De passagem pelo Rio de Janeiro, já conectado com a idealização do seriado em oito episódios Cidades Invisíveis, o cineasta Carlos Saldanha afirma nesta entrevista ao Omelete que a animação segue firme e forte em seus planos para o futuro, apesar de estar envolvido em projetos de live-action. A série que prepara terá Marco Pigossi (Onde Nascem os Fortes) como protagonista. Mas já há um longa novo para ele animar na Blue Sky, estúdio no qual é um dos pilares. O respeito pela arte de animar se confirma ainda em sua decisão de custear um prêmio para o setor.
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No festival Anima Mundi, o cineasta da franquia Rio bancará do próprio bolso um par de laúreas especiais para curtas-metragens brasileiros. Ele custeia e entrega o Prêmio Melhor Curta Brasileiro, no valor de R$5 mil e o Prêmio Melhor Curta de Estudante Brasileiro, no valor de R$ 3 mil.
Ainda no Anima Mundi, o diretor carioca foi escalado para uma participação especial em um debate sobre sua obra, agendado para 28 de julho, no Cine Odeon – Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro, às 16h. Na ocasião, será exibido O Touro Ferdinando e seu making of. Na sequência, Saldanha conversará com o público sobre o processo de criação do filme, que foi indicado ao Oscar.
Em agosto, Saldanha segue para o Rio Grande do Sul, onde ganhará uma láurea especial no 46º Festival de Gramado: o troféu Eduardo Abelin, dado a diretores de verve autoral pelo conjunto de sua carreira.
Nesta entrevista, ele fala sobre seus próximos passos profissionais.
Omelete: Você vai falar sobre sua trajetória em sucessos como O Touro Ferdinando no Anima Mundi, mas anda flertando cada vez mais com as narrativas em live-action. Quais são seus planos em relação à animação?
Carlos Saldanha: Desde que dirigi um dos segmentos do longa Rio, Eu Te Amo, de 2014, minha vontade de fazer projetos em live-action só cresce, mesmo que seja como produtor. Foi o caso do filme Antes Que Eu Me Esqueça, no qual fui produtor-executivo. E tem a série da Netflix, na qual o Marco Pigossi será o protagonista. Mas eu adoro animar. Faço isso há 25 anos e não vou deixar de fazer. Já tenho um projeto novo na Blue Sky para fazer como animação.
É o projeto Foster, sobre um garoto que cai no mundo imaginário de seus livros?
Curiosamente, andam me associando a este projeto, mas ele é do Steve Martino e não meu. Entro como produtor por ser da Blue Sky. Fico até feliz com essa associação, em nome da empresa, mas o meu projeto é outro, não tem nome e é ainda muito embrionário. A única desvantagem de se fazer um longa de animação é que o projeto demora muito. É muito tempo de investimento. Mas, nesse tempo, eu posso, paralelamente, fazer um outro projeto meu, com atores.
E como fica a franquia A Era do Gelo? Você voltará a ela?
Já fizemos cinco filmes, dos quais três foram dirigidos por mim. Para que eu voltasse a ela, teria que ser para fazer um reboot, atrás da essência original. O primeiro filme tem 16 anos. Depois de tanto tempo e de todas as continuações, as histórias evoluem, mas a essência se perde. Temos conversado na empresa se vale retomar a franquia. Mas ela so volta comigo se for pra rebootar o conceito.
E onde entra a série da Netflix nos seus projetos?
Estou neste momento formando a minha sala de roteiristas e vamos investir na fantasia na trama de Cidades Invisíveis, trazendo elementos do folclore brasileiro. A ideia é começar a confecção dos roteiros a partir de agosto ou setembro para filmar a partir de junho, com o Marco Pigossi como protagonista. E vamos filmar no Rio e em São Paulo.
O que representa essa ação do Anima Mundi? Você vai custear um prêmio para jovens animadores e para o melhor curta brasileiro.
É uma forma de remar contra a maré do Brasil, que anda com os incentivos à produção muito minguados. Dar um incentivo aos diretores é uma forma de ir contra toda essa lamentação no país.
Como você encara a premiação no Festival de Gramado, onde vai receber o troféu Eduardo Abelin?
Além da honra que é, será uma chance de eu, enfim, poder conhecer, pela primeira vez, um festival tão falado e tão importante. Nunca fui.
Como você vê a Blue Sky hoje?
Vem mudança pela frente com a negociação da Fox com a Disney. Mas mudanças não assustam quando elas são para melhor. O estúdio sempre foi uma segunda via no mercado, pois nunca tivemos um estilo tão definido quanto a Pixar. Criamos voz própria, no trânsito por vários gêneros. No começo, ocupávamos uma linha de comédia que hoje está com a Illumination, dos Minions. Somos hoje um estúdio familiar, no arredores de Nova York, que aposta em temáticas diversificadas.