Filmes

Entrevista

"O ator nunca está totalmente pronto, ele vai se aperfeiçoando com os anos", diz Guilherme Rodio

Ator brasileiro premiado em festivais internacionais fala do curta Sal, mercado brasileiro e futuros projetos

05.05.2017, às 13H45.
Atualizada em 05.05.2017, ÀS 15H04

Como muitos jovens de sua época, Guilherme Rodio tinha uma profissão considerada tradicional, mas sempre teve o sonho de ser ator. Hoje com 35 anos, ele coleciona prêmios internacionais por atuação e trabalha na divulgação do elogiado curta Sal e da série de TV Pacto de Sangue, do canal SpaceHD. Em entrevista exclusiva ao Omelete, Rodio fala sobre essa grande mudança de carreira:

“Eu trabalhava de dia e fazia teatro à noite. Mas eu não gostava do trabalho de publicitário, fazia ‘na marra’. Até que um professor da escola de teatro me convidou para atuar em uma peça que os ensaios aconteciam no período da tarde. Eu pensei que não poderia perder aquela oportunidade e deixei o trabalho de atendimento em uma agência. Larguei um salário fixo para viver perigosamente [risos]. Além dos trabalhos já citados, o ator finalizou outro curta chamado Passagem das Horas, fez uma participação na série 171 – Negócio de Família, do canal Universal, e vai filmar o longa Segredo de Davi em julho.

Antes de conseguir uma bolsa de estudos e ir para os EUA, Rodio teve uma grande experiência no teatro nacional, e revela as maiores diferenças entre atuar nos cinemas e nos palcos: “No teatro o corpo do ator fala de um jeito mais expansivo e a energia que você cria no teu corpo precisa chegar até o público. E na câmera é um trabalho mais intimista, é uma relação muito íntima em que você tem que convidar a câmera para ela te acompanhar, entrar em você. O corpo também é exigido, você também tem um trabalho, mas ele é mais sutil”.

Curta misterioso e premiado

Atualmente, Guilherme Rodio divulga o curta Sal, que fez em parceria com a Parakino Filmes e o diretor Diego Freitas. Baseado em uma história real, o filme acompanha um técnico de informática solitário que encontra um homem intrigante em um site, onde pessoas compartilham estranhas fantasias. Ele toma coragem e decide conheccer esse homem em um encontro incomum. Assim como a sinopse, o teaser de Sal deixa muito suspense no ar e Rodio revela que teve um trabalho demorado para criar seu personagem:

“O mais difícil foi entender a mente de uma pessoa que faz uma coisa que eu jamais faria. E você precisa tentar encontrar justificativas psicológicas, porque todo mundo que faz alguma coisa, por mais hedionda que seja, dentro da cabeça dessa pessoa há uma justificativa. Então o trabalho mais difícil e demorado foi criar todas essas justificativas para que esse personagem tivesse coerência com ele mesmo, e que eu não julgasse as atitudes dele como Guilherme, e sim que eu o entendesse como um ser humano completo, com suas próprias idiossincrasias”.

O resultado final rendeu ao curta os prêmios de Melhor Diretor no Festival de Cinema Brasileiro de Toronto (2016); Melhor Diretor no Comunicurtas 2016 e Melhor Ator no Comunicurtas 2016 e Melhor Ator no Festival da Diversidade de Toronto (2016) para Rodio.

Formação com jeito de Brasil

Depois de ter conseguido vários reconhecimentos no mercado internacional, Guilherme Rodio revela que sua formação no teatro nacional teve uma importância muito grande para seu sucesso nos EUA: “Só consegui minha bolsa de estudos e meus convites de trabalho porque eu tinha uma formação daqui que eles não tinham lá, que eles acharam que isso poderia agregar ao trabalho deles. Lá nos EUA, o trabalho do ator é mais psicológico, enquanto o nosso aqui é mais físico”, explica.

Apesar disso, ele acredita que nosso país ainda tem grandes carências, principalmente em relação ao mercado audiovisual, que dá pouca segurança para os atores profissionais: “Lá existe uma demanda muito grande de profissionais, o tempo todo e isso faz com que você tenha um fluxo maior de trabalho e esteja sempre pronto e aquecido, porque a qualquer momento você pode trabalhar. E no Brasil o ator nunca sabe direito quando vai trabalhar. O ator pode finalizar um trabalho agora e outro só em seis meses”.

Para os jovens que querem embarcar no mundo da atuação, ela afirma que o estudo é o grande diferencial e que o aprendizado nunca termina: “Acho que o principal para o ator, e eu me incluo nisso, é que ele nunca está pronto, ele vai se aperfeiçoando com os anos. É preciso estudar muito, se dedicar e estar muito ligado ao ofício e não ao sucesso, fama e dinheiro. Você tem que se dedicar pelo próprio trabalho e o resto será consequência”.