A entrada da Netflix em negociações exclusivas para comprar a Warner Bros. Discovery inaugura a etapa mais sensível do processo: a avaliação regulatória. Mesmo que as duas empresas cheguem a um acordo definitivo, nada entra em vigor até que órgãos como a Federal Trade Commission (FTC) e o Departamento de Justiça dos EUA analisem a operação.
Esse tipo de revisão costuma ser prolongado, especialmente quando envolve gigantes da tecnologia e do entretenimento, e pode se estender por mais de um ano. Os reguladores avaliarão se a fusão reduz a concorrência no mercado de filmes, séries, canais de TV e streaming, e se altera a estrutura de distribuição de conteúdo em escala global.
O potencial de concentração é o principal ponto de atenção. Se a compra for aprovada, a Netflix passaria a controlar a operação completa de cinema, TV e streaming da Warner, incluindo o estúdio Warner Bros., a HBO, o Max e franquias como DC, Harry Potter e Game of Thrones. Para sindicatos, produtores e parte da indústria, isso cria uma integração vertical poderosa: a mesma empresa produziria, distribuiria e exibiria parte significativa do entretenimento norte-americano. E essa é a principal diferença se pensarmos nos outros concorrentes, que apesar de ter parte dela cadeia, não teriam ela inteira como a Netflix.
A preocupação é que a Netflix possa priorizar seu próprio ecossistema, limitar o licenciamento para concorrentes, negociar em condições mais duras com talentos e, na prática, se tornar um acesso obrigatório para quem cria e consome audiovisual. Esse argumento sustenta a tese de que a fusão pode configurar um monopólio não apenas pela dimensão dos ativos envolvidos, mas pela combinação entre tecnologia, plataforma e estúdio tradicional.
Mesmo assim, a operação ainda tem vários caminhos possíveis. Reguladores podem aprovar o acordo integralmente, bloquear a fusão ou exigir mudanças estruturais, como a venda de canais lineares ou parte da divisão de notícias da Warner Bros. Discovery, para reduzir o alcance da integração. Há precedentes de fusões aprovadas com cortes desse tipo, e a complexidade da Warner indica que essa será uma possibilidade concreta.
O ponto central é que a disputa não termina com a oferta vencedora e as próximas etapas serão cruciais para entender este novo momento no mundo do entretenimento.