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Omelete Entrevista: Robert Downey Jr, o Tony Stark de Homem de Ferro

Ou será que entrevistamos Tony Stark em pessoa?

30.04.2008, às 18H00.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 16H06

Em Hollywood é extremamente comum, quase uma regra, na verdade, encontrarmos atores e atrizes nas entrevistas de divulgação de seus novos projetos com visual completamente distinto do que apresentam no filme que estão mostrando. Pra ficar mais claro: Se Angelina Jolie está morena em seu novo trabalho, ela aparecerá loira nas entrevistas. Se Keanu Reeves viveu o Neo, aparecerá de barba e boné. É sempre assim, uma regrinha do "business" para evitar que astros e atrizes fiquem escravos de seus papéis.

robert downey jr.

iron man

homem de ferro

homem de ferro

Homem de Ferro

Assim, foi com assombro que entrevistamos... Tony Stark! Sim, Anthony Stark, o personagem dos quadrinhos da Marvel Comics, vivido por Robert Downey Jr. no filme Homem de Ferro. O ator não apenas foi às suas entrevistas do filme na Comic-Con com o mesmo cavanhaque e cabelo do personagem, mas apareceu vestindo um dos ternos que ele usa no filme! Isso é que é entrega - e orgulho do trabalho realizado. Confira agora então como foi nosso (surrealista) papo com Ton... com Robert Downey Jr.!

Depois da maratona de filmagens você sentiu saudades de viver Tony Stark?

Eu não desejaria essa trabalheira toda nem para os meus piores inimigos - saí direto das filmagens de Homem de Ferro para as de Tropic Thunder. Terminar um trabalho tão épico quanto esse e passar direto para outro tão cedo é loucura - mas por um lado é ótimo. Se não tivesse que entrar em outro personagem na seqüência ia ficar pensando que ainda era o Tony. "Eu não sou Tony... Eu não sou Tony... Mas por que não sou?"

Por que você gosta tanto de Tony?

Do que você está falando? Honestamente, não sei se você percebeu, mas estou vestido de Tony Stark agora. Esse terno é do filme.

Ahaha, ok. Você sentiu a pressão de viver um personagem tão amado e de ter que fazê-lo da maneira como os fãs sentem que o conhecem?

Em todos os projetos há aquela sensação de pressão. Mas ela costuma vir dos nossos próprios medos. Mas nesse caso eu mesmo me tornei um fãzaço de Homem de Ferro. E acho que tenho o que é necessário para vivê-lo, então isso conta para tirar um pouco da pressão. E a energia adicional veio da própria atmosfera. Os escritórios de pré-produção ficavam no mesmo lugar onde Howard Hughes montava seus projetos de aviação [bilionário da indústria do petróleo apaixonado por aviões e inspiração para Tony Stark]. Lá eu ia de um departamento a outro, vendo tudo o que esses monstros do cinema estavam aprontando. Entre uma visita e outra fazia exercícios pra parecer bem naqueles 11 segundos do filme em que pareço musculoso. Nunca mais vou parecer tão bem. Dei uma inchada para o papel mas agora tudo já foi embora.

Acho que ioga e alimentação e suplementos, dormir bem, são mais importantes que malhar. Você precisa manter sua cabeça no lugar. É fácil despirocar. E mais fácil ainda que isso aconteça em Hollywood. Não é mole conseguir um filme como esse. Você precisa jogar direito - e eu às vezes esqueço das regras. Sabe, a vida é 85% manutenção. Você passa a maior parte do seu dia garantindo que não vá tudo pro buraco.

E como você decidiu aceitar esse papel?

Externamente, não sou mais um menino - então se você vai fazer algo assim, precisa fazer antes que a idade faça com que pareça algo embaraçoso. E tem o [diretor] Jon Favreau. Esse cara é um tesouro nacional e quando veio a chance de trabalhar com ele nisso - e talvez outra vez futuramente - nem precisei pensar duas vezes.

Alguns dos dublês reclamaram bastante da armadura. Foi difícil usá-la?

Nós fazíamos turnos de reclamação. Éramos eu e mais dois caras, cada um filmando com uma equipe diferente, segunda unidade ou principal. Fazíamos visitas de apoio um ao outro. Chegávamos e apoiávamos o cara na armadura - com uma poça de suor aos seus pés. Éramos um grupo muito unido de homens de ferro.

Depois de um blockbuster desse e de Tropic Thunder você pretende dar um tempinho e fazer uns filmes menores?

