Filmes

Crítica

Vita & Virginia

Longa sobre relacionamento entre Virginia Woolf e Vita Sackville-West é tentativa desastrosa de explorar a intimidade da escritora

20.09.2018, às 15H58.
Atualizada em 10.01.2019, ÀS 23H32

Todo gênio desperta curiosidade: o que o diferencia do resto dos mortais? O questionamento justifica uma investigação minuciosa, inclusive da intimidade de todo aquele que alcançou grandes feitos. Com quem se relacionou? Quais as suas falhas? Tudo para entender como um ser humano pode alcançar mais que os demais, seja artística, política ou cientificamente. Virginia Woolf é um caso que desperta esse tipo de voyeurismo intelectual. Vita & Virginia, por sua vez,  é uma dessas buscas por respostas, uma tentativa de mergulhar na intimidade da escritora.

A base do filme de Chanya Button é a peça escrita por ela e Eileen Atkins, inspirada nas cartas trocadas entre Virginia Woolf e a escritora/socialite Vita Sackville-West - as duas mantiveram um romance que culminou na criação de Orlando: Uma Biografia, publicado por Woolf em 1928. O fato de ser desenvolvida para o teatro explica parte da falta de apelo cinematográfico da adaptação. Button opta por diálogos artificiais, uma composição de cena quase sempre estática e recursos estéticos/narrativos que podem ser interessantes no palco, mas na tela têm resultados questionáveis.

A leitura das cartas, por exemplo, coloca as personagens ditando as palavras para a câmera. O foco ora está nos lábios, ora nos olhos, na intenção de possivelmente registrar a mudança de tom no relacionamento. O resultado, porém, é tedioso. As palavras saem sem qualquer significado e a imagem em parte desfocada parece um erro, não uma opção estética. A falta de química entre Elizabeth Debicki (Virginia) e Gemma Arterton (Vita) agrava ainda mais o quadro. A amizade, a troca entre duas mulheres revolucionárias ou o amor e a volúpia proibida entre as duas fica apenas nas linhas da sinopse.

Não que as duas atrizes não se esforcem, mas a artificialidade do filme torna as duas representações massantes. Diálogos enfadonhos só aumentam essa sensação, criando um retrato fantasioso e por vezes fetichista do relacionamento. Vita e Virginia são transformadas em caricaturas, despidas de qualquer contato com a realidade.

A trilha sonora coroa a intenção de escancarar a modernidade da relação entre as duas, mas torna tudo ainda mais vazio. O tema eletrônico é repetido constantemente na pretensão de recriar o anacronismo de filmes como Moulin Rouge e Maria Antonieta. Mais uma vez, o filme falha em concretizar as suas intenções, deixando apenas a lembrança irritante de cada vez que o tema musical é repetido (o que acontece inúmeras vezes).

Entre tantos artifícios, Vita & Virginia é incapaz de verdadeiramente explorar a intimidade das suas personagens-título. Se a linguagem escolhida por Chanya Button funcionou nos palcos, certamente falhou na sua transposição para o cinema. A leitura de Orlando: Uma Biografia ou até da sua página na Wikipédia faz mais pelo admirador curioso do que o filme sobre essa relação.

Nota do Crítico
Ruim