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Meu Nome Não é Johnny

Selton Mello em história real do traficante João Guilherme Estrella

03.01.2008, às 16H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H32

Enquanto Rodrigo Santoro é o nosso ator para exportação e o brasileiro mais conhecido em Hollywood, quem reina nos cinemas nacionais é Selton Mello. Seu nome no cartaz sempre gera, no mínimo, curiosidade. No caso de Meu Nome Não é Johnny (2008) rendeu, mesmo antes da estréia, várias matérias. Com 15 filmes no currículo, ele é hoje o ator que mais tem buscado algo novo, diferente, quando o assunto é "fazer cinema".

Meu nome não é johnny

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Meu nome não é johnny

E Meu Nome... parece que foi feito sob medida para o seu talento. É cômico, é dramático. Faz rir, mas também pensar. Seu personagem é real e se chama João Guilherme Estrella, o maior traficante de cocaína da alta roda carioca entre os anos 80 e 90. Filho de um diretor do extinto Banco Nacional, ele sempre foi criado com muita liberdade. Durante a Copa de 1970, chegou a soltar um morteiro dentro da sala de casa, quando Jairzinho marcou contra a Inglaterra. Mas apesar de poder fazer praticamente tudo o que queria, não era um moleque mimado. Quando quis uma prancha de surfe, o pai fez uma proposta: arranje metade do dinheiro, que eu pago o resto. E lá foi ele entregar jornal na região.

Foi com seus amigos surfistas que fumou maconha pela primeira vez, aos 14 anos, num misto de medo com necessidade de ser aceito no grupo. A mãe não aguentou quando o pai teve câncer e continou fumando e saiu de casa, o que só aumentou a liberdade do jovem João Guilherme. Daí para a realização de grandes festas em casa e a mudança da maconha para a cocaína foi um pulo. Mas um dia, quando dois amigos pularam para trás na hora de rachar a "brizola" (gíria para cocaína), ele conseguiu convencer o fornecedor a deixar a mercadoria em consignação durante o fim de semana, para receber o pagamento na segunda. E assim, cheirando e revendendo sempre o que havia de mais puro no mercado, ele se tornou o barão do ouro branco na Zona Sul do Rio de Janeiro, fornecendo para atores e diretores globais, socialites, músicos, etc.

Tudo isso está escrito nas páginas do livro homônimo, do jornalista Guilherme Fiuza, e que serviu de inspiração para a produtora/roteirista Mariza Leão e o diretor/roteirista Mauro Lima criarem seu filme. E vai além. João Guilherme, depois de levar sua mercadoria até para a Europa, foi preso, julgado e condenado. Deu a famosa volta por cima e hoje é empresário, produtor musical e compositor, prestes a aproveitar o filme para lançar seu primeiro CD.

Você pode achar que eu falei mais da trama do que deveria, mas a verdade é que o mais importante da história é a forma como ela aconteceu. É o jeito como as coisas rolaram, de uma forma inconseqüente e até mesmo orgânica - tudo muito bem retratado tanto no livro quanto no filme. Uma coisa foi levando à outra e quando João percebeu já estava nas manchetes dos jornais, sendo preso. No filme, mesmo com 128 minutos, o ritmo é tão intenso quanto a vida do protagonista. Seu jeito carismático, de bem com a vida e a certeza de que tudo ia dar certo o trouxeram até aqui, para dar um exemplo às futuras gerações. Pelo menos é isso que pensam os cineastas. Mas que exemplo é este que se dá bem vendendo e consumindo drogas? A mensagem deveria ser outra: a de que ele só conseguiu se safar porque deu muita sorte. Esta é a única diferença entre o João Guilherme Estrella e um João Ninguém.