Filmes

Entrevista

Mais Forte Que o Mundo | "O filme fala de um herói nacional com destaque internacional", diz Afonso Poyart

Afonso Poyart, que já dirigiu Anthony Hopkins, fala sobre o desafio de realizar cenas de ação

20.06.2016, às 11H34.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 08H10

Maior promessa nacional na seara dos blockbusters nesta temporada repleta de super-heróis e dos demônios de Invocação do Mal 2, o drama esportivo Mais Forte Que o Mundo – A História de José Aldo estreia nesta quinta-feira em todo o país com poder de fogo para alçar seu realizador, o santista Afonso Poyart, ao Olimpo dos diretores brasileiros com mais de um milhão de ingressos vendidos no currículo. É o segundo lançamento dele este ano: antes veio Presságios de um Crimeum thriller rodado nos EUA com Anthony Hopkins e Colin Farell, que garantiu ao seu nome um espaço na lista de cineastas estrangeiros com potencial para brilhar em Hollywood. A expectativa em torno da cinebiografia do campeão de UFC José Aldo (vivido por José Loreto) é a de que o longa-metragem se torne uma exceção de sucesso numa seara onde a comédia é o produto número um do nosso cinema em termos de bilheteria, pelo apelo de suas cenas de ação – seara na qual Poyart vem se tornando um mestre.
Na entrevista a seguir, o diretor explica como é reproduzir na telona o impacto de uma luta no octágono, comenta o tabu de retratar a violência contra a mulher, na figura do pai de Aldo (interpretado por Jackson Antunes) e adianta detalhes de seus novos projetos, aqui e no exterior.

Omelete: Desde 2 Coelhos (2012), você ficou conhecido como um expert em cenas de ação, o que garantiu seu passaporte para filmar fora do Brasil. Como é a logística para se filmar uma cena de luta com realismo?

Afonso Poyart: As cenas de ação são as coisas mais complexas logisticamente, levando atenção todo o cronograma, que era apertado. Primeiro você precisa de alguns dias de filmagem para fazer duas ou três páginas de roteiro, dedicando um tempo de horas grande para a execução das cenas de ação. Eu, geralmente, costumo filmar com múltiplas câmeras, camerazinhas pequenas, câmeras escondidas... São, no mínimo, umas quatro para as cenas de ação, sendo duas principais, com lentes diferentes, uma no trilho, outra mais escondida, na mão, para dar texturas diferenciadas. Eu gosto ter mais de um corte que mudam a estética. É um trabalho de paciência. Há uma cena de briga numa lanchonete cuja filmagem a gente teve que fatiar em vários pedaços. E, às vezes, para filmar algum detalhe, como um soco, por exemplo, isso requer um shot especial.

Omelete: Mais do que uma cinebiografia, Mais Forte Que o Mundo é um filme sobre heroísmo. Qual é o desafio de falar sobre heróis nacionais em um momento de crise na nossa autoestima por conta dos recentes turbilhões políticos inerentes ao impeachment e à troca presidencial?

Poyart: O filme chega em um momento meio depressivo de nossa História. É difícil passar por um processo de impeachment. Não está fácil para nós. Mas o filme fala sobre um herói brasileiro, com destaque internacional, apesar de uma derrota recente. Ele não fala só sobre vitórias. Ele fala sobre um caminho de sucesso. E uma trajetória de sucesso é feito também de derrotas. Às vezes, o brasileiro se engana ao acreditar que o sucesso é feito só de uma sucessão imaculada de eventos bem-sucedidos. Não é.

Omelete: Você encarou um tabu social ao retratar a violência do pai de Aldo contra sua mulher. Como foi tratar essa questão, que é necessária, mas espinhosa?

Poyart: A violência contra a mulher é um tabu gigante e eu precisava ter o personagem do pai do Aldo com uma certa dualidade, sendo multidimensional. Ele tinha que ser um vilão mas também ter um carisma... uma parte boa. Era difícil para o filme demonizar ele completamente, assim como não podíamos santificar ele. Por isso, a escolha do Jackson, que é uma figura carismática, foi importante. Ele fez do pai do Aldo um cara que conta histórias, comovente de uma certa forma, que dá um contraponto para sua violência. Tentamos mostrar essa violência de forma mais estilizada. Há uma cena em que a mãe, vivida pela Claudia Ohana, está ensangüentada. Mas, fora isso, a questão da violência está dentro da lembrança dele.

Omelete: Quais são seus próximos projetos no Brasil e no exterior?

Poyart: Aqui no Brasil, estou desenvolvendo, com a Paris Filmes, a história do naufrágio do Bateau Mouche. Tenho também uma adaptação da HQ Doutrinador, sobre um justiceiro que mata políticos. Lá fora... eu tenho lido alguns roteiros e tem um projeto com a Sony para adaptar também uma história em quadrinhos. Tem um projeto meu, de ficção científica, chamado Próteses, sobre atletas paralímpicos, num futuro meio distópico, que gostaria de desenvolver para o Netflix. É isso.