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O mundo ainda precisa de Superman - O Retorno e ele merece uma segunda chance

Longa de Bryan Singer tem todos os elementos que esperávamos do novo filme de James Gunn

6 min de leitura
12.07.2025, às 07H00.

São quase 20 anos desde que vi que um homem poderia voar pela primeira vez no cinema. O ano era 2006 e os amantes de filmes e séries precisavam do impresso - revistas e jornais - para se inteirar sobre novidades de futuras produções que sabe-se lá quando iriam estrear. Insiders, rumores, previsões… esqueça. A nossa espera era por uma matéria especial de visita ao set, um pôster ou trailer no Quicktime que dizia “coming soon” e só. O próprio Omelete tinha seis aninhos de vida na época e fez o seu primeiro set visit internacional, como você pode ler aqui. A internet estava “a um clique de distância”, diziam, mas não era bem assim. Foi nesse contexto que Superman, o herói mais famoso do mundo, se aproximava de voltar aos cinemas, com uma produção comandada pelo cara que havia levado os X-Men de vez para a telona. 

Superman - O Retorno era uma espécie de A Ameaça Fantasma para os fãs da DC. O primeiro filme de Richard Donner, de 1978, era recorrente em reprises da TV e com o tempo foi ficando cada vez mais de lado. O péssimo Superman IV - Em Busca da Paz, último filme de Christopher Reeve, já tinha mais de 20 anos. Batman, que foi incrível nos filmes de Tim Burton, virou chacota com Joel Schumacher - uma injustiça com Batman: Eternamente - e ressuscitou com Batman Begins, de Christopher Nolan

Era a hora do Homem de Aço voltar. Produção milionária, vencedor do Oscar interpretando o icônico vilão, efeitos especiais de ponta, nova tecnologia para tornar real os pousos e decolagens do herói, e um protagonista que era quase a cópia viva de Reeve. Tudo pronto para ser o maior sucesso do ano e uma volta triunfal do personagem ao cinema. Mas as coisas não foram tão simples para o Último Filho de Krypton. A bilheteria aquém da esperada e uma recepção fria do público, mesmo com críticas positivas, fizeram o estúdio enterrar de vez qualquer sequência planejada. No fim, Superman - O Retorno foi considerado um fracasso. 

Mas o mundo estava preparado para a volta do Superman? E principalmente, uma continuação do Superman de Richard Donner era a ideal para aquele momento? Eu acho que não.

A primeira metade dos anos 2000 não é um período de esperança, cores e ingenuidade, como o filme de Bryan Singer brilhantemente encapsula em seus 150 minutos. A virada do milênio foi um período de apreensão e isso está refletido em obras do cinema hollywoodiano, como O Sexto Sentido, Clube da Luta, Beleza Americana e, claro, Matrix. O próprio Singer já havia expressado esse lado melancólico em seus dois ótimos filmes dos X-Men. Os ataques de 11 de setembro só pioraram as coisas e a Guerra ao Terror, de George W. Bush, terminou de afundar de vez qualquer possibilidade de otimismo. Soma-se a isso o grande sucesso do Batman, de Christopher Nolan, que colocou Gotham e o Cruzado Encapuzado em um cenário realista - ainda que menos que sua continuação - em Batman Begins. A estética de Nolan e o cinismo em relação aos heróis coloridos e aventureiros foram abraçados pelo público - eu incluído - e não dariam qualquer chance para propostas como a de Superman - O Retorno.

