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Vida | Crítica

Filme tenta reciclar o que há de melhor em longas espaciais, mas não empolga

19.04.2017, às 18H00.
Atualizada em 20.04.2017, ÀS 12H26
Daniel Espinosa (Crimes OcultosProtegendo o Inimigo) resolveu dar um tempo em suas histórias policiais e embarcar rumo ao espaço com um time de seis astronautas vividos por Jake GyllenhaalRebecca FergusonRyan ReynoldsHiroyuki SanadaAriyon Bakare e Olga DihovichnayaVida, mais recente filme de terror do diretor sueco, narra a descoberta de vida em Marte, mostrando desde a euforia inicial de ver um novo capítulo da história da humanidade sendo escrita até o desespero por conta das coisas não acontecerem como esperado. Com uma premissa já bastante explorada, não é surpreendente que o filme se construa com base em referências cinematográficas - o longa parece uma colcha de retalhos de vários outras produções espaciais.
 
Grande protagonista do longa, o alien Calvin - que recebe o nome em um batizado gigantesco na Times Square - começa como uma criatura promissora. Como o personagem Hugh Derry (Bakare) pontua em uma das cenas, o ser é formado por células que são ao mesmo tempo olho, músculo e cérebro. Começando como uma estrutura mitocondrial fortificada e evoluindo rapidamente até se tornar uma espécie de ameba assassina que cresce fagocitando matéria orgânica, o estágio evolutivo final do alienígena decepciona por ser o clichê do que se espera de ETs em filmes de terror: uns tentáculos de um lado, algo de pegajoso, uma cabeça insectóide e, voilà, temos um ser do espaço.
 
Sobre a tripulação, vale dizer que as cenas focadas no desenvolvimento da personalidade dos personagens são insignificantes. Em dado momento, temos o dr. David Jordan (Gyllenhaal) divagando sobre estar muito tempo no espaço e sobre não querer voltar por não se sentir em casa na Terra. O personagem de Hiroyuki Sanada aparece em uma passagem comemorando ter se tornado pai, o de Bakare fala sobre a gravidade zero ter sido uma espécie de libertação para sua paraplegia. Nada disso é fundamental para a história, com uma leve exceção para a situação de Gyllenhaal, que posteriormente usa seu senso de pertencimento espacial para justificar algumas de suas ações na trama.
 
Apesar disso, a superficialidade dos seis tripulantes é justificável: nenhum deles está ali para alimentar o apego dos espectadores, visto que a narrativa do filme se desenrola nos moldes de uma versão espacial de filmes como Pânico. Aliás, falando em outros filmes, é importante pontuar que não há absolutamente nada de inédito em Vida. Uma fotografia incrível do espaço já foi vista em Gravidade, um grupo de astronautas lutando contra um invasor alienígena já foi visto em Alien - O Oitavo Passageiro e o Ryan Reynolds interpretando ele mesmo também já foi visto em algumas comédias românticas e filmes de super-herói.
 
Curiosamente, o filme sobre a descoberta da vida em outro planeta se torna um longa sobre os sacrifícios que o ser humano é capaz de fazer em nome do instinto de preservação da vida na Terra. Para quem nunca viu o clássico de Ridley Scott do fim da década de 1970, a produção pode ser interessante, mas, mesmo assim, falta algo de complexidade na trama que permita ao espectador sentir-se minimamente desafiado intelectualmente na cadeira do cinema. A premissa é fraca, a história é óbvia e, para enumerar algo de realmente positivo no longa, o visual é bastante caprichado. Verdade seja dita, o filme em momento nenhum aparenta ter a pretensão de ser mais do que apenas divertido e cumpre essa missão - mas, levando em conta as fontes nas quais ele bebe, poderia ter alcançado um resultado final muito maior.
Nota do Crítico
Regular