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O Grilo Feliz e os Insetos Gigantes

A criação de Walbercy Ribas chega à computação gráfica em uma história com preocupação social

MH
08.01.2009, às 15H00.
Atualizada em 07.11.2016, ÀS 03H07

Depois de ganhar um desenho em 2001, o Grilo Feliz agora chega à era da computação gráfica. Se o trabalho do diretor Walbercy Ribas antes comovia pela perseverança - ele gastou 20 anos e dinheiro do próprio bolso para fazer o longa-metragem - agora O Grilo Feliz e os Insetos Gigantes (2009) pede uma avaliação menos complacente. Mesmo porque há um monte de selos de patrocinadores nos créditos de abertura e a renúncia fiscal de que a produção usufrui é paga pelo contribuinte.

grilo feliz

grilo feliz

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Os tempos de Cassiopéia já passaram há muito, e os avanços da animação em CGI hoje permitem que o segundo Grilo Feliz tenha uma cara muito mais profissional do que o primeiro. A história parte de uma descoberta enterrada em dunas: esqueletos dos tais gigantes do título, que se tornam atração tanto para os insetos pequenos quanto para os temíveis louva-a-deuses. Paralelamente, os sapos tentam encontrar uma vocalista para seu trio musical e o Grilo Feliz segue com seu sonho de levar música para todos na floresta.

As três tramas se cruzam casualmente, literalmente num bater de cabeças no meio da rua. O roteiro - de Ribas - carece de um fio dramático central e o seu desenvolvimento acontece aos saltos. O criador tem dificuldade em encadear eventos e as cenas resultam sem transição (em retrospecto, o primeiro filme tinha uma trama mais modesta mas era melhor amarrado). Comparando, é como naquele blockbuster de ação em que o diretor só pensa nos sets principais mas calcula mal como os personagens transitarão de um a outro. Falta a O Grilo Feliz e os Insetos Gigantes senso de tempo e de espaço.

O que não falta é desejo de fazer uma animação com temas brasileiros: do trio elétrico ao repente. Para o bem ou para o mal, isso imbute todo um discurso contra a "realidade das ruas": crianças abandonadas, trabalho escravo infantil, contrabando de comida que estraga, louva-a-deuses sem primeiro grau, bancas de rua que pirateiam o CD dos sapos rappers da favela. A certa altura, o Grilo Feliz exalta a sua música porque ela ajuda na "formação do caráter e da dignidade". Não é de se estranhar que o filme tenha tanto patrocinador - é antropomorfismo com a famigerada contrapartida social.

O melhor de Ribas continua sendo o design dos personagens - quem é mais velho vai lembrar não só da propaganda da marca de televisão de onde saiu o grilo, mas também das baratas do comercial de inseticida e do homem do cotonete (os fios de cabelo quebradiços continuam os mesmos). Dono do estúdio Start de animação, Ribas produziu em 40 anos algumas das mais famosas peças de marketing da animação brasileira. No cinema, o saldo é mais modesto. O Grilo Feliz resulta um herói mal definido - ele sabe tocar músicas do Jota Quest para as crianças, mas na hora de mostrar serviço e salvar a donzela...

As crianças bem pequenas podem até se entreter com O Grilo Feliz e os Insetos Gigantes. As maiores talvez perguntem para os pais, já incomodadas com as incongruências, como o vilão pretende fugir num carrinho de montanha-russa se ele nunca vai deixar de andar em círculos.