o filme. Quando arrisca voltar ao simbolismo Lucía Puenzo só piora as coisas: a cena da mãe fatiando a cenoura coroa com mau gosto e humor involuntário o equívoco que é XXY.