Filmes

Crítica

Vizinhos | Crítica

Seth Rogen contra Zac Efron em comédia avessa ao compromisso

18.06.2014, às 19H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 15H20

Já faz anos que Seth Rogen, Jonah Hill e Cia. constróem comédias a partir da piada de que algum executivo, em Hollywood, achou uma boa ideia dar a eles o dinheiro para que esses filmes acontecessem. Não importa se os sucessos se acumulam ou se o "sistema" já os absorveu - eles são os eternos marginais, fazendo graça com a "pureza" da sua brodagem e com os clichês do cinema de gênero em filmes como o recente É o Fim, os dois Anjos da Lei e agora Vizinhos (Neighbors).

vizinhos

vizinhos

Acompanhado de Zac Efron (que prontamente ironiza seu estereótipo de bofe) e substituindo James Franco pelo caçula Dave Franco, Rogen aqui parte para o típico filme de duelo entre vizinhos, que toda geração de comediantes uma hora aborda (Walter Matthau contra Jack Lemmon, John Belushi contra Dan Aykroyd, Ben Stiller contra a velhinha de Duplex...). Na trama, Rogen e Rose Byrne querem ser pais descolados para sua filha recém-nascida, mas quando uma fraternidade de faculdade se muda para a casa do lado, o casal não aguenta a pressão da balada 24 horas por dia.

O descompromisso de quem continua descrente com a liberdade criativa que desfruta é, ao mesmo tempo, a vantagem e o problema que Rogen e o diretor Nicholas Stoller encaram aqui. Vantagem porque essa liberdade é efetivamente desfrutada: nada os impede de fazer graça com leite materno empedrado, depilação masculina, ou com personalidades tão diversas quanto Barack Obama e J.J. Abrams. Quem se crê marginal tem, afinal, licença para zoar o establishment; não por acaso, Stoller é roteirista dos dois filmes recentes dos Muppets, que também se enchem de referências cinefílicas e piadas sobre sua condição de "filme-azarão".

Em Vizinhos a piada é quase sempre satírica ou autorreferente. Então fica a impressão de que o casal e os universitários estão mais encenando um filme-de-vizinhos do que de fato vivendo um; Rogen e Rose, aliás, estão a todo tempo tentando projetar uma imagem de si mesmos e tentando antever como os jovens vão reagir. Só faltava ter uma cena em que os dois assistem a comédias como Estranhos Vizinhos (1981) para tirar ideias de contra-ataque, espectadores da sua própria história.

O custo disso - e que potencialmente pode virar um problema, especialmente para quem não curte esse tipo de humor de referências - é que todo o resto é comicamente descompromissado. O bromance enquanto epidemia: o casal não consegue ficar cinco minutos brigado, tudo se resolve na conversa no conforto da cama, como naquele final de Superbad, e até o atleta bully é compreensivo com os amigos que zoa. Ao mesmo tempo, é um bromance irônico: Franco e Efron sabem como é efêmero o amor entre os chefes da fraternidade.

Da minha parte, só consigo invejar a juventude dessas comédias feitas sob medida para os millennials, cujo único compromisso firmado, no fim, é com a piada em si.

Vizinhos | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Ótimo