Ícone da independência criativa no cinema americano, famoso por um humor sutil e abrasivo chamado de “razão cínica”, o diretor Hal Hartley (de Flerte) terá seus maiores cults projetados até o dia 4 de janeiro na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, que exibe na próxima terça-feira (dia 30), às 17h, a produção Ned Rifle. Coroado na Europa com elogios das mais prestigiadas revistas especializadas em crítica cinematográfica, o longa-metragem é o tomo final de uma trilogia formada por As Confissões de Henry Fool (1997) e Fay Grim (2006) e acompanha as angústias de um jovem destinado a matar o próprio pai. O projeto foi feito a partir de financiamento coletivo, saída que Hartley encontrou para filmar com liberdade.
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“Sou fã de diretores clássicos do faroeste como Howard Hawks e John Ford que conseguiu imprimir sua própria identidade criativa mesmo filmando sob ditames da indústria. Da mesma forma, aprendi dramaturgia com as peças de Molière, que, à sua época, desafiou convenções do teatro francês e tornou-se um sucesso sem perder a própria identidade. Hoje, a forma que temos de reproduzir o gesto desses grandes autores é buscar suporte nas redes sociais”, disse Hartley ao Omelete por email. “Tem gente nos EUA hoje que consegue levantar até US$ 5 milhões usando as ferramentas de crowdfunding a partir de boas ideias, de originalidade, da aposta em temas mais intimistas. Fiz Ned Rifle com US$ 390 mil que levantei por financiamento coletivo, a fim de preservar minha aposta na criação alternativa".
Consagrado a partir da década de 1990 com o êxito de Confiança em Sundance, Hartley é dono de um estilo palavroso, de timbres existenciais, influenciado por suas pesquisas acerca da precisão e da experimentação musical.
“Kevin Smith colocou nos agradecimentos de O Balconista: ‘Obrigado Hal Hal Hartley por mostrar o caminho’. Isso porque Hartley é, sem dúvida, um dos principais expoentes do cinema independente americano. Surgido em meio a diversos autores, entre eles Richard Linklater, Quentin Tarantino e Whit Stillman, ele se manteve fiel aos seus princípios e caminhou à margem de Hollywood por toda a carreira”, explica o crítico Leonardo Luiz Ferreira, curador da retrospectiva, que neste sábado (27), às 17h exibe um dos mais curiosos trabalhos do diretor: Beatrice e o Montro (2001). “Para não sofrer com controle de produtores e agentes, ele mesmo produz e coproduz os seus trabalhos. Dessa forma, pode ter controle total sobre a obra. Hartley se transformou num exemplo de independência numa indústria predatória como a de Hollywood. E, com isso, passou a influenciar uma geração de novos cineastas, que se inspiraram em seu conceito cinematográfico: baixo orçamento, atores desconhecidos do grande público e um roteiro enxuto e bem acabado. Hoje o cineasta abraçou as redes sociais, pois entendeu que o mercado de cinema se modernizou e o público busca informações através da internet. E promoveu financiamentos coletivos para produção de novos filmes e lançamentos em DVD/Bluray. Ou seja, um dos ícones do cinema independente americano continua pensando novas maneiras de se fazer cinema e indicando o caminho”.