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O maior amor do mundo

O maior amor do mundo

MF
07.09.2006, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H20

O trailer é fraco. O ritmo do filme é lento. Apesar do título, não se trata de um romance. E, ao sair do cinema, a sensação inicial é de tristeza. Apesar disso tudo, O maior amor do mundo é um exemplo a ser seguido de cinema que consegue aliar atores conhecidos com boas idéias bem realizadas. Aqui, os conhecidos rostos das novelas globais vão além do trivial. A entrega é maior. Os personagens são maiores. Tridimensionais.

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O protagonista é Antônio. Quando o conhecemos, ele já é adulto e sabe da sua condição de doente terminal. Mas graças à ótima atuação de José Wilker, o espectador não é levado a se emocionar de forma barata, ficando com pena da sua situação. Pelo contrário. Feito com a estrutura de um road movie - o gênero que visa o autoconhecimento - o objetivo aqui é entender o por quê de sua vida, da tristeza que sai de seus olhos até quando eles estão fechados. Por isso, acompanhamos também alguns dias de Antônio quando ainda era criança (Gustavo Martins), e na sua juventude (Max Fercondini).

Nestas idas e vindas da história - que é feita de forma não linear, mas bastante clara, utilizando fotografia, figurino e músicas bastante diferentes entre si - vamos andando por um Rio de Janeiro que não é a Cidade Maravilhosa e conhecendo personagens que não obedecem ao maniqueísmo habitual. A favela não é só uma boca de fumo. O menino que faz o trabalho do vapor é o mesmo que ajuda a colocar comida na mesa da família. O clichê foge do lugar comum, mostrando situações muito mais realistas.

Rápido e bem feito

O maior amor do mundo foi escrito e dirigido por Carlos Cacá Diegues em tempo quase recorde, dois anos. Esta rapidez causou espanto até no experiente cineasta, mas o fato de já ter na bagagem outros 15 longas-metragens, incluindo aí Xica da Silva (1976), Bye Bye Brasil (1980) e o recente Deus é brasileiro (2002), ajudaram a dar ao projeto a agilidade que ele pedia sem pecar na qualidade. E isso reflete na tela em pequenos detalhes, como o pesado terno de lã que prova o total deslocamento de Antônio no Rio de Janeiro, ou as cenas cheias de cortes rápidos, conseqüência da sua doença, que atinge o cérebro e a visão.

Apesar de ter feito o roteiro sozinho (algo incomum em sua carreira), Diegues diz que a história não tem nada de autobiográfica. Antônio nasceu de um personagem marginal de Deus é brasileiro, que descobre que vai morrer e quebra tudo à sua volta. Por isso, a palavra-chave que melhor define o projeto é instante, afinal, estamos falando de alguém que pode morrer a qualquer momento e acaba descobrindo que todos os anos que ficou isolado do mundo, vivendo nos Estados Unidos entre livros e trabalhos como astrofísico, o alienaram da vida. A personagem que o puxa de volta à Terra e mostra uma outra forma de ver estrelas é Luciana (Thaís Araújo). Mas apesar disso, ela é tão importante nestes seus últimos cinco dias de vida quanto o amargurado pai de Antônio (Sergio Britto/Marco Ricca), a mãe de santo (Lea Garcia) e o moleque que vive de vender drogas e dar pequenos golpes na favela onde mora (Sérgio Malheiros).

Mesmo mostrando cenas na favela, com tráfico de drogas e violência, O maior amor do mundo não é mais um filme nacional para exportação ou de denúncia das diferenças sociais que todos conhecemos. O intuito aqui é fazer o público pensar, refletir sobre os rumos que tomamos em nossas vidas. Como diz o famoso e rico astrofísico Antônio para o favelado Mosca "Eu podia ter sido você".