O cinema de super-heróis passou muitos anos sob a mesma narrativa. A realidade e a tecnologia sobrepondo o encantamento, a aventura e a magia. O próprio Homem de Aço se viu sob a produção do midas da Warner Bros., Christopher Nolan, e o comando da promessa revolucionária de Zack Snyder. E veja bem, eu adoro Man of Steel. É uma releitura própria do diretor sobre o personagem, um escalonamento no sentido mitológico e uma proposta diferente do que havia sido feito até então. Se deu certo ou não, aí é outro papo. Claramente o que veio depois sofreu com a megalomania de Snyder e os problemas internos da Warner. Mas como produto único, Homem de Aço, de 2013, é um sucesso de público e de formato pensado para o momento de seu lançamento. Não é à toa que os fãs de Henry Cavill se doam tanto com a imagem de David Corenswet vestindo o S no peito. Cavill é o Superman dessa geração que cresceu com O Cavaleiro das Trevas e entende que qualquer herói nasce deste cenário sombrio e realista.

Vivemos um momento diferente em 2025. O cinema de super-heróis ainda atrai muito público, mas não é sucesso garantido como antes da pandemia. Aliás, voltamos a viver momentos desesperançosos em 2020 e a política internacional, com as guerras e chacinas pelo mundo, colocam o Relógio do Apocalipse em seus momentos finais. É nesse contexto que James Gunn traz de volta um Superman colorido, com um cachorro de estimação, com a mãe que arruma seu uniforme e com o amor entre o herói e Lois Lane no cerne da história. Superman - O Retorno ganha ainda mais relevância.

O trabalho de Bryan Singer tem tudo o que queríamos ver no herói novamente. Brandon Routh é um Superman gentil, que sorri de um jeito inocente, mas que nunca deixa de impor sua força. E isso passa longe de ser apenas a força bruta. O Retorno segue a ideia de Richard Donner, da proximidade do herói com a população, que desce até as ruas, que interage com os cidadãos. O herói que está “sempre por perto”, como ele diz para Lois. Em um dos momentos mais interessantes da história, o herói resgata Lois, o atual “marido” e o filho, que ele acredita ser do casal. Não importa qual seja a situação do amor dos dois após o sumiço do herói por cinco anos, ele dá as mãos ao seu “rival”, interpretado por James Marsden, e salva aquela família. Esse ato de heroísmo verdadeiro vai levar os três a, minutos depois, retribuir o gesto e resgatar o Superman quando ele é atacado por Lex Luthor (Kevin Spacey) e deixado para afundar no oceano. Se a humanidade precisa do Superman, o herói não é ninguém sem essa reciprocidade.

São nos erros dos humanos que residem alguns dos “vilões” da história. Se Lex Luthor é a grande personificação disso, os outros cidadãos da Terra seguem o que os tornam únicos: falhar. Seja na vontade de voar mais alto do que podem - como na sequência do ônibus espacial -, na ganância dos ladrões que roubam um prédio ou no arrependimento de não enxergar o plano genocida que apoia, como acontece com Kitty, personagem de Parker Posey, todos falham em algum momento.

São esses erros que Clark, o alter-ego civil, precisa aprender enquanto anda disfarçado pelas ruas de Metrópolis. Não é por acaso que ao salvar a Terra, ele fique desmaiado no espaço em formato de cruz. Zack Snyder não foi o primeiro e nem será o último com as alusões bíblicas, como muitos fãs do “visionário” pensam. Na verdade, o diretor falhou ao entender que mesmo Jesus precisou andar junto ao povo para entender quem ele estava salvando. Nem só de milagres vive o mito. Kal-El precisa ver o mundo com os próprios olhos, mas por meio do olhar humano. Só assim ele pode cumprir seu papel como Superman.

Depois de tantos anos sendo deixado de lado, chamado de chato, parado, sem ação, Superman - O Retorno é o filme que precisa ser redescoberto com o início desse novo DC Universe. Uma peça única, que não precisa nem de prequel ou sequência. Uma obra sobre laços maiores que a distância entre a Terra e Krypton, sobre olhar para o outro e sobre legados. Donner deixou o seu, Snyder também e Gunn dá o primeiro passo agora com o DCU. O de Bryan Singer também merece ser lembrado. O mundo e o cinema de super-heróis precisam de Superman - O Retorno.

 

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