Por fadiga mental ou por tédio apenas, decidi a certa altura que não ia mais tentar pensar. A overdose sem critério de sons e imagens amaciou meu raciocínio até o ponto em que a melhor coisa a fazer era deixar Resident Evil 3: A Extinção (Resident Evil: Extinction, 2007) passar na minha frente.
resident evil 3
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Resident Evil 3
Primeiro pensei que fosse a equalização do som na sala de cinema da Columbia Pictures, mas Érico Borgo me lembrou depois que o volume já era demasiado alto nos dois filmes anteriores da série. E fui sentar justo na poltrona da ponta esquerda - não que eu estivesse com o ouvido colado na caixa de som, mas essa mania de subir a música toda vez que o protagonista vira a cabeça para o lado, como se um susto esperasse a cada esquina, mesmo estando num deserto, definitivamente impediu que eu escutasse os meus próprios pensamentos.
Apesar da anestesia, da tarefa esgotante que é assistir a Resident Evil 3 com senso crítico dá para tirar algumas considerações, as mais evidentes:
Nem toda a poeira do Estado de Nevada consegue ressecar a pele de Milla Jovovich, que nos close-ups parece saída diretamente de Final Fantasy ou Amélie Poulain;
Combinar conceitos de Mad Max e Dia dos Mortos - notadamente, o deserto apocalíptico do primeiro e a ambição de domesticação dos zumbis do segundo - pode parecer uma heresia no papel, mas na tela dá até para digerir;
Las Vegas poderia ser melhor aproveitada - particularmente, a bem sacada metonímia da extinção mundial (em um só lugar, Las Vegas é a ruína de Paris, de Nova York, do Egito...);
Há arquétipos de filmes de zumbis que, mesmo incontornáveis, já viraram clichê. Resident Evil 3 não dispensa dois: o egoísta-otimista (que é infectado mas esconde de todos, irracionalmente esperando se salvar) e o altruísta-revanchista (que imediatamente depois de ser infectado abre mão da sua vida emplodindo-se junto com dezenas de mortos-vivos);
Quando você demora quase meia-hora para perceber que Jill Valentine (Sienna Guillory) não voltou do segundo filme, é que se dá conta que alguns personagens não fazem a menor falta mesmo. Se Milla Jovovich não voltar no quarto filme será igual - perna de fora é produto de consumo imediato;
O diretor Russell Mulcahy (O Sombra, Highlander), como todo egresso da indústria dos videoclipes, acredita que filmar uma cena de várias perspectivas diferentes vai lhe dar agilidade. Pode ser, mas agilidade não faz dela uma cena melhor. Mulcahy é só mais um que, não sabendo direito onde colocar a câmera, escolhe pôr em todos os lugares.
No futuro não haverá combustível, cigarros, nem comida, mas vai sobrar cosméticos. Ali Larter também está um pêssego;
Revoadas de corvos zumbis e poderes de telecinese salvam qualquer filme de ação.
Quando meu labirinto desinflamar e minhas pálpebras pararem de bater erraticamente, talvez dê para formular algo além desse Da Frigideira. O filme estréia nos EUA em 21 de setembro e no Brasil em 5 de outubro.