Filmes

Entrevista

“Só volto para Era do Gelo para fazer um reboot”, diz Carlos Saldanha

Diretor inicia em breve os roteiros da série Cidades Invisíveis, da Netflix

14.07.2018, às 09H19.

De passagem pelo Rio de Janeiro, já conectado com a idealização do seriado em oito episódios Cidades Invisíveis, o cineasta Carlos Saldanha afirma nesta entrevista ao Omelete que a animação segue firme e forte em seus planos para o futuro, apesar de estar envolvido em projetos de live-action. A série que prepara terá Marco Pigossi (Onde Nascem os Fortes) como protagonista. Mas já há um longa novo para ele animar na Blue Sky, estúdio no qual é um dos pilares. O respeito pela arte de animar se confirma ainda em sua decisão de custear um prêmio para o setor.

Youtube/Reprodução

No festival Anima Mundi, o cineasta da franquia Rio bancará do próprio bolso um par de laúreas especiais para curtas-metragens brasileiros. Ele custeia e entrega o Prêmio Melhor Curta Brasileiro, no valor de R$5 mil e o Prêmio Melhor Curta de Estudante Brasileiro, no valor de R$ 3 mil.

Ainda no Anima Mundi, o diretor carioca foi escalado para uma participação especial em um debate sobre sua obra, agendado para 28 de julho, no Cine Odeon – Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro, às 16h. Na ocasião, será exibido O Touro Ferdinando e seu making of. Na sequência, Saldanha conversará com o público sobre o processo de criação do filme, que foi indicado ao Oscar.

Em agosto, Saldanha segue para o Rio Grande do Sul, onde ganhará uma láurea especial no 46º Festival de Gramado: o troféu Eduardo Abelin, dado a diretores de verve autoral pelo conjunto de sua carreira. 

Nesta entrevista, ele fala sobre seus próximos passos profissionais.

Omelete: Você vai falar sobre sua trajetória em sucessos como O Touro Ferdinando no Anima Mundi, mas anda flertando cada vez mais com as narrativas em live-action. Quais são seus planos em relação à animação? 
Carlos Saldanha: Desde que dirigi um dos segmentos do longa Rio, Eu Te Amo, de 2014, minha vontade de fazer projetos em live-action só cresce, mesmo que seja como produtor. Foi o caso do filme Antes Que Eu Me Esqueça, no qual fui produtor-executivo. E tem a série da Netflix, na qual o Marco Pigossi será o protagonista. Mas eu adoro animar. Faço isso há 25 anos e não vou deixar de fazer. Já tenho um projeto novo na Blue Sky para fazer como animação.

É o projeto Foster, sobre um garoto que cai no mundo imaginário de seus livros?
Curiosamente, andam me associando a este projeto, mas ele é do Steve Martino e não meu. Entro como produtor por ser da Blue Sky. Fico até feliz com essa associação, em nome da empresa, mas o meu projeto é outro, não tem nome e é ainda muito embrionário. A única desvantagem de se fazer um longa de animação é que o projeto demora muito. É muito tempo de investimento. Mas, nesse tempo, eu posso, paralelamente, fazer um outro projeto meu, com atores.

E como fica a franquia A Era do Gelo? Você voltará a ela?
Já fizemos cinco filmes, dos quais três foram dirigidos por mim. Para que eu voltasse a ela, teria que ser para fazer um reboot, atrás da essência original. O primeiro filme tem 16 anos. Depois de tanto tempo e de todas as continuações, as histórias evoluem, mas a essência se perde. Temos conversado na empresa se vale retomar a franquia. Mas ela so volta comigo se for pra rebootar o conceito.

E onde entra a série da Netflix nos seus projetos?
Estou neste momento formando a minha sala de roteiristas e vamos investir na fantasia na trama de Cidades Invisíveis, trazendo elementos do folclore brasileiro. A ideia é começar a confecção dos roteiros a partir de agosto ou setembro para filmar a partir de junho, com o Marco Pigossi como protagonista. E vamos filmar no Rio e em São Paulo.

O que representa essa ação do Anima Mundi? Você vai custear um prêmio para jovens animadores e para o melhor curta brasileiro. 
É uma forma de remar contra a maré do Brasil, que anda com os incentivos à produção muito minguados. Dar um incentivo aos diretores é uma forma de ir contra toda essa lamentação no país.

Como você encara a premiação no Festival de Gramado, onde vai receber o troféu Eduardo Abelin?
Além da honra que é, será uma chance de eu, enfim, poder conhecer, pela primeira vez, um festival tão falado e tão importante. Nunca fui.

Como você vê a Blue Sky hoje?
Vem mudança pela frente com a negociação da Fox com a Disney. Mas mudanças não assustam quando elas são para melhor. O estúdio sempre foi uma segunda via no mercado, pois nunca tivemos um estilo tão definido quanto a Pixar. Criamos voz própria, no trânsito por vários gêneros. No começo, ocupávamos uma linha de comédia que hoje está com a Illumination, dos Minions. Somos hoje um estúdio familiar, no arredores de Nova York, que aposta em temáticas diversificadas.