Poucos personagens do terror moderno se tornaram tão icônicos quanto Ed e Lorraine Warren. Desde 2013, quando Invocação do Mal chegou aos cinemas, o casal de investigadores paranormais conquistou uma legião de fãs e deu origem a um dos universos mais lucrativos do gênero — com direito a spin-offs como Annabelle, A Freira e mais.
Agora, doze anos depois, Patrick Wilson se despede oficialmente do papel de Ed em Invocação do Mal 4: O Último Ritual. Na entrevista a seguir, obtida com exclusividade pelo Omelete, o ator relembra o começo dessa jornada, fala sobre sua parceria com Vera Farmiga e explica como foi trabalhar mais uma vez com o diretor Michael Chaves para encerrar essa história.
De galinhas em cena até conselhos da própria Lorraine Warren, Wilson compartilhou bastidores curiosos e reflexões pessoais que mostram o quanto esse personagem se tornou parte dele.
Em 19 de julho de 2013, Invocação do Mal estreava nos cinemas. Doze anos depois, você imaginava que essa jornada chegaria tão longe?
Patrick Wilson: Nem de perto. (risos) Mas com um asterisco: eu e o James [Wan] já sabíamos que, se acertássemos no primeiro, pelo menos teríamos um segundo. Agora, quatro filmes depois — sem contar os Annabelle e A Freira — e vendo o tamanho que o universo ficou? Não, isso eu nunca imaginei. Desde o começo, pela estrutura da história, parecia perfeito pra virar franquia. Em vez de seguir só uma vítima ou um vilão, acompanhamos uma família que vive altos e baixos, mas encara um novo caso a cada filme. É o sonho de qualquer produtor! E eu sabia que, nas mãos do James, a coisa teria futuro. Só não achei que seriam quatro filmes, muito menos dois dirigidos pelo Michael Chaves. Foi realmente uma bênção.
O James Wan e o Peter Safran são os grandes arquitetos desse universo. O que faz essa parceria funcionar tão bem?
Patrick Wilson: O Peter sempre teve esse lado de gestor, mas também é um cara criativo. E ele sempre acreditou no James. Depois de Jogos Mortais e Sobrenatural, o James basicamente redefiniu o terror. O Peter viu um diretor que respeitava muito o gênero, que sabia o que queria e entendia o público. E deu carta branca pra ele criar. Isso é tudo que um artista quer: um parceiro que confia na sua visão.
O James nunca falou: “quero fazer dez filmes e virar a maior franquia da história”, mas sim: “quero criar algo como O Exorcista, um terror atemporal que fale com todo mundo, não só com os fãs do gênero”. E o Peter comprou a ideia. Ele foi lá, brigou com o estúdio pra que os filmes fossem tratados como cinema de verdade — com tempo de filmagem, sets, design de produção. Isso fez toda a diferença. Na época, os filmes de terror ainda não recebiam esse tipo de respeito em Hollywood.
E no começo, o que te atraiu no Ed Warren como personagem?
Patrick Wilson: Antes de qualquer coisa, a química com a Vera [Farmiga]. A gente se entende, temos valores parecidos, principalmente quando o assunto é trabalho e família. Isso se refletiu no set desde o primeiro dia.
Sobre o Ed, o que me chamou atenção foi justamente essa fé inabalável dele. Eu adoro interpretar personagens firmes em suas crenças, até quando são muito diferentes das minhas. O Ed é esse cara devoto, que acredita de verdade no que faz e acaba sendo a rocha em meio a toda a loucura. Enquanto a Lorraine está em outro plano — literalmente —, ele mantém o pé no chão. Esse contraste entre os dois é muito bonito de explorar.
Você conheceu a Lorraine Warren de verdade. O que isso representou pra você?
Patrick Wilson: Foi muito especial. Nos dois primeiros filmes, a gente ia até a casa dela, passava um tempo com a Lorraine, com a Judy, com o Tony. Entrávamos na sala dos artefatos, brincávamos com as galinhas (sim, eles tinham galinhas em casa!) e sempre tinha um padre por lá.
Aliás, algumas coisas que vimos na casa acabaram indo pros filmes. Descobrimos que o Ed pintava, por exemplo, e começamos a colocar isso nos roteiros. E, claro, as galinhas. Desde o primeiro, o James falava: “precisamos ter galinhas!” (risos) Hoje elas já viraram tradição.
Mas o mais importante foi a visão da Lorraine sobre o sobrenatural. Uma vez, contei que duas pessoas diferentes ouviram vozes de crianças na minha casa, em momentos diferentes, e ela só respondeu: “Eles provavelmente só queriam brincar.” Isso mudou minha forma de ver as coisas. Desde então, quando alguém fala que ouviu algo estranho, eu penso: “Tá, mas por que isso precisa ser ruim?” Nem todo fantasma está ali pra assustar.
