Steve Carell chamou atenção no mundo do cinema em Todo Poderoso. Mais especificamente, na cena em que seu personagem, um âncora de telejornal que passa para trás o repórter vivido por Jim Carrey, começa a balbuciar frases sem sentido, dominado pela força divina do oponente. A cena é tão engraçada que, dizem as lendas hollywoodianas, foi diminuída a pedido de Carrey, que se sentiu ameaçado.
agente 86
86 e 99
Get Smart
Steve Carell
Lenda ou não, Carell logo estava num sem-fim de comédias, como O Âncora, O Virgem de 40 Anos, A Feiticeira, Pequena Miss Sunshine e na versão norte-americana da genial The Office. Agora, ele calça o sapatofone que foi de Don Adams na adaptação para as telonas da clássica série sessentista Agente 86.
Conversamos com o ator em duas ocasiões: Ainda dentro do set do filme (leia aqui nosso relato das filmagens), no ano passado, e no evento de imprensa que aconteceu há duas semanas em Los Angeles. Confira abaixo como foi o papo.
Como você se envolveu em Agente 86?
Steve Carell: Eu não fazia a menor idéia que o papel já era meu quando me chamaram para uma reunião na Warner Bros. Então levei meu currículo e foto, esperando um teste de elenco... Quando cheguei lá e os caras começaram a me falar em como estavam pensando o filme e como eles queriam que eu aceitasse o papel, tive que esconder o currículo nas costas de vergonha... Minha cabeça quase explodiu. Sou um grande fã da série e adorei fazer este filme.
O trabalho em Agente 86 foi um pouco mais cheio de tropeços e arranhões que o trabalho em The Office, não?
Ah, é muito parecido. Ahahaha. Sério, nunca pensei em um milhão de anos que teria um papel como esse. Foi muito insano e divertido. E o melhor, me colocou no caminho dos astros de ação. Meu próximo passo é começar a malhar para assumir esse novo aspecto da minha carreira.
Você se vê como o novo Schwarzenegger então?
Sem a menor dúvida. Eu acho que já assumi esse manto.
Eu li na Internet que você é o astro de Exterminador do Futuro 4.
Já até filmei. Rodamos tudo nos fins de semana, quando eu não estava trabalhando em The Office. Bom, mas falando sério... Fazer um filme de ação é tão divertido! Eu comentava isso com Anne [Hathaway] todos os dias. Foi mesmo muito, muito inusitado. Quando eles me falaram pela primeira vez do tom do filme, que seria uma espécie de Identidade Bourne cômico, eu topei na hora. Achei perfeita a idéia.
E você anda interpretando um monte de caras de terno... Todo Poderoso, The Office, A Lenda de Ron Burgundy, Agente 86...
Bom, antes de mais nada eu durmo de terno. É algo que eu faço. Tenho cerca de 90 ternos e é só isso que eu visto. Ehehehe. Não sei de onde veio isso. Acho que é da época que eu trabalhava no Daily Show no qual eu fazia um apresentador. Mas sei lá. Aparentemente as pessoas gostam de me ver de terno.
Você você compara o seu Max com o original?
O original é melhor. Nem tem como comparar.
Qual foi sua intenção com o personagem?
Posso te dizer o que eu não quis fazer. Eu não quis imitar Don Adams. Eu não quis copiar a interpretação dele, mas quis fazer justiça ao personagem. E também quis dar a ele um pouco mais de inteligência. Não queria que Maxwell Smart fosse um idiota. Ele não é o Inspetor Clousseau. Ele é eficiente e capaz de tomar conta de si. Ele é apto para o trabalho - Sempre dá um jeito de fazê-lo - ainda que seja o jeito dele. Na série original ele lutava e não era um idiota, mas certamente era excêntrico e muito certinho. A minha intenção foi explorar isso, fazer um cara que joga conforme as regras. Acho que isso é o que transformará o filme de uma sátira de espionagem em outra coisa.
Em quê?
Em uma comédia de espionagem. O original não era uma paródia da Guerra Fria, mas um comentário sobre esse conflito e as relações internacionais. Quisemos passar longe da paródia. Paródias são algo que já foi feito - e bem - no passado. E algo que não tinhamos o menor interesse em repetir. A comédia é mais engraçada quando há uma sensação de realidade, de ameaça, com caras malvados realmente malvados e não cartunescos.
O que você acha do filme como metáfora cômica para os problemas dos Estados Unidos?
