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Guerra Sem Cortes - Festival do Rio 2008

Brian De Palma não poupa ninguém em filme sobre a guerra

28.10.2007, às 22H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H30

Brian De Palma (Dália Negra) acredita que as imagens da Guerra do Iraque que chegam aos gordos e acolhedores lares dos estadunidenses não refletem a carniceria promovida por lá. Algo muito diferente da Guerra do Vietnã, por exemplo, quando os mortos eram mostrados, ensacados e enfileirados, aguardando retorno ao seu país (e gerando comoção nacional). Com essa maquiagem, tudo parece muito melhor do que realmente é: "A verdade é a primeira vítima da guerra", explica um dos personagens de Guerra Sem Cortes (Redacted), seu novo filme (a palavra do título original significa a censura oficial de informações de documentos antes de sua liberação).

Redacted

Redacted

Ao mesmo tempo, com a liberdade oferecida pela Internet, a tal da verdade está aí para quem quiser ver. Consciente disso, De Palma queria usar esse material real no filme, mas seus advogados o alertaram dos inevitáveis processos. Assim, ele optou por reencenar de maneira quase documental os vídeos-diários de soldados, circuitos de segurança, vídeos de guerrilheiros e terroristas, blogs de familiares de combatentes e telejornais, para contar uma horrorosa história verídica de guerra.

O perturbador drama começa com o chato cotidiano de um grupo de soldados que trabalha num posto de checagem em Mahmudiya, sul de Bagdá. Seu trabalho é revistar carros e pedestres que chegam ao bloqueio - e eventualmente abrir fogo sobre eles. "Esses sujeitos não entendem quando levantamos a mão para que eles parem, acham que estamos dando oi", garante outro fuzileiro.

De Palma não perde tempo aprofundando personagens ou tentando dar qualquer novidade a eles. São todos grandes clichês de filmes de guerra (o bobo, o valentão, o bom, o farrista, o nerd...). O passado dos soldados, afinal, não é importante. Seu "dever" fala muito mais alto. É irrelevante o que alguém que mata uma grávida prestes a dar à luz seu filho fazia antes de ir para a Guerra. São os militares, que garantem que o sujeito agiu certo e dentro de suas instruções, o problema.

E quando esse desrespeito pela humanidade é institucionalizado, não tarda para que ele escorra pelas bordas. Prova disso é a ocorrência de março de 2008, no Iraque, quando um grupo de soldados estuprou uma menina iraquiana. Quando acabaram, a mataram com um tiro no rosto, queimaram seu corpo e não deixaram ninguém de sua família vivo.

É justamente esse crime hediondo o tema de Redacted, produção que De Palma usa para chocar o público e tentar conscientizá-lo.

Muito distante da estilosa ficção policial que o consagrou, o filme se pauta na força das imagens cruas e mal-ajambradas, emulando amadorismo. Elas crescem como um bolo dentro do estômago... massa que fica prestes a estourar com as fotos verídicas (inclusiva a da menina estuprada) que ele mostra, nitidamente enojado com seu país e o mundo, ao final. Feito os soldados do posto de chegagem, De Palma não poupa ninguém.