A exceção no currículo do cineasta Andy Fickman é Anaconda, filme que ele produziu e acompanhou as filmagens aqui na Amazônia. De resto, podemos resumir seus projetos entre comédias e filmes-família. Bom, isso se você descontar as risadas involuntárias do filme da cobra... Brincadeiras à parte, a conversa por telefone que tivemos com Fickman rendeu risadas de ambos os lados e um belo papo sobre como fazer a indústria cinematográfica do Brasil crescer, OVNIS (o cara nasceu em Roswell!) e, claro, bastidores das filmagens de A Montanha Enfeitiçada.
A Montanha Encantada
A Montanha Encantada
A Montanha Encantada
A Montanha Encantada
A Montanha Encantada
Oi, Andy, como vai?
Andy Fickman: É um prazer falar com você.
O prazer é meu. Pena que não seja cara a cara.
De que parte do Brasil você está falando?
São Paulo.
Ah, Sao Paulo...
Você já veio para cá?
Eu produzi um filme chamado Anaconda, que foi filmado em Manaus. E acabei viajando por outras cidades enquanto estava por aí.
Por onde mais você passou?
Uns dias em São Paulo, que foram quase férias depois das filmagens. Também fomos ao Rio de Janeiro e outras cidades menores que não consigo lembrar o nome.
E como você foi recebido aqui no Brasil? Gostou das pessoas que conheceu, como foi?
Nossa, nem preciso dizer como todas as pessoas foram amáveis. Em Manaus, nós ficamos em um lugar chamado Hotel Tropical. Passamos vários meses lá fazendo o filme. A equipe brasileira que nós contratamos era ótima e só tenho ótimas lembranças de todos que conheci. E da comida também! E da caipirinha!
Ah, claro! Não dá para ficar sem experimentar a caipirinha...
Toda noite, depois das filmagens nós ficávamos descansando ao lado da piscina tomando caipirinhas.
Que vida dura!
Sim, foi muito difícil. [risos]
Nós temos a preocupação de ver a indústria de filmes no Brasil cada vez mais forte. Você tem dicas do que precisamos melhorar, o que está faltando?
Acho que precisam é fazer cada vez mais filmes. As pessoas que vocês têm trabalhando no Brasil são ótimas. O nosso diretor, Luis Llosa, um peruano, conseguiu montar uma equipe muito boa. Acho que o que precisa é vir mais aqui para Hollywood e mostrar o que vocês têm, os diferentes tipos de locações, o lugar onde as pessoas podem se hospedar. Enfim, explorar toda a geografia que vocês têm, que gera os mais diversos visuais, que podem ir das grandes cidades, às praias, florestas...
Mesmo aqui nos Estados Unidos, cada estado - Califórnia, Novo México, Texas - tem um escritório que envia para Hollywood fotos, calendários e todo tipo de material para chamar as pessoas a irem lá filmar. Acho que quanto mais vocês conseguirem educar Hollywood, mais ela vai aparecer por aí.
Você gostaria de voltar a filmar por aqui?
Eu adoraria! Seria muito divertido. [O país] tem uma mágica enorme e tantos lugares diferentes que seria um enorme prazer.
Bom, vamos falar um pouco de A Montanha Encantada. Para começar, explique, por favor, o por quê dessa leve mudança no título original, que no livro já era Escape to Witch Mountain (Fuga para a Montanha Enfeitiçada) para essa adaptação, que você batizou de Race to Witch Mountain (Corrida para a Montanha Enfentiçada).
Bom, sou fã do filme que a Disney fez em 1975, adaptado do livro, e quando começamos a desenvolver o projeto, nós nunca quisemos fazer disso uma refilmagem. Nós gostávamos daquele mundo e da mitologia, mas passados 30 anos, nós queríamos contar uma outra história. E a história que nós estávamos criando era mais uma corrida mesmo e trazia novos personagens. Então, embora a ambientação fosse a mesma, todo o resto era diferente.
Quais são as referências que você traz do filme original?
Com exceção do retorno dos atores que fizeram as crianças - Kim Richards, que fazia a Tia e Ike Eisenmann, que era o Tony -, todo o resto é novo. A nossa versão é maior. Está mais para Área 51, com uma grande instalação militar que é toda subterrânea, sombria...
E foi difícil trazê-los de volta para fazer essa ponta?
Foi muito divertido para mim trazer Kim Richards e Ike Eisenmann de volta. Todo o elenco se apaixonou pelos dois.
Você já tinha trabalhado com o Dwayne antes. Ele começou como um ator de filmes de ação e então passou para os filmes família. Você conseguia ver esse lado dele antes?
