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Filmes
Entrevista

Isabelle Huppert fala sobre Mais Forte Que Bombas e o novo filme de Paul Verhoeven

Atriz interpreta mãe de Jesse Eisenberg em drama que estreia nesta quinta no Brasil

RF
06.04.2016, às 18H24.
Atualizada em 05.11.2016, ÀS 18H59

Já anunciada como protagonista de Happy End, o novo projeto do oscarizado diretor austríaco Michael Haneke, centrado no drama de refugiados políticos, a francesa Isabelle Huppert completa em 2016 exatos 45 anos de carreira, aliás uma das prolíficas do cinema contemporâneo. Em cartaz no Brasil com a comédia Fique Comigo, ela tem outros sete longas-metragens para lançar este ano mundo afora. E o primeiro dessa fornada a aterrissar por aqui, com estreia nesta quinta-feira, é Mais Forte Que Bombas (Louder Than Bombs), um drama existencial de tintas políticas dirigido pelo norueguês Joachim Trier no qual interpreta a finada mãe de Jesse Eisenberg, o Lex Luthor de Batman vs. Superman: A Origem da Justiça. Ela interpreta uma fotógrafa de guerra cuja morte vai abalar sua família, primeiro pela saudade, depois, por segredos de seu passado capazes de comprometer sua imagem.

É muito comum vivermos uma fratura afetiva entre o lado profissional e o lado pessoal, familiar, pois conciliar nossa devoção a esses dois extremos nem sempre é fácil”, disse Huppert ao Omelete em entrevistas em Cannes e em Berlim, onde, em fevereiro deste ano, ela também promovia outro filme, L’Avenir, de Mia Hansen-Love. “No caso de Mais Forte Que Bombas, esse problema da cisão entre emprego e casa se agrava muito porque minha personagem, também chamada Isabelle, é uma fotógrafa de guerra que, em seu ofício, testemunha toda a brutalidade do mundo. Diante de todo o horror que ela flagra em suas fotos, ela começa a levar para a vida doméstica questões acerca do terror, da segurança, da injustiça. Isso fragmenta sua identidade. Isabelle por vezes é depressiva, noutras é bem maternal, e, em muitos casos, é ausente, alheia aos dramas de seus parentes. Alguém assim, tão multifacetada, não sabe mais quem é”.

Realizador do premiado Oslo, 31 de Agosto (2011), o cineasta Joachim Trier filmou com Isabelle em Nova York, em 2014, retratando sua personagem como uma espécie de fantasma. Revelações acerca dos feitos da fotógrafa vão assombrar a vida dos filhos (Eisenberg Devin Durand) e do marido (Gabriel Byrne) em uma trama na qual esse clã desestruturado tenta se manter unido enquanto finaliza o inventário de suas cicatrizes. A força dramática alcançada pelo elenco rendeu rasgados elogios a Mais Forte Que Bombas em sua passagem por Cannes, na disputa pela Palma de Ouro. 

O dilema que Isabelle representa é a dificuldade que todos temos para lidar com as diferenças de ritmo na maneira como nos dedicamos ao trabalho e na forma como nos dedicamos a nossos entes queridos, o que gera inconsistências e ruídos”, explica a atriz de 63 anos, cuja trajetória pelo audiovisual começou em 1971, como coadjuvante no telefilme Le Prussiende Jean L’Hote. “Um dos acertos da narrativa de Trier é a opção de retratar a minha personagem sob múltiplos pontos de vista: ambos os filhos e o marido trazem um olhar diferente sobre ela, o que nos dá uma visão fraturada de quem ela foi. O importante, seja na dor ou no carinho, é que ela é onipresente na memória de todos, mesmo morta”.

Segundo a atriz, o código central de Mais Forte Que Bombas é a busca de identidade. “Isso em quase uma metáfora da arte de atuar, sendo que eu, quando interpreto, tento sempre ser eu mesma a cada papel, para levar um pouco de mim”, explica Isabelle, que coleciona 63 troféus internacionais em sua estante, entre eles dois prêmios de melhor atriz em Cannes (por Violette, em 1978, e por A Professora de Piano, em 2011), e dois no Festival de Veneza, por Assunto de Mulheres, em 1988, e Mulheres Diabólicas, em 1995. “Filmar fica melhor quando somos levados a encarar o insólito”.

Na leva de longas nos quais Isabelle atuou nos últimos dois anos já estão prontos: o já citado L’Avenir (sobre uma professora de Filosofia às voltas com reviravoltas do amor), Valley of Love (no qual ela e Gérard Depardieu lidam com a morte de um filho); Souvenir (no qual vive uma cantora decadente); The Sleeping Shepherd (um thriller sobre roubo de obras de artes), Tout de suite maintenant (sobre intrigas empresariais) e o suspense Elleo esperadíssimo novo filme do diretor holandês Paul Verhoeven (de Instinto Selvagem). Este último projeto, cotado já como um possível concorrente à Palma de Ouro no 69º Festival de Cannes (11 a 22 de maio), é o que ela vem tratando com mais carinho. Aliás, ela e toda a imprensa europeia, por conta do boca a boca favorável com o qual o trailer da produção foi recebido.

Foi muito bom trabalhar com Verhoeven para conhecer a maneira dinâmica como ele conduz a câmera, buscando ritmo, mas sem tolher o ator. Depois de muito tempo no cinema, você pode cair fácil na tentação de deixar o diretor fazer tudo, para evitar riscos e se proteger. O bom diretor é aquele que nega essa proteção a você, com elegância, como forma de te provocar a criar junto. O bom cineasta é aquele que preserva a personalidade autoral de um ator, não importa em qual papel ele esteja. E Paul é desses”, elogia Isabelle. “Ele é um daqueles diretores com quem a gente espera trabalhar de novo logo. Cinema é uma língua de compreensão mundial, feito um Esperanto, que se inventa nos encontros entre os profissionais. O cinema nasce na ligeireza e no improviso dos sets. E estes ficam mais fortes quando criamos parcerias”.

Em Elle, sob a direção do realizador de sucessos como RoboCop – O Policial do Futuro (1987) e O Vingador do Futuro (1990), a atriz encarna a executiva de uma indústria de videogames cuja rotina muda depois que sua casa é invadida e ela é ameaçada pelo invasor, embarcando, em seguida, em um jogo de gato e rato para tentar capturá-lo.

Existem temas que ainda são tabus para o cinema, difíceis de serem apresentados na tela, sobretudo quando envolvem a condição feminina. Mas sempre que o cinema nos oferece uma personagem forte e complexa as barreiras morais são quebradas”, diz a atriz, que ainda este ano vai rodar Mr. Hyde ao lado do colega Depardieu. “Tudo ganha mais colorido no cinema quando operamos na chave da sutileza”.