Antes de ter dirigido Feira das vaidades em 2004, o seu primeiro trabalho de expressão para cinema nos EUA, a cineasta indiana Mira Nair ganhou o mundo com o exotismo de Casamento à Indiana (2001), vencedor do Leão de Ouro em Veneza. A seu modo, Nome de Família (The Namesake, 2006) é a "continuação" do casamento.
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Mas uma continuação que já inclui na conta o elemento - hoje presente na vida da cineasta globalizada - do expatriamento. Na trama do filme, Ashoke (Irfan Khan), indiano que vive em Nova York, retorna a Calcutá para se casar. Lá, sua família lhe apresenta a família de Ashima (Tabu). A moça se interessa, de cara, pelo desconhecido: o possível noivo calça sapatos "made in USA". Ashoke adianta que, se eles se casarem, terão que viver longe da Índia. Ashima diz que sim.
Os primeiros dias da moça em Nova York não poderiam ser mais difíceis. Além da distância de casa, há o inverno, um frio que Ashima jamais sentiu. Nome de Família começa a se desenhar como um drama sobre choque de culturas. O mais interessante: esse choque não se dá por imposição, o que é comum em outros filmes, mas por opção. Ashoke e Ashima escolheram que fosse assim.
O simples fato de excluir da equação o fatalismo - fatalismo no sentido de não ter domínio sobre a própria vida - abre Nome de Família a uma série de possiblidades. O filme se ambienta nos anos 70 e transcorre por três décadas até os dias atuais; há, portanto, todo um contexto sóciopolítico nos EUA de transformação da terra das oportunidades em terra do obscurantismo. Mira Nair já trabalhou a realidade da xenofobia pós-11 de setembro em um curta-metragem do filme 11'09''01, poderia muito bem estender o tema em um longa-metragem.
Acontece que não é essa história que a diretora quer contar. No ápice de sua difícil adaptação, Ashima engravida. E Nair acompanha, a partir daí, a vida do garoto (interpretado por Kal Penn, conhecido pelos besteiróis hollywoodianos), Gogol. Da infância cercada de cultura indiana, Gogol cresce tendo que se adaptar ao estilo de vida local. O seu nome vira piada a ponto de o personagem, agora adolescente, escolher trocá-lo, para desgosto de seu pai.
De choque de culturas, Nome de Família se torna, de um minuto a outro, um drama sobre choque de gerações. E isso implica um estreitamento nas possibilidades não só dos personagens (Ashoke e Ashima escolheram viver longe de casa, mas Gogol não pode escolher ser diferente do que ele é) como nas possibilidade do filme em si.
Não se trata, aqui, de condenar a opção de Mira Nair. Contrapor gerações é uma escolha legítima. O problema é o jeito de fazer. O drama do casal expatriado não nos deixava ver onde tudo aquilo ia desembocar. Já o dilema existencial do filho não poderia ser mais óbvio. É claro que ele vai rachar a relação com os pais até a hora em que amadurece e reconhece as suas origens. É evidente que se arrependerá de ter mudado de nome.
A inexpressividade de Kal Penn contribui para empurrar Nome de Família ladeira abaixo, mas a culpa maior é da diretora. De uma pessoa mente aberta como ela se esperaria mais do que o velho discurso conservador contra a juventude, do tipo "os mais velhos é que têm sempre razão". Sabedoria não é privilégio que se conquista apenas com a idade.