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Wrong | Crítica

Mais "tradicional", Quentin Dupieux segue fazendo nonsense para inverter as expectativas do espectador

01.08.2013, às 20H00.

Talvez não pareça, mas fazer nonsense, dedicar-se ao nonsense, exige obstinação e algum rigor. Particularmente o tipo que o diretor parisiense Quentin Dupieux exercita em seus filmes, em que o nonsense, enquanto sinônimo de absurdo, é organizado como provocação contra as expectativas do espectador.

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Diferente de Rubber (2010), o filme mais conhecido de Dupieux, que desafia a relação público-filme de forma geral e literal (pessoas são coagidas em cena a assistir à história de um pneu), Wrong pega um pouco mais leve na metalinguagem e tem uma narrativa mais "tradicional": seguimos o arco dramático de Dolph Springer (Jack Plotnick), que acorda uma manhã e descobre que o seu cachorro Paul desapareceu.

Como o próprio nome diz, Wrong ironiza esse desvio "errado" de comportamento da vida moderna - o apego que as pessoas têm mais com bichos do que com gente - ao inverter o sentido de tudo o que se passa ao redor de Dolph. O jardineiro não é mexicano, mas francês; na agência de turismo só chove dentro do escritório; o bombeiro ignora um incêndio, assistido por policiais (um vislumbre particular do que Dupieux reserva para seu próximo filme, o potencialmente hilariante Wrong Cops). Por extensão, portanto, o amor de Dolph por Paul também se torna uma aberração.

Para quem se irrita com as lições de vida formulaicas, banhadas de luz natural, dos filmes indie americanos sobre losers semiautistas transformados em heróis do dia a dia, Wrong é perversamente gratificante, com suas falsas redenções e seus personagens estupidamente pró-ativos e determinados (o detetive vivido por Steve Little é o melhor, porque o ator de Eastbound & Down provavelmente nunca vai aprender a atuar e isso só torna seu papel mais patético).

Se o fôlego de Wrong diminui bem antes do fim do filme (como Rubber também murchava com o tempo) é porque talvez falte a Dupieux a tal obstinação de sustentar seu arranjo por mais de 80 ou 90 minutos. Ademais, a premissa de Wrong pode parecer despótica para muitos (que tipo de monstro não gosta de cães?), mas o nonsense não deixa de ser - com seu convite às arbitrariedades - uma forma de despotismo.

Wrong | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Bom