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Festival de San Sebastián | Filme sobre refugiados em São Paulo gera debate no evento

Ator de Velho Chico encantou plateia espanhola

19.09.2016, às 13H13.
Atualizada em 06.11.2016, ÀS 08H01

Enfim chegou a vez do Brasil no 64º Festival de San Sebastián, causando um nó nas percepções políticas dos espanhóis sobre nossa realidade, com um drama de ritmo febril sobre a união de refugiados estrangeiros aos sem-teto locais em São Paulo: Era o Hotel Cambridge. Incluído na seleção Horizontes Latinos, a mesma que premiou e revelou ao mundo Lobo Atrás da Porta em 2013, o longa-metragem é dirigido por Eliane Caffé (Kenoma) como uma investigação narrativa sobre forma de resistência.

Na telona da Tabakalera, o maior centro cultural de San Sebastián, o desempenho do veterano ator paraibano José Dumont (o Zé Pirangueiro da novela Velho Chico) foi um ímã para risadas coletivas do público europeu, com suas músicas “de corno” e suas tiradas irônicas sobre os degredados ao seu redor numa hospedaria abandonada. A trama percorre os dias que os ocupantes têm antes da expropriação do prédio pelo governo. Ele vive Apolo, um artista sem teto, que usa a linguagem do teatro para mobilizar seus colegas e ainda prepara um blog.

Não fica claro aqui na Europa como países da América Latina se posicionam em relação ao drama dos refugiados, mas, neste filme, a gente entende um pouco a situação do Brasil como um porto de chegada”, dizia o produtor francês Bruno Clair, um dos espectadores, ao fim da projeção, com os olhos marejados pelo filme.

Escalado para concorrer no Festival do Rio (de 6 a 16 de outubro), Era o Hotel Cambridge se equilibra entre ficção e documentário, com imagens de arquivo e uso de chats via Skype. Ainda no elenco, majoritariamente desconhecido, destaca-se a atriz Suely Franco.

Nesta terça, chega a San Sebastián mais um longa-metragem de DNA brasileiro: a produção luso-mineira A Cidade Onde Envelheço, de Marília Rocha (de A Falta Que Me Faz). Escalado para concorrer no Festival de Brasília, nesta sexta, o filme narra um reencontro de duas amigas em Belo Horizonte.

E o Brasil também fala inglês em San Sebastián. Trazendo o ator hollywoodiano Greg Kinnear em seu elenco, o drama Little Men, de Ira Sachs, foi produzido pela RT Features (de Tim Maia Alemão), e tem fortes chances de ganhar o prêmio de público aqui na mostra Pérolas, onde concorrem medalhões da direção.

Na competição oficial do evento, a França segue imbatível com dois concorrentes de narrativa ousada: Orpheline, de Arnaud Des Pallières (já apelidado de obra-prima por alguns jornais da europa) e Nocuturama, de Bertrand Bonello, sendo ambos ligados a angústias juvenis. Des Pallières fala de práticas de violência contra mulheres, usando diferentes figuras femininas (algumas muito perigosas) como lados opostos de uma só pessoa. Já Bonello cria um jogral do terror, com rapazes e moças espalhando bombas por Paris. Mas um filme policial da Espanha, à la True Detective, chamado Que Dios Nos Perdone, de Rodrigo Sorogoyen, causou a melhor das impressões por aqui no domingo (18). O enredo acompanha a caça a um assassino e estuprador de velhinhas, empreendida por dois agentes da Lei muito atípicos: um detetive gago (António De La Torre) e um tira brucutu (o ótimo Roberto Álamo).

Virá da França, no dia 24, o longa de encerramento do festival: L’Odyssée, um drama sobre o mais pop dos oceanógrafos: o documentarista Jacques-Yves Cousteau, que ganhou a Palma de Ouro de Cannes e o Oscar com seus filmes sobre o mar.