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Esnobado no Grammy, k-pop tem chances reais de ganhar um Oscar

Maior hit do ano, “Golden” tem tudo para levar Guerreiras do K-Pop ao prêmio

5 min de leitura
20.08.2025, às 18H00.
Atualizada em 28.08.2025, ÀS 09H26

Vamos direto ao ponto: no momento em que escrevo este artigo, é difícil visualizar um mundo em que “Golden” não é indicada a Melhor Canção Original no Oscar 2026

Primeiro, porque o maior hit de Guerreiras do K-Pop, animação da Netflix que tem atravessado meses no topo dos rankings de mais vistos da plataforma, tem o endosso entusiástico do público (como demonstra o #1 nas paradas da Billboard) e a boa vontade da crítica (tanto o filme quanto a trilha podem se gabar de médias saudáveis nos sites de aglomeração de reviews). Segundo, porque a prevalência da música no imaginário popular basicamente garante que ela esteja no topo da mente dos votantes da Academia quando confrontados com a missão de dar seus votos para o Oscar - um processo que, para a categoria de Melhor Canção Original, começa já nos primeiros dias de dezembro.

Olhar para o histórico da categoria nos últimos anos é ver essa chance aumentando ainda mais. De Barbie (vencedor com “What Was I Made For?” e indicado com “I’m Just Ken”) à franquia Frozen (vencedor com “Let it Go” e indicado por “Into the Unknown”), passando por temas de 007 (os três últimos filmes da franquia faturaram a categoria), a Academia tem mostrado a tendência de premiar e indicar canções de pendor popular, e bom histórico nas paradas, para o Oscar de Canção Original. 

Também vencedores, RRR (com “Naatu Naatu”) e Emilia Pérez (com “El Mal”) mostraram que - como em outras categorias - a Academia tem se tornado mais receptiva a trabalhos musicais de artistas fora do eixo EUA-Reino Unido. Por fim, a Netflix tem encontrado com frequência considerável colocações em Canção Original, vide Emilia, Festival Eurovision da Canção, Os 7 de Chicago, A Balada de Buster Scruggs, Mudbound… a lista é longa.

Tudo isso conspira a favor de “Golden”, sem nem contar a vontade expressa da Academia de aumentar a audiência de sua transmissão ao vivo - e é bem mais fácil justificar uma performance das HUNTRIX no palco se a canção for indicada, afinal. Mas e a competição?

Bom, ao contrário do que acontece em Melhor Animação, categoria esvaziada de grandes concorrentes este ano (difícil enxergar algo além de Elio ou Ne Zha 2 competindo com Guerreiras do K-Pop aqui, e não são rivais muito fortes), Melhor Canção Original tem algumas perspectivas perigosas para “Golden”. Wicked: Parte 2 promete adicionar ao menos duas novas canções às que já existem no musical da Broadway, ambas escritas pelo compositor do original, Stephen Schwartz; a depender do quão forte Pecadores chegar à competição, as músicas originais cantadas durante o filme podem ganhar tração na categoria; e ainda tem Avatar: Fogo e Cinzas e Springsteen: Salve-Me do Desconhecido, que ainda não confirmaram canções originais na disputa, mas não podem ser descartados.

Se todas essas possibilidades se confirmarem e ganharem força na campanha, elas podem preencher as cinco vagas de Melhor Canção Original no Oscar 2026? Claro, é possível. Mas, como eu disse lá em cima: ainda é difícil visualizar um mundo em que isso acontece. No momento, o vento sopra a favor de “Golden”.

Ganhar a estatueta é outra história, é claro. As políticas da Academia são complexas, seja em seu abraço ambivalente de novas tendências, seja nos caminhos tortuosos da campanha. O quanto a Netflix está disposta a injetar, monetariamente, em Guerreiras do K-Pop? O quanto os votantes estão dispostos a endossar uma ideia tão contemporânea quanto a desse filme, que centraliza um grupo de k-pop através da colaboração entre artistas ocidentais e asiáticos? O quanto, enfim, o Oscar está a fim de coroar o k-pop?

Porque, de fato, um Oscar para “Golden” seria um Oscar para o k-pop - e um rápido olhar para os créditos é o bastante para entender isso. Ejae, voz de Rumi no filme, compõe a música ao lado de Mark Sonnenblick; e a produção é assinada por Teddy Park, 24, IDO e Ian Eisendrath. Nascida e criada em Seul, capital da Coreia do Sul, Ejae já escreveu para grupos de k-pop como Red Velvet, aespa, TWICE, NMIXX, Le Sserafim, Kep1er e KARD. Park foi por anos o principal produtor da YG Entertainment, uma das grandes gravadoras do ecossistema do k-pop, produzindo BLACKPINK, BIGBANG e 2NE1. Em 2016, fundou a The Black Label, casa de grupos e solistas como MEOVV, Jeon Somi, Taeyang e Allday Project. É da equipe sul-coreana da sua gravadora que ele pescou 24 e IDO, seus co-produtores em “Golden”.

Premiar artistas deste ecossistema, enfim, seria um movimento ousado do Oscar, mesmo com o sucesso incontestável da canção que seria contemplada. Para ter um termômetro do quanto, basta apontar que a Academia do cinema estaria reconhecendo uma tradição musical que a Academia da música ainda não reconheceu.

Ou, em linguagem mais simples: k-pop não tem Grammy. 

O BTS é, de fato, o único grupo sul-coreano que já foi indicado à premiação - cinco vezes, entre 2021 e 2023, sem nunca ganhar a estatueta. Não é curioso pensar que um prêmio de cinema pode muito bem ser o primeiro no Ocidente a endossar uma produção musical da Coreia do Sul?

Enfim, não é com frequência que o Oscar tem a oportunidade de se colocar na vanguarda dessa maneira. Será fascinante descobrir, nos próximos meses, se a instituição vai abraçar a chance, ou rejeitá-la mesmo com tantos ventos soprando a favor dela.

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