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Netflix no cinema: um caminho sem volta ou apenas um blefe?

Gigante do streaming começa a dar sinais que presença no cinema será algo recorrente nos próximos anos. Resta saber até quando

5 min de leitura
11.11.2025, às 06H00.
Atualizada em 11.11.2025, ÀS 06H40

Não é de hoje que a Netflix lança seus produtos no cinema. A gigante da tecnologia (e do entretenimento) sempre deixou claro que seu modelo não leva em conta o lançamento na tela grande, mas de uns anos pra cá, a presença dela neste tipo de ambiente se tornou mais comum. E o que antes era voltado somente para filmes de prestígio artístico e com olhos no Oscar, agora se transformou em algo para grande público (Guerreiras do K-Pop), moeda de barganha para grandes artistas aceitaram trabalhar para eles (Greta Gerwig com Nárnia) e até encerramento da maior de todas as marcas da Netflix, a série Stranger Things, que terá seu último episódio exibido nas maiores redes dos EUA.

Mas até onde vai esse namoro da empresa com as salas de cinema?

Ainda que note-se uma aproximação deste tipo de estratégia, os chefões da companhia sempre deixam claro que “cinema não é o negócio da Netflix” - quando não evidenciam que “cinema é um negócio retrógrado”. Zach Cregger, um dos nomes grandes na nova Hollywood e responsável pelos sucessos Noites Brutais e Hora do Mal, chegou a fechar um acordo com a empresa para lançar um novo filme, que não avançou após Ted Sarandos não aceitar que houvesse também uma janela nos cinemas. Para toda atitude em prol da distribuição em salas, a Netflix tem um movimento contrário a isso - e não é por acaso, em suma, o que de fato torna a empresa mais valorizada para acionistas é o modelo de negócio base que ela tem: streaming e assinaturas. Ou seja, qualquer decisão que trate cinema como prioridade não só vai contra o que eles vendem, como fortalece a concorrência.

Um fato inegável é que os cinemas, ainda que em um momento complicado, têm resistido às mudanças de consumo do público e segue como uma opção na carteira de quem gasta com entretenimento. Em um determinado momento, parecia que não tinha volta e não haveria forma do formato sobreviver, apesar dos constantes esforços da máquina hollywoodiana em deteriorar a qualidade e variedade dos filmes (algo que acontece de tempos em tempos e se agrava em crises econômicas globais). Ainda que não tenha voltado ao patamar de 2018 ou 2019, a recuperação da indústria parece lenta, mas constante, e depende mais de uma atratividade dos produtos do que do formato em si - não faltam exemplos de filmes pequenos, médios ou grandes que atraem multidões mesmo com a concorrência de redes sociais, esportes ou a própria Netflix e outros streamings. 

Por isso, e nas migalhas positivas que as bilheterias e presença em salas mostram, o modelo do cinema não vai embora tão cedo. Não à toa, parece uníssono o argumento de que “a experiência no cinema é inigualável”, até quando vem dos Irmãos Duffer, criadores de Stranger Things, que pediram para que o finale fosse lançado na tela grande. E de fato, a experiência de comunidade, presencial e física, em um mundo cada vez menos pessoal, íntimo e humano, se torna algo diferente e mais valorizado. Dito isso, qual caminho veremos para a Netflix nos próximos anos?

A Netflix vai virar um estúdio de cinema?

Nunca é uma palavra forte, mas dificilmente veremos essa mudança tão drástica, do mesmo jeito que nunca vimos Microsoft ou Google virarem marcas de Hollywood. Amazon, por sua vez, se transformou a ponto de virar um importante jogador neste meio, mas não dá pra dizer que é um estúdio de cinema - ainda que a compra da MGM dê indícios mais fortes disso. A questão é que para a Amazon o negócio final é a compra pela compra. Ela faz uma série para vender papel higiênico no marketplace, faz um filme para vender (também) o merchandising. Mas seu tempo gasto ali na plataforma compensa o investimento de milhões, independente da compra que realize. Se for com a marca e produto deles, melhor ainda.

A Netflix, hoje, busca novas formas de gerar receita dentro do modelo que a fez ser gigante: assinaturas. O crescimento que teve com o plano de anúncios foi significativo a ponto de dezenas de contratações serem feitas e eventos para o mercado serem realizados tal qual a Globo, Google e ABC fazem. Não é segredo para ninguém que a Netflix enxerga no YouTube, TikTok e na TV aberta uma concorrência mais relevante do que estúdios, por exemplo. E talvez aí esteja a real comparação que deve ser feita para entender onde está a relação dela com os cinemas. Enquanto agrada uma parte da indústria criativa com um ou outro lançamento (e prêmios) na tela grande, a líder do streaming move as peças onde realmente importa: aquisição do tempo do consumidor. Eles compraram os direitos para a Copa do Mundo de futebol feminino, as transmissões da WWE, lutas de boxe e devem brigar pelos direitos da Champions League 2027-2028. 

Em um cenário de incerteza econômica e política, é natural que o futuro do entretenimento fique também em cheque, ainda mais com tantas mudanças no perfil do consumidor que é nativamente digital, logo, em constante mudança. De toda forma, com mais de uma década no topo do streaming, a Netflix se aproxima mais de um modelo de TV, com transmissão, anunciantes e assinaturas, do que um estúdio - e por isso mesmo que o movimento dela em favor ou contra cinemas deve seguir inconstante, mas pouco relevante no esquema maior das coisas. Pois o que importa pra ela não é o ingresso de um filme, por mais que ele venda… e sim quantas horas você vai assistir um conteúdo que ela vai te oferecer.

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