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Quatro Minutos

Filme alemão não cai no drama barato de superação pela arte

11.09.2008, às 16H00.
Atualizada em 06.01.2017, ÀS 04H05

Ah, as cicatrizes mal curadas! Não tem jeito, passam-se os anos, e os alemães continuam exorcizando seus fantasmas nazistas no cinema e em várias outras formas de arte. O sentimento de culpa pelo que aconteceu nos anos 30 e 40 ainda é muito forte por lá e os artistas, obviamente mais sensíveis e aptos a expressar seus sentimentos, acabam voltando ao tema sempre que podem.

Quatro Minutos

Quatro Minutos

Quem se aventura agora é o cineasta Chris Kraus, que escreve e dirige o drama sobre uma velha professora de piano chamada Traude (Monica Bleibtreu) e uma autodestrutiva aluna, Jenny (Hannah Herzsprung), detenta de um presídio feminino depois de um assassinato. A garota é um enorme barril de pólvora de pavio curto e prestes a entrar em autocombustão, mas é também uma artista talentosíssima. Sua rebeldia, está expressa nas roupas, nas mãos detonadas e na "música de negro", que ela prefere tocar, contrariando a predileção pela música clássica de sua instrutora.

As diferenças entre as duas as coloca constantemente em rota de colisão, até que percebem que seus caminhos talvez não sejam tão diferentes. A frieza que hoje domina o corpo da octagenária pianista é conseqüência do que ela sofreu - e sofre até os dias atuais - durante o regime hitlerista. Durante todo esse tempo, ela se afundou em angústia e culpa pelo que viu e sofreu. E ao ver o potencial da aluna, Traude passa a espelhar na vida da menina o presente e o futuro que nunca teve, mas o problema é justamente o sofrido passado que Jenny também enfrentou.

Diferente dos dramas baratos de superação por meio da arte que se vê por aí aos quilos, Quatro Minutos (Vier Minuten, 2006) está mesmo interessado é nos dramas pessoais que levaram as duas protagonistas aos lugares onde seus caminhos se cruzam e o que vão fazer a partir dali.

As trocas de olhares, um vazio e o outro cheio de emoções prestes a explodirem, mostram que nenhum dos inúmeros prêmios que o filme e suas atrizes ganharam ou foram indicados foi injusto. Todos os nomes dos festivais estampados no pôster, porém, não garantem apelo comercial. Nada mais compreensível, pois é um filme alemão e, por isso mesmo todo falado na sua língua de origem. Cabe ao público, porém, deixar de lado seus preconceitos e ir ao cinema conferir as ótimas atuações da dupla e os lindos números musicais tocados por Jenny.