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Walter Salles comenta a premiação de Jorge Drexler no Oscar 2005

Walter Salles comenta a premiação de Jorge Drexler no Oscar 2005

28.02.2005, às 00H00.
Atualizada em 10.11.2016, ÀS 05H00

Depois da polêmica da proibição pelos organizadores da festa do Oscar que o uruguaio Jorge Drexler interpretasse sua própria música, "Al otro lado del río", indicada ao Oscar de Melhor canção, veio a redenção.

Ao ser premiado, Drexler - ao lado de toda a América Latina, creio - vibrou e comemorou subindo ao palco para aceitar a estatueta. Sem agradecer ninguém, fez o que tinha sido proibido de fazer: cantou.

Foi só um trecho, mas foi suficiente para que o mundo percebesse o tamanho da injustiça cometida com ele. No lugar do compositor do tema de Diários de Motocicleta (2004) foram chamados ao palco para cantar "Al otro lado del río" Antonio Banderas e o músico Carlos Santana. Dois artistas competentes, sem dúvida, mas que apresentaram uma versão completamente destoante da original. Foi terrível também a ambientação, com um cenário de parque de diversões de quinta.

Claro que os cineastas e artistas latinos não se calaram perante a afronta. Uma carta com mais de 400 nomes, incluindo Javier Bardem, Alejandro Iñarritu, Alfonso Cuáron e Nelson Pereira dos Santos, foi enviada hoje ao presidente da Academia, Frank Pierson. Seu portador será Robert Redford, o organizador do Festival de cinema independente de Sundance.

Walter Salles, o diretor de Diários de Motocicleta, voltou a se manifestar depois da cerimônia:

"Não poderíamos estar mais felizes, pelo autor maravilhoso que Jorge Drexler é, pelo fato de que uma canção que traduz de forma tão sensível a essência do filme ter sido reconhecida, e, finalmente, pela maneira tão digna com que Drexler recebeu o prêmio. A letra linda que Jorge escreveu para a canção fala das eleiçoes éticas, morais, que devemos fazer na vida. Pois bem, também fiquei feliz pela forma solidária com que toda a equipe que fez o filme se comportou quando os produtores do show que transmitiram a cerimônia não permitiram que Jorge cantasse. Gael Garcia Bernal, que havia sido convidado a apresentar a canção na cerimônia, se recusou a fazê-lo para qualquer pessoa que não fosse Drexler. A força de "Diários de Motocicleta" está no fato de que esse foi um filme feito de forma coletiva, em família. A alma do filme reside nesse todo onde as peças não são intercambiáveis. Fizemos esse filme com total liberdade, e não havia por que aceitar ou compactuar com qualquer tipo de imposição agora, depois de cinco anos de trabalho. Se aprendemos algo com aqueles dois jovens que elegeram uma margem do rio, é que é preciso lutar por aquilo em que a gente acredita. Era necessário manter a coerência e a integridade do trabalho realizado ao longo de cinco anos por uma equipe que veio de todas as partes da América Latina, e foi essa coerência que Drexler personificou no domingo à noite. Quanto à versão da canção que se ouviu, não tem qualquer semelhança com a versão original que está no filme, tanto na forma quanto no conteúdo. Estava equivocada até no cenário e no figurino. Se nos convidam para essa festa, que nos aceitem como somos, e não como acham que devemos ser".

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