Filmes

Entrevista

Martyrs | Diretores revelam inspiração em Spielberg e Malick para o terror

Kevin e Michael Goetz, que também são irmãos, conversaram com o Omelete

05.05.2016, às 17H16.
Atualizada em 04.11.2016, ÀS 05H02

Com base no cult francês homônimo de 2008, cultuado mundialmente como símbolo de renovação do gênero, o thriller Martyrs, dos irmãos Kevin Michael Goetz, chega hoje ao Brasil depois de ter sido aplaudido em festivais estrangeiros como o de Sitges, na Espanha, como sendo algo mais do que um remake competente e sim um espaço para discutir o lugar do medo no mundo contemporâneo. Com uma estética mais clipada do que a do filme original, o longa-metragem acompanha os esforços de duas amigas para se vingarem de clã de fanáticos para os quais o martírio físico é caminho para a transcendência espiritual. A inspiração em realizadores americanos revelados nos anos 1970, sobretudo Steven Spielberg e Terrence Malick, norteou os Goetz.

“Historicamente, Spielberg ensinou ao cinema que sugerir pode ser mais assustador do que escancarar: basta ver como ele apresenta a criatura de Turbarão, só insinuando a presença dele a partir da trilha sonora”, explica Michael Goetz, em entrevista ao Omelete. “Tentamos seguir este mesmo registro, mesmo nos momentos com mais sangue jorrando. Você nunca entende com clareza de onde está vindo o perigo ou como ele é. A incerteza amplia o susto”.

Egressos da direção do thriller A Rota de Colisão (2013), com Josh Duhamel, os Goetz usaram como referência visual o premiado Cinzas no Paraíso (1978), de Malick, a fim de buscar uma fotografia transcendental da Natureza.

“Precisávamos de uma estética que fosse além do tom sombrio habitual do filão horror, com ambientes belos o suficiente para que o espectador dispersasse seu olhar na paisagem, pois é dela que virá o medo. Isso valeu para a fotografia e para a direção de arte, na busca por uma casa que não parecesse, por fora, assustador. Era uma forma de valorizar o meio, a natureza, o cenário, tanto quanto as cenas de perseguição ou de tortura”, diz Kevin, que já está preparando com o irmão o próximo longa: um thriller sobre uma família em risco. “Nossa ideia de terror não se limita à trama. É preciso que a relação afetiva  entre os personagens despertem tanto interesse quanto as sequências de brutalidade. E estávamos fazendo um filme de baixíssimo orçamento. Filmes assim não se calçam em efeitos especiais: eles se calçam em movimentos de câmera, inventados no set. Baixo orçamento , no cinema, significa pouco tempo. É preciso pensar rápido e inventar”.

De acordo com a crítica americana, Martyrs é parte de um filão contemporâneo de filmes, entre os quais podem ser enquadraros Corrente do Malde David Robert Mitchell, Green Room, de Jermy Saulnier, que estão reciclando plasticamente à cartilha do horror.

“Crescemos alimentados pela estética do terror da década de 1980, que valorizava figuras monstruosas, como era o caso do Freddy Krueger do genial diretor Wes Craven”, diz Michael. “Mas hoje, em que vivemos tempos muito violento, nos quais a brutalidade ficou muito escancarada, é necessário buscar outro caminho: o do horror psicológico. Quanto mais tenso for o clima de paranoia, melhor o filme de terror vai funcionar”.