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Crítica

Velozes e Furiosos | Crítica

Velozes, chatos, mancos e furiosos

27.09.2001, às 00H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H47

Garotas histéricas, motores em alta rotação, pilotos em alerta. No volante, impulsionado pela adrenalina e consciente da iminência de um desastre catastrófico, o mocinho aguarda o sinal da partida. Um dos momentos antológicos do cinema, a cena do racha de "Juventude Transviada" (1955) continua jovem por simbolizar os anseios libertários dos adolescentes. Mas os carros, bem, não são mais os mesmos. Hoje em dia, qualquer motor minimamente turbinado deixaria James Dean (1931-1955) comendo fumaça.

O ator Paul Walker, protagonista de "Velozes e Furiosos" ("The Fast and The Furious", 2001), não tem nem um décimo do carisma do ídolo imortal. O seu filme, por sua vez, carece da mensagem social pungente e do brilho de "Juventude Transviada". Mas não se pode dizer que suas corridas deixem a desejar. Dirigido por Rob Cohen, de "Daylight" (1996), o filme exibe um desfile de Hondas, Mitsubishis e Toyotas, invariavelmente no limite da velocidade, aos duzentos e tantos por hora. A isso o filme se limita: o ritmo alucinante. Em muitos, pode causar enxaqueca crônica. Outros tantos podem se divertir com a velocidade.

Nesse cenário, não valeria a pena perder tempo com o roteiro, um amontoado de clichês, mas só para constar... Disfarçado de piloto, o agente federal Brian OConner (Walker) se infiltra no mundo das corridas ilegais para desmascarar uma quadrilha motorizada de traficantes. Depois de uma noite de rachas mal-sucedida, OConner salva o piloto Dominic Toretto (Vin Diesel) da blitz policial. Começa, então, uma amizade propícia para os objetivos do agente. Chefe de um bando de corredores, Toretto comanda, também, todo o submundo dos rachas.

À maneira do despretensioso "Caçadores de Emoção" (1991), em que o policial vivido por Keanu Reeves se deixa seduzir por surfistas e paraquedistas criminosos, o atrativo das altas rotações também desvirtua a missão de OConner. Em meio a mulheres, música e emoções, o policial se envolve com a irmã de Toretto, Mia (a panamenha Jordana Brewster, filha de mãe brasileira e pai ianque). Enquanto isso, paralelamente às corridas, a quadrilha de traficantes continua na ativa.

Se "Caçadores de Emoção" não merecia muito respeito, "Velozes e Furiosos" abusa de qualquer benevolência. No primeiro, Patrick Swayze tinha como álibi para a carreira criminosa a paixão pela adrenalina, o céu e o mar. Aqui, Vin Diesel assume o pior dos chavões para justificar a personalidade de seu personagem, o fodão das ruas. Seu pai morrera nas pistas de corrida de forma trágica, em frente ao garoto. "Eu ouvia um grito naquele instante da batida. Mas o carro já havia explodido. O grito era meu".

A sequência de pataquadas se completa com estereótipos de vários tipos. O garoto nerd/mecânico que idolatra o grande corredor. Os orientais malvados com suas motos Kawasakis. Os rappers maneiros. Os chicanos metidos a maneiros. E, claro, os agentes decadentes do FBI que sempre perdem o bonde da história. "Velozes e Furiosos" valeria a pena pelos momentos de velocidade, se o resto do filme não fosse tão deprimente. Com atuações mancas e obviedades do roteiro, torna-se até um sacrilégio compará-lo com "Juventude Transviada". Mas um provérbio popular no meio cultural diz que a existência de coisas medíocres é extremamente necessária. Sem elas não saberíamos dizer o que é realmente bom.

 

Nota do Crítico
Regular