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Persepolis, o longa de animação baseado na obra em quadrinhos autobiográfica de Marjane Satrapi, dirigido pela própria e por Vincent Paronnaud, foi ao mesmo tempo tema de controvérsia e de destaque no Festival de Cannes deste ano, que se encerra neste fim de semana.
O filme foi exibido oficialmente na quarta-feira. É, até agora, uma das películas mais comentadas pela imprensa internacional, pela visão infantil de um país em revolução política e cultural e pela crítica ao Irã, em tempos conturbados das relações do país no cenário internacional.
No site Cinematical, o crítico James Rocchi diz que "me senti emocionalmente comprometido, feliz, triste e tocado pela história de vida de Satrapi sobre uma jovem amadurecendo no Irã pré e pós-Revolução. Persepolis é uma obra-prima revigorante e comovente sobre sair de casa - uma obra de animação que consegue ser artisticamente brilhante, politicamente rica, moralmente comprometida e emocionalmente irresistível".
Junto aos bons comentários, o filme tem chamado atenção também pela controvérsia que gerou com a terra natal de Satrapi, o Irã. A Fundação de Cinema Farabi, órgão estatal iraniano, enviou uma carta ao adido cultural francês no país islâmico. O texto divulgado à imprensa diz: "Este ano o Festival de Cinema, em um ato pouco convencional e inapropriado, escolheu um filme sobre o Irã que apresentou, em algumas partes, uma face irreal das conquistas e resultados da gloriosa Revolução Islâmica".
É a segunda vez este ano que o Irã protesta contra o cinema internacional, e novamente contra uma adaptação dos quadrinhos. A manifestação de ira do país do Oriente Médio contra 300 também mobilizou a imprensa há poucos meses.
Satrapi, durante a conferência à imprensa sobre o filme, buscou desmerecer o caso, dizendo que a acusação do governo iraniano está recebendo mais atenção do que devia. "Eu simplesmente não quero alimentar essa disputa. Ela já cresceu além do que devia e não quero colocar mais lenha na fogueira. Eu aceito críticas. Eu acredito na liberdade de expressão e de fala."
A autora continuou colocando que sua produção "não é um filme com fins políticos ou uma mensagem pra vender. É sobre minha família, a importância da família".
Jornalistas mais entusiasmados consideram o filme um dos favoritos aos grandes prêmios do Festival, que serão divulgados no dia 27, domingo.
Persepolis, a HQ, teve seu último volume recentemente publicado no Brasil pela Companhia das Letras.