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Sol Secreto - Festival do Rio 2008

Drama sul-coreano rendeu prêmio em Cannes de Melhor Atriz a Jeon Do-yeon

28.09.2008, às 21H00.
Atualizada em 04.11.2016, ÀS 17H05
Shin-ae ( Jeon Do-yeon

Sol Secreto

Sol Secreto

) está se mudando com o filho de Seul para o interior da Coréia do Sul, mais especificamente para a cidade natal de seu falecido marido, a provinciana Miryang - termo em coreano que, traduzido, quer dizer "raio de sol secreto" . Há sombras e filetes de claridade por toda Miryang, a começar pela rua principal, que tem um lado que nunca recebe luz.

É dessa dicotomia - ampliada para temas como privacidade versus comunhão, culpa versus perdão, vazio versus contentamento - que se faz o filme co-escrito e dirigido por Lee Chang-dong, Sol Secreto (Milyang, 2007).

Foi para se afastar da família e das más línguas (dizem que o falecido a traía com outra) que Shin-ae deixou a capital sul-coreana. Em Miryang, diz ela "posso recomeçar", pois lá ninguém a conhece. Mas na realidade não é bem assim. É só contar um pedaço de sua história de dor para uma pessoa dentro de um carro, por exemplo, que na farmácia da esquina já ficam sabendo. Não demora até que Shin-ae vire o assunto da cidade, o que vai lhe trazer uma perda irreparável.

Não convém explicar que perda é essa; basta dizer apenas que Sol Secreto narra em boa parte do seu tempo uma dura história de luto, história essa que rendeu a Jeon Do-yeon o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes. Mais do que mostrar laços desfeitos abruptamente, o diretor Chang-dong expõe como esse luto influencia a forma com que as pessoas se relacionam depois de uma tragédia.

Shin-ae havia chegado em Miryang pensando em um recomeço racional, iluminista até: ela dá aulas de piano para crianças e reclama de um novo amigo que, para atrair clientela, pendura na parede um prêmio falso que Shin-ae teria ganhado como pianista. Não quer ser mal interpretada. Quando a farmacêutica carola diz para Shin-ae que Deus está em todos os lugares, a protagonista questiona: "Esse raio de luz aqui, por exemplo, não é nada mais do que só um raio!".

Depois da tragédia, aos poucos acompanhamos como Shin-ae tateia tábuas de salvação, que evidentemente vão passar pela religiosidade. Sol Secreto, então, nos mostra o "outro lado da calçada". O que era desejo de privacidade se torna um grito por socorro. Shin-ae não queria ser mal interpretada e passa a cometer agressões.

O filme de Lee Chang-dong mostra que não basta chorar, como crê outra personagem. Faz um exame do luto e nos mostra o que ele tem de mais intenso, que é a forma como se exterioriza esse sentimento essencialmente interior. Um sentimento que, apesar de tentativas (como Shin-ae aprende na inesquecível cena da prisão), não se compartilha.