De jeito nenhum! Lembra de quando o trailer passou na Comic-Con e da reação daqueles milhares de pessoas? Fiquei super orgulhoso e cheio de adrenalina. Eu comecei no teatro e aquilo foi equivalente a uma peça com 400 pessoas nos bastidores - os melhores da indústria - apresentando dois minutos de seu trabalho e recebendo as melhores críticas possível de uma multidão de especialistas apaixonados.

Pergunta nerd: Qual seu Tony Stark preferido? Ultimate ou clássico?

Eu sou um modernista, mas a origem é maravilhosa. Qualquer uma das versões é detonante. [Downey Jr. aponta a palma da mão esquerda para meu rosto, mudando de assunto] Esta nem é a minha mão com raio repulsor mais forte.

Foi incômodo usar aquele coração-reator colado no seu peito o tempo todo?

Usar qualquer coisa, mesmo um relógio, é incômodo se você não estiver com a cabeça no lugar.

[Downey Jr, então, inicia um ótimo monólogo completamente fora da pergunta - provando o que Gwyneth falou-nos em sua entrevista anterior, que ele "pensa de maneira modular" (leia)]

Uns dias atrás os caras no set vieram me dar uns tapinhas nas costas, dizendo 'você passou uns apertos aqui, a filmagem foi bem dura', mas quer saber? Foi uma experiência mágica. Sem brincadeira, a cada dia que chegávamos lá - e isso me lembrava algo que li sobre Chaplin, como ele chegava ao set sem qualquer idéia na cabeça e partia dali - nós pegávamos o roteiro que tínhamos nas mãos e discutíamos "como vamos tornar isso algo que nós realmente gostaríamos de encenar?" era uma coisa muito, muito artística, um jeito de trabalhar fantástico, diferente. Isso me fez ter vontade de dar tudo, de escrever como nunca, de ser disciplinado... adoro as cenas na garagem, criando o Mark II, elas exemplificam isso, essa busca por algo diferente. Mas qual era a pergunta mesmo?

O coração reator.

Nem um pouco.

E a inspiração para Tony veio de playboys famosos?

Não. Eu busquei umas coisas estranhas pra ele - penso em Tony como uma entidade à parte. Gente com dinheiro é comum demais - eu mesmo venho trabalhar e sou cercado de pessoas que fazem tudo o que eu quero, tenho carros de 100 mil dólares e essas coisas. Mas eu nunca trabalhei ou passei pelas coisas que esse cara passou. Nunca vivi nem quatro segundos feito Tony Stark. Então tive uma experiência incrível tentando entender o que seria ser um sujeito com recursos infinitos - coisa que ele resolve aplicar em um projeto extremamente fetichista e obsessivo. Eu acho que é uma jornada de personagem muito humana e para encará-la em pensei muito mais em mitologia e as coisas de que os humanos são capazes do que em figuras reais. Tony é meio divino nesse sentido e daí vem essa percepção super-heróica dele. Mas o mesmo pode ser aplicado a uma mãe solteira, ou outros tipos de pessoas que passam por provações.

Quanto das suas experiências e lutas têm a ver com a maneira que você viveu o personagem?

Eu acredito que quando alguém tem uma mudança fundamental e evolui, não pensando mais no 'vou cair na noite, e em depois vou pra desintoxicação de novo', essa pessoa finalmente deixa pra trás o vai-e-vem. Quando você finalmente enxerga essa luz e começa a fazer a coisa certa, deixa de se relacionar com aquela figura do passado, que às vezes as pessoas insistem que ainda é você Claro que tenho esse passado que me relaciona com Tony Stark - ele é conhecido por ficar louco, irresponsável e chapado demais pra conseguir colocar sua armadura. Quando eles me convidaram [para o papel] mal pude acreditar. O fato é que Tony foi um cara em conflito nos quadrinhos, com aquela história do Demônio na Garrafa, mas decidimos não mostrar isso por enquanto, já que temos tanta coisa no filme já. por enquanto vamos evitar a coisa do Pirandello. Mas eu entendo a relação. Por um lado, o personagem é ideal pra mim e eu so ideal pra ele".

[Por Pirandello, Downey Jr. refere-se ao autor de teatro Luigi Pirandello (1867-1936), escritor de Seis Personagens à Procura de Autor (1921), peça que faz um estudo metalingüístico do teatro tornando tênue a linha que separa atores e escritores de personagens. Por "Demônio na Garrafa", o astro do filme refere-se a um dos mais populares arcos de histórias do personagem. Lançada em 1979, a história relatava, pela primeira vez, os problemas de um herói com o vício]