Uma das melhores coisas de viver aqui é poder questionar com humor ou não o que se passa. Afinal, temos programas de TV como the Colbert Report e The Daily Show que constantemente fazem piada como nosso governo, nossa sociedade e nossos líderes. Isso ajuda a jogar alguma luz em certos problemas e é uma das coisas que tornam este país tão grande.
E como foi pra você equilibrar a ação com o humor?
Não é fácil, pelo tamanho da responsabilidade que a cena envolve. Tem tanta gente ao redor, preparando explosões, efeitos especiais, etc., que há uma certa pressão em acertar o tempo da comédia com o da ação em poucos takes. Sabe, você está ali cercado de caras que têm Oscars de fotografia, cenários e efeitos, gente que realmente merece ser chamada de artistas, que fica uma necessidade de acertar de primeira. Tentei fazer meu melhor, mas ao mesmo tempo sem me deixar dominar por essa tensão. É uma comédia afinal, é Agente 86! O resultado no set foi incrível. Todos os dias ríamos como criancinhas.
E você precisou se preparar fisicamente de alguma maneira?
Sim. Jiu-Jitsu durante 15 anos. Tae Kwon Do durante oito meses e musculação todos os dias, oito horas por dia. Francamente, eu me senti dividido nesse filme. Algumas coisas que fiz ali eu sabia que podiam me machucar feio, mas ao mesmo tempo eu ficaria completamente decepcionado comigo mesmo se não as fizesse. "Ok, me pendure no teto, me balance de um cabo e me estatele na lateral de um ônibus, tudo bem". Isso só me deu mais respeito ainda pelos dublês. Atuar em condições dessas é insano.
Eu vi você fazendo vários takes de uma mesma cena e mudando os diálogos a cada tentativa.
Sim, isso é para os extras do DVD, porque nada daquilo verá a luz do dia. Mas a gente inventa tanta besteira que acho que os caras vão precisar lançar um DVD quádruplo pra fazer caber tudo. Ah, é divertido. Nunca se sabe o que o diretor vai gostar e usar. Pete [Peter Segall] é muito paciente com esse tipo de interpretação e gosta de ter opções.
Anne disse que tem contrato para dois filmes. Você também está contratado para a continuação?
Eu tenho contrato para 14 filmes.
No set de filmagens eu vi um clipe que vocês fizeram para comemorar a metade do trabalho e notei você vestido com uma roupa de gordo. Como foi isso?
Ah, você viu, é? Eu ouvi dizer que você foi enxotado de lá. Não era para você ver aquele clipe ainda. Quanto você viu?
Vi o suficiente. Ehehehe. Pareceu divertido.
Ehehehe, certo. Aquela roupa de gordo é mais confortável do que parece. É toda feita de espuma, é gostoso vestir. Pior foi fazer o treinamento de obstáculos com ela... Mas acho que eles não queriam que você visse aquele vídeo porque era só interno nosso. Foi feito para uma festa e tem uns spoilers. Mas que bom que você achou engraçado.
Quando a gente ouve falar de um filme de Agente 86 imediatamente começamos a pensar em todos aqueles aparelhos incríveis...
Eu não posso falar nada sobre isso!
o Cone do Silêncio, o Sapatofone, essas coisas.
Não falo!
Mas Anne já me disse que o sapato está no filme
Ah, se ela disse, então tá. Tudo isso está no filme.
Você gosta de bugigangas na vida real?
Não. Pelo contrário. Eu não mando torpedos, não tenho um Blackberry. Só tenho um celular e olhe lá. Nem sei programar ele.
E seu sapato, você sabe programar?
O sapato foi uma grande sacada no filme. Os roteiristas tiveram uma ótima idéia de como incorporá-lo no mundo tecnológico de hoje.
Pra completar, como foi beijar Dwayne Johnson?
É tudo com o que você sonhou na vida. Sabe, vou te contar as três melhores coisas de fazer este filme. A primeira foi o bufê. Eles tinham lagosta à thermidor dia sim dia não. Depois foi o elenco, só pessoas adoráveis. A terceira foi dar uns malhos com Dwayne Johnson. Ele é um cara maravilhoso, doce, engraçado, tem a pele macia e seu cheiro é o de biscoitos que acabaram de sair do forno.
Ahahaahaha, sério... Esse dia, o do beijo, e o dia que eu chamo de "dia da bunda de fora" foram dois dias que eu esqueci que iam acontecer. Especialmente o dia da bunda de fora. Cheguei no set e foi um choque. Liguei pra minha esposa e disse "querida, tem tipo umas 500 pessoas aqui pra me ver pelado!". Sério. Eu tinha esquecido, mas aconteceu. E aí você chega lá, reúne toda a dignidade que ainda lhe resta e segue adiante.