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Filmes
Entrevista

Para o Outro Lado | Mestre do terror japonês fala sobre amor e eternidade em novo filme

Filme estreia nesta quinta no Brasil

RF
16.12.2015, às 15H38.
Atualizada em 20.12.2016, ÀS 03H03

Ao longo de 40 anos de uma carreira marcada por cults do horror à moda oriental, tipo Crimes Obscuros (2006), Pulse (2001) e Cure (1997), o cineasta japonês Kiyoshi Kurosawa já retratou fantasmas das mais variadas (e mortíferas) estirpes, mas poucas vezes seu olhar sobre o Além teve tanta doçura quanto em Para o Outro Lado (Kishibe no tabi), em cartaz no Brasil a partir desta quinta-feira. Drama de tintas metafísicas sobre a eternidade do amor, a produção rendeu ao cineasta de 60 anos o prêmio de melhor direção na mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes, em maio. Parte da crítica estrangeira apontou o longa-metragem como sendo o melhor filme asiático do ano. Em sua trama, um encontro de vivos e mortes testa a habilidade deste mestre do terror para falar de paixões e redenções.

A questão que me impulsiona aqui é saber o que sentem as pessoas que velam seus entes queridos moribundos, que estão com as horas finais já marcadas. A sensação de finitude iminente me faz pensar sobre algo que sempre me intrigou: a sensação de que o corpo e a alma não perecem ao mesmo tempo. O corpo se vai. O espírito pode ficar. Pelo menos essa é uma hipótese para mim, que não sou religioso, mas também não me considero ateu. Acreditar que não haja nada após a Morte é uma violência”, disse o diretor ao Omelete em Cannes, logo após a projeção de Para o Outro Lado.

Cannes se rendeu à dor de Mizuki (Eri Fukatsu), viúva ainda apaixonada pelo marido, Yusuke (Tadanobu Asano), que morreu afogada há três anos. Um dia, sem explicação, Yusuke bate à sua porta, convidando-a para uma viagem. Ela não se assusta. Lamenta apenas o fato de ele ter demorado tanto. E daí começa uma trajetória, na qual o esplendor de Natureza e o mistério da Espiritualidade se misturam.

O contraste entre as paisagens em um país pequeno como o Japão não são fortes, portanto, não há uma transformação tão grande no ambiente de onde Mizuli sai e o lugar para onde vai”, diz Kiyoshi, recusando o rótulo de road movie dado a Para o Outro Lado. “O que vivemos ao seguir esta história é oportunidade de refletir sobre o peso da palavra confiança. Há duas pessoas que se amam, mesmo que uma não esteja mais no plano físico. E, em nome desse amor, há a confiança de seguir o amado. Isso nasceu de um romance de Kazumi Yumoto, o qual eu adaptei com o cuidado de não descambar para o melodrama. Já fiz filmes de gênero muitas vezes no passado e isso me deu a certeza de que tramas com características muito demarcadas precisam ser feitas com elegância”.

Somada ao bom desempenho dos filmes de terror do passado recente de Kyioshi, a vitória em Cannes elevou o cacife internacional do cineasta e abriu para ele a chance de rodar um filme de fantasia na França, com Olivier Gourmet Tahar RahimLa Femme de la Plaque Argentique. Ele ainda prepara, no Japão, o thriller Creepy.

“O cinema nasceu mítico, pois, já em suas primeiras horas de vida, os Lumière, que o inventarem, produziram obras-primas. Brincar com um aparelho desses, que fabrica obras-primas, deu a mim a certeza de que a inspiração para contar uma história muda a cada filme que faço”, diz Kiyoshi, que, apesar do sobrenome, não é parente do mestre Akira Kurosawa (1910-1998). “Minha inspiração em Para o Outro Lado era a vontade entender o que sente aqueles que perdem grandes amores e como um morto poderia agir se tivesse uma chance de voltar, encontrando outros espíritos entre nós”.