Quando o conheci, eu era um grande fã dele. Sabia que estava ali um ótimo ator, preparado para os filmes de ação. E quando trabalhamos juntos, em Treinando com o Papai, nós queríamos mostrar o coração, o humor, o carisma que são bem diferentes dos filmes de ação. Dwayne foi muito a favor desse processo e foi muito fácil filmar com ele porque ele aceitou tudo isso. E agora, com Montanha Enfeitiçada, o bom é que nós podemos combinar coisas que já havíamos feito antes, ele trazendo a experiência dele da ação e eu a minha do humor, e misturar tudo. Eu devo muito ao Dwayne, porque ele me mostrou na nossa primeira vez juntos que é um ótimo ator e que não existe algo que ele não possa fazer. E para mim, como diretor, é uma dádiva ter alguém para quem eu posso ficar criando situações divertidas. Foi daí que veio a inspiração de criar esse filme que é uma montanha russa, uma mistura de aventura e diversão.
E o personagem dele não existe no livro, nem no filme de 1975. Por que você decidiu que ele seria um taxista?
Sim, isso tem uma explicação. Eu já fui para Las Vegas algumas vezes e andei de táxi por lá. Tem uma coisa muito peculiar sobre os taxistas de Vegas, que é o fato de haver uma área de cerca de 6.4 km que é onde os cassinos ficam e é por ali que eles ficam andando para cima e para baixo por 8, 10, 12 horas por dia. Na mesma rua. O tempo médio que eles ficam com um passageiro não passa muito de 10, 15 minutos. E com um cotidiano desses, não tem como você ser uma pessoa socializável. Daí veio a ideia de criarmos um personagem que não está acostumado a falar com as pessoas, não é bom em relacionamentos e que quando olha para trás tem dois alienígenas no banco de trás do seu carro pedindo ajuda. O que você faria? Foi isso que criou a dinâmica que nós achamos que daria o ritmo certo ao filme.
Então agora as crianças sabem que elas são aliens desde o começo? Não é como no livro, que eles não têm a memória e acham que são órfãos, para só depois descobrir a verdade.
Não. Nós optamos por deixarmos que eles soubessem que eram alienígenas desde o início do filme. Eles vêm do planeta deles para o nosso com uma missão bem definida. Essa foi outra das mudanças que optamos por fazer.
Você pode falar um pouco como foi trabalhar com Cheech Marin?
Trabalhar com Cheech foi ótimo. Eu cresci me divertindo muito com Cheech & Chong e quando estávamos pensando em quem ficaria legal para o papel do mecânico, o nome dele veio à tona. Nós ficamos muito empolgados com a ideia e quando estávamos filmando, todo mundo ia lá falar com ele e comentar quais eram as coisas mais engraçadas que se lembravam e tal. Foi um sonho realizado trabalhar com uma lenda como ele.
Não sei se você chegou a conversar com ele sobre isso, mas podemos sonhar com a volta da dupla Cheech & Chong?
Eu ouvi um boato de que eles estão conversando sobre voltarem a excursionar de novo. E isso seria ótimo!
E vendo o sucesso de filmes como Segurando as Pontas (Pineapple Express), dá para dizer que esse tipo de humor continua funcionando.
Sim, sem dúvida. Eu dirigi um filme chamado Reefer Madness: The Movie Musical, baseado em uma peça e foi premiado no festival de Deauville (França) e bastante comentado em Sundance, que trata do tema, e posso garantir que tem muito o que ser explorado ainda.
Podemos falar um pouco dos seus próximos projetos? Eu estava lendo que você vai produzir remakes de antigos filmes da RKO, como The Body Snatcher, Bedlam, I Walked With a Zombie e Five Came Back...
Estamos muito empolgados que vamos cuidar de toda essa série em parceria com a Twisted Pictures [produtora da série Jogos Mortais]. O primeiro vai ser I Walked With a Zombie, com as filmagens começando por volta de março ou abril em Nova Orleans. Os outros três que estamos em estágios bem avançados também, sendo que The Body Snatcher eu devo dirigir.
Como serão os orçamentos desses filmes? Vão ser produções de custo bem baixo, pensando nos fãs mais ardorosos do gênero?
O pessoal da Twisted Pictures quer manter o mesmo tipo de orçamento que eles têm na série Jogos Mortais, já que eles provaram que conseguem fazer algo de boa qualidade gastando pouco.
Eu li que você nasceu na cidade de Roswell e comecei a pensar... será que ele realmente nasceu ou foi "achado" por lá? Você não é um alienígena, é?
[Risos] Acho que é uma pergunta que todo mundo que nasceu em Roswell já fez sobre si mesmo. Eu só repito a história que a minha mãe me contou, que é a de que eu nasci lá. E resolvi nunca invstigar isso muito a fundo.
E o fato de ter nascido lá despertou em você essa curiosidade em OVNIS e afins?
Eu diria que 100%! Roswell, no Novo México, é uma das cidades mais conhecidas do mundo quando o assunto são Objetos Voadores Não Identificados. Quando você diz que nasceu por lá, é a primeira coisa que as pessoas comentam. Desde criança eu tinha uma curiosidade, que só cresceu com o passar dos anos.
Para terminar esse papo, nós temos aqui no Brasil a cidade de Varginha, em Minas Gerais, que tambem é conhecida pelos ETs.
Eu já li e vi algumas coisas a respeito dessa cidade, sim, quando estava fazendo a pesquisa para esse filme. É uma das cidades mais famosas.