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O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford

Faroeste contemplativo traz os últimos dias do pistoleiro celebridade

22.11.2007, às 15H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H29

No epitáfio original de Jesse James (1847 - 1882), escolhido por sua mãe, lia-se "Em memória de meu filho, assassinado por um traidor covarde cujo nome não é digno de aparecer aqui".

Jesse James

Jesse James

Se estivesse viva, Zerelda James (1825 - 1911) provavelmente se oporia ao mais novo filme sobre seu filho mais famoso. Ou pelo menos ao título, O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford.

Ao colocar no longo nome do filme, lado a lado, os nomes do lendário fora-de-lei e pistoleiro e seu matador, o drama de Andrew Dominik (veterano diretor de comerciais australiano) já explica aos mais atentos a que veio. Este não é o típico faroeste a que estamos acostumados. Não veremos o herói (ou anti-herói) cavalgando em direção ao pôr-do-sol no final. Não teremos um duelo honrado, com pistolas nos coldres e disputa honesta de habilidades. Não assistiremos aos atiradores precisos que furam moedas em pleno ar. Não ficaremos em dúvida sobre quem sairá vivo do embate final. Mas sabemos quem vai matar e quem vai morrer. E temos uma boa idéia de como.

Dessa forma, a produção se aproxima mais de uma continuidade da reinvenção moderna do mito do Velho-Oeste, tendência crescente nos últimos anos e iniciada por Clint Eastwood em Os Imperdoáveis, a um filme de gênero convencional. Seu tom e ritmo também são bastante distintos. Mais contemplativo e emocional que empolgante ou tenso. É muito mais Terrence Malick que Howard Hawks.

A única qualidade dos westerns clássicos que O Assassinato compartilha é a preocupação com a fotografia e música. A trilha de Nick Cave (que faz um ponta no final) e Warren Ellis é assombrosa e climática. Já Roger Deakins, diretor de fotografia, é quase um terceiro personagem principal na história, ao lado de Brad Pitt (Jesse James) e Casey Affleck (Robert Ford). O veterano Deakins, parceiro de sempre dos irmãos Coen, porém, vai muito além das grandes aberturas, da vastidão do oeste, do contraluz enigmático. Ele emprega com sensacional efeito filmagens através das vidraças rústicas - sensação que replica ainda em seqüências de flashback, borradas nas bordas. Tais cenas engrandecem a lenda, mais tarde desmistificada, de Jesse James.

Pitt vive o célebre pistoleiro com um convincente cansaço. Ele, como o criminoso emocionalmente instável, conhece as armadilhas da fama. James, incansavelmente perseguido pelo governo, vive escondido, mudando de casa com a família e temendo ser alvejado pela recompensa sobre sua cabeça (fugir dos paparazzi, do assédio histérico dos fãs, da mídia, deve dar quase na mesma). E a meditação sobre a celebridade que filme propõe não pára por aí. Quem é Robert Ford senão uma dessas pessoas lamentáveis que tentam se parecer com famosos ou buscam frequentar os mesmos lugares que eles? Casey Affleck, irmão de Ben, interpreta o estúpido assassino que confundiu fama com infâmia, de maneira brilhante, com uma petulância fingida e fragilidade de dar pena.

Assim, através de um retrato de época, O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford retrata o mundo de hoje. Basta trocar os cartazes de procurados pela Caras.

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