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Com o sucesso avassalador das produções animadas desenvolvidas através de computação gráfica, os filmes de médio orçamento do gênero não demoraram a aparecer. Não por acaso, os próprios responsáveis pelos campeões de bilheteria também investem seu conhecimento - e dinheiro - nessa nova safra, mais barata, de animações.
Com um orçamento de 40 milhões de dólares (enorme para os padrões brasileiros, mas apenas mediano aos olhos de Hollywood), o curto Valiant - com apenas 76 minutos - foi co-produzido por John H. Williams, o produtor de Shrek, e levou dois anos para ser feito por uma equipe de 170 animadores.
O resultado decepcionou nas bilheterias estadunidenses, mas o filme não é ruim, apenas - como o seu orçamento - menor. É uma história boa, porém simples, sem grandes reviravoltas, tensões ou potencial marqueteiro. Ou seja: sem bonecos, lancheiras e promoções em cadeias de fast food.
A trama é baseado em uma história real da Segunda Guerra Mundial. No conflito, os britânicos usavam pombos treinados para manter contato com a resistência francesa. As aves, porém, eram caçadas por falcões dos nazistas. Valiant conta a história a partir do ponto de vista das aves.
O pequeno pombo inglês Valiant (valente, em inglês - voz de Ewan McGregor no original) sonha em integrar o correio aéreo real e se juntar aos penosos que levam mensagens aos territórios ocupados pelos nazistas. Destemido, é aceito nas fileiras dos heróicos pombos depois que esquadrões inteiros dos animais são atacados e destruídos pelo grupo do Barão Von Falcão (Tim Curry), uma ave nazista que caça os mensageiros alados ao longo do Canal da Mancha. Ao concluir seu treinamento, no entanto, Valiant enfrenta logo de início uma missão tão perigosa e importante que poderá ajudar a definir os rumos da Segunda Guerra.
O insucesso do filme nos cinemas dos Estados Unidos pode ser facilmente explicado... uma história para crianças estrelada por heróis britânicos e que requer certo grau de conhecimento sobre o maior conflito da história da humanidade não é exatamente uma mina de ouro num país que refilma boas histórias criadas na terra da rainha (a excelente telessérie The office, por exemplo). O humor britânico também é muito diferente do hollywoodiano e, apesar de pouco presente na animação, é suficientemente sutil para passar despercebido aos olhos ianques. Valiant até faz um esforcinho para colocar alguma piadinhas escatológicas na história (provavelmente uma concessão do diretor Gary Chapman aos produtores), mas elas não são suficientemente freqüentes para manter a molecada interessada. Afinal, trata-se de um filme que se passa na Segunda Guerra Mundial e isso, para quem acha que Buenos Aires é a capital do Brasil, deve parecer trabalho chato de História, não diversão de fim de semana.
Além da história bacana - um Band of Brothers aviário -, o design também é particularmente interessante. O contraste da Inglaterra livre com a França ocupada pelos nazistas e o quartel general dos falcões (um bunker sob um canhão que faz parte da impenetrável Muralha do Atlântico) é bem trabalhado, assim como o desenho dos personagens principais. A suástica nazista não aparece em lugar algum, provavelmente por ser um símbolo considerado forte demais para um filme infantil, mas eles não são necessários para o entendimento de quem são aquelas aves ameaçadoras. A roupa engomadinha já dá o tom (e algumas das piadas mais divertidas da aventura, como a preferência de um dos nazis por capas cor-de-rosa).
Com sua boa recriação da Europa do início da década de 1940, desenhos caprichados e respeito pela inteligência alheia, não troco esses pombos por galinho nenhum.