Em Invocação do Mal 4: O Último Ritual, os riscos são ainda maiores para Ed e Lorraine. O que você pode contar sobre o caso dos Smurl?
Patrick Wilson: Esse filme mostra os dois em um ponto da vida em que começam a pensar no que a filha, Judy, herdou deles. A saúde do Ed, que já estava abalada no terceiro filme, pesa ainda mais aqui. Mas, mesmo assim, ele não consegue largar os casos.
Só que dessa vez é diferente: o padre Gordon, que sempre trazia os casos pra eles, acaba envolvido de uma forma bem pessoal - e as coisas dão muito errado. Não é apenas uma família em perigo, mas várias. Isso aumenta bastante a pressão sobre os Warrens.
A Judy sempre esteve presente na franquia, mas aqui ela tem um papel bem maior. Além disso, conhecemos o Tony Spera pela primeira vez. Como foi trabalhar com a Mia Tomlinson e o Ben Hardy?
Patrick Wilson: Foi incrível. O filme explora muito as relações familiares: pai e genro, mãe e filha. É daí que vem parte do humor e também do coração da história. No fim, o que vemos é o amor entre a Judy e o Tony — e isso é tudo que os pais querem pros filhos.
A Mia tem esse lado artístico, meio excêntrico, muito parecido com a Vera. Já o Ben aproveitou muito bem a chance de definir quem é o Tony nesse universo. A relação dele com o Ed é cheia de choques de geração — afinal, estamos nos anos 80, com todo aquele peso de masculinidade e patriarcado. O Ed é um cara antiquado, e o Tony traz uma visão nova. Esse contraste rende momentos realistas e muito emocionantes.
E como é voltar a trabalhar com o Michael Chaves na direção?
Patrick Wilson: O Michael é pura paixão. Ele encena as cenas pra gente antes de filmar, entra de cabeça. É um diretor muito técnico, mas o diferencial dele é o amor pela franquia. Ele queria encerrar essa história de um jeito que honrasse tudo o que já foi feito. E acho que conseguiu encontrar formas criativas de dar esse fechamento. Quem viu o primeiro filme vai sair especialmente satisfeito.
Depois de tanto tempo vivendo o Ed, como é se despedir dele?
Patrick Wilson: É difícil, um misto de emoções. Eu ainda sinto que tenho muito pra oferecer como ator, então não é fácil deixar um personagem assim pra trás. O mais duro, na real, é pensar em não trabalhar de novo com a Vera daqui a um ano e meio, dois. Já virou costume: quando minhas costeletas começam a crescer, as pessoas na rua já sabem que vem um Invocação do Mal por aí. (risos)
Mas eu também sei que fechamos um ciclo. O Ed Warren que eu interpretei é parte de mim. Não sei o que vai acontecer daqui pra frente, mas tenho certeza de que ainda vou procurar algo pra fazer junto com a Vera.
Tudo sobre Invocação do Mal 4
O projeto marcará a despedida dos protagonistas Patrick Wilson e Vera Farmiga, que protagonizaram os três filmes anteriores da franquia na pele do casal Ed e Lorraine Warren.
Além da dupla, Ben Hardy e Mia Tomlinson também estão confirmados no elenco. Ed e Lorraine Warren, vale notar, são figuras reais que ficaram conhecidos por suas investigações de fenômenos paranormais nos anos 60 e 70.
Marcada como uma das sagas de terror mais bem sucedidas da última década, Invocação do Mal fortaleceu muito o nome de James Wan na indústria, que dirigiu os dois primeiros longas e produziu o terceiro. Wan, que já havia dirigido Jogos Mortais, veio a dirigir também Velozes & Furiosos 7, Aquaman, Maligno e Aquaman 2: O Reino Perdido.
Para o terceiro filme, Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio, Michael Chaves, que dirigiu os derivados A Maldição da Chorona e A Freira 2, assumiu a cadeira de diretor. Chaves também dirigirá Invocação do Mal 4: O Último Ritual.
Com orçamentos até curtos para os padrões da indústria (os dois primeiros longas custaram, respectivamente, US$ 20 e US$ 40 milhões), os filmes arrecadaram, juntos, quase um bilhão nas bilheterias.
O longa de 2013 fez US$ 319 milhões nas bilheterias, enquanto a sequência chegou a US$ 321 milhões. O terceiro filme acabou prejudicado pelo momento, em que as salas de cinema ainda se recuperavam da pandemia, mas conseguiu US$ 206 milhões.
O sucesso fez com que a franquia ganhasse diversos derivados, incluindo uma trilogia de filmes de Annabelle, dois A Freira e A Maldição da Chorona.
A estreia do novo longa-metragem nos cinemas está marcada para 4 de setembro.