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“Sequestro Relâmpago é um boletim de ocorrência”, diz Marina Ruy Barbosa

Filme da diretora Tata Amaral entra em cartaz nesta quinta-feira (22)

22.11.2018, às 17H59.
Atualizada em 24.11.2018, ÀS 09H57

Essa história dá um filme. Acredite se quiser, uma frase tão corriqueira como esta foi o pontapé de Sequestro Relâmpago, nova obra da diretora Tata Amaral. “Foi uma das poucas vezes que concordei com a afirmação”, conta a cineasta, que ouviu o relato que inspirou o longa de uma amiga. Estrelado por Marina Ruy Barbosa, a produção acompanha a noite de Isabel que, na saída de um bar, é sequestrada por dois jovens claramente inexperientes. Quando o plano inicial da dupla não dá certo, eles tomam a decisão arriscada de mantê-la refém até a manhã do dia seguinte, quando os caixas eletrônicos voltariam a abrir. Juntos, os três rodam por São Paulo tentando ganhar tempo, enquanto a garota negocia a sua vida a todo instante.

“O que me chamou atenção para esta história foi o fato de que a protagonista, passado o susto inicial e apesar dele, vai construindo uma relação com os sequestradores”, explica Amaral. “Eles poderiam ter sido seus colegas de escola ou faculdade, não fossem as diferenças e distâncias sociais, econômicas e geográfica de suas vidas”.

Por isso, apesar de toda a angústia do crime, as cenas mais assustadoras são intercaladas com momentos divertidos e leves, conforme Isabel constrói ligações com os jovens. “Durante a noite, ela transita entre a jovem assustada e aquela que descobre seu poder e sua força para conduzir situações a seu favor. Ela consegue até parecer relaxada e se divertir com o amadorismo dos rapazes”, analisa a diretora.

Os dois também passam por uma montanha-russa emocional. Matheus, o personagem do ator Sidney Santiago Kuanza, por exemplo, mostra diferentes facetas ao longo da noite. Ao mesmo tempo que revela sua doçura enquanto pai, o jovem também é bastante duro com Isabel em algumas situações. Em outros momentos, simplesmente demonstra sua insegurança por não saber se a jovem ficaria com “um cara como ele”, isto é, um homem negro e pobre.

Já Japonês, o rapaz vivido por Daniel Rocha, tem outra trajetória dentro do longa, como desenvolve Amaral. “Como muitos jovens, ele foi praticamente ‘educado’ assistindo filmes de bandido e mocinho. Portanto, ele imita um bandido de cinema. Mas Japonês é um personagem com gradações emocionais: tem desejos, fica magoado, precisa de reconhecimento e fica irado quando sente que estão ‘tirando uma dele’”

Para que o vai-e-vem de sentimentos de todos os personagens fosse o mais natural possível, a diretora conta que ela e a preparadora de elenco Fátima Toledo trabalharam com os atores durante duas semanas e, juntos, o grupo procurou pontos de contato entre a própria experiência e as emoções vividas pelos seus personagens.

Sobre o processo de construção de Matheus, Kuanza lembra que seguiu por uma abordagem pouco usual para ele. “Sou um ator mais visceral, mais do corpo. Mas tentei fazer uma coisa mais contida, justamente para mostrar uma complexidade”. Por terem filmado o longa em 2017, ano marcado pelo debate das questões de gênero no Brasil, o ator afirma que este contexto social acabou influenciando sua performance. “Fazer um troglodita esperado não é legal. [...] Então, [quis] trazer esse dado de humanidade para dizer ‘olha, isso é um comportamento social aprendido, não está nos genes’. Ele faz escolhas e, ao fazê-las, a humanidade está ali”.

As decisões a que ele se refere incluem incidentes de violência contra a mulher, o tema central de Sequestro Relâmpago. “Claro que as cenas mexem muito com você, sabe? Não tinha como não chegar em casa afetada por aquilo”, diz Marina Ruy Barbosa, que fez sua estreia nos cinemas neste longa. Em uma das cenas, sua personagem tem a chance de contar para um segurança que está sendo mantida refém, mas ele não acredita nela. “De repente, ela vê que não tem poder nenhum. Como assim ela está ali, falando sobre o que ela está passando, e ninguém escuta?”. Assista abaixo:

Para a atriz, era importante que seu primeiro filme de fato tivesse uma mensagem interessante - até então, ela somente havia gravado uma participação em Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida, quando criança. “Este é um filme com vontade e orgulho de contar uma història para falar de machismo, das diferenças sociais e para fazer a gente pensar. É um boletim de ocorrência”. Kuanza tem uma visão semelhante: “é um filme que fala sobre como a desigualdade é o maior motor da violência do Brasil”.

Sequestro Relâmpago já está em cartaz nos